Agora que se concretiza a imunização contra a COVID-19 no Brasil a questão deixa de ser a eficácia das vacinas – aprovada pela Anvisa por unanimidade – e passou a ser sua distribuição
As vacinas contra a COVID-19 foram ficando mais próximas da realidade da população mundial desde novembro do ano passado. Desenvolvidas em tempo recorde, a fase 3 dos testes mostrou que as vacinas dos principais laboratórios desenvolvedores são seguras, e as aprovações junto aos órgãos reguladores foram acontecendo. Tanto que em dezembro passado já vimos a vacinação em massa acontecer em diversos países. Neste domingo, dia 17 de janeiro, foi a vez do Brasil de ter a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso emergencial das vacinas CoronaVac e AstraZeneca. A partir de hoje, dia 18, o país caminha para a distribuição das imunizações a todos os estados, com desafios de infraestrutura e distribuição.
O médico infectologista Jaime Rocha, diretor de Prevenção e Promoção à Saúde da Unimed Curitiba e responsável pela Unimed Laboratório, destaca que para todas as vacinas, e não somente a contra o novo coronavírus, existe algo crucial para sua conservação: sua sensibilidade a variações de temperatura. “De modo geral, se não conservadas entre 2°C e 8°C podem perder sua eficácia. No caso da vacina contra a COVID-19, são temperaturas ainda mais baixas. E esse processo bastante frágil deve ser mantido da fabricação até a aplicação, e recebe o nome de cadeia de frio”, explica. Tanto que o Ministério da Saúde (MS), por meio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), publicou em 2013 uma versão do Manual de Rede de Frio. Além deste, também são usados os manuais da Austrália, Inglaterra, Nova Zelândia e do CDC, com o objetivo de fortalecer as boas práticas em imunizações.
O que é
A cadeia de frio abrange todo o processo desde a criação e produção, passando pelo armazenamento, até chegar no transporte das vacinas, preservando a refrigeração e garantindo todas as condições para sua conservação. É composta, normalmente, por diversos elos como: uma equipe especializada em laboratório, refrigeradores e salas de vacinas, centrais de armazenamento e transporte. “Cada participante dessa rede deve garantir que as vacinas nunca sejam expostas a temperaturas fora da faixa estabelecida”, indica o infectologista.
Dificuldades
Manter a temperatura das vacinas durante o transporte é um dos principais pontos de atenção para a conservação, especialmente em um país com as proporções continentais do Brasil. “Sempre foi um processo delicado e de atenção, e agora com as vacinas contra o novo coronavírus, a cadeia do frio e suas exigências voltam a estar em evidência. A vacina da Pfizer, por exemplo, precisa ser armazenada a -70°C, o que dificulta a sua utilização em nosso país devido à pouca disponibilidade de equipamentos adequados para essa temperatura. Temos um sistema de vacinação pública excelente, mas também temos desafios de logística que a refrigeração impõe, de infraestrutura para as aplicações, e qualidade do armazenamento. Estas serão tarefas complexas para 2021, mas possíveis, pois as vacinas aprovadas no Brasil, além de terem se mostrado seguras e eficazes, não precisam desta temperatura tão baixa e são adequadas à nossa estrutura”, afirma Jaime Rocha.
Principais Cuidados
O médico infectologista responsável pela Unimed Laboratório listou cuidados importantes com a cadeia de frio. São eles:
– Monitorar temperaturas máxima, mínima, e do momento, durante 24 horas ininterruptamente;
– Usar refrigeradores adequados para armazenamento exclusivo de vacinas. Não é permitido, por exemplo, usar um frigobar, e nem armazenar as vacinas na porta do refrigerador;
– Ter termômetros digitais de fácil visualização em todos os refrigeradores e caixas térmicas;
– Caixas térmicas devem ser utilizadas para transporte de vacinas e estarem em perfeito estado, sem rachaduras e com a correta vedação;
– Imprescindível ter um plano de contingência pronto para ser aplicado no caso de eventuais problemas com equipamentos ou queda de energia. (nqm)