Um estudo analisou por que algumas pessoas parecem nunca ganhar peso, independentemente de sua dieta.
Se você é do grupo dos magrinhos, já deve ter se questionado porque come à vontade e não engorda – o que ser motivo de inveja para outras pessoas. Mas por que isso ocorre? Em um estudo publicado no jornal PLOS Genetics, pesquisadores universitários do Reino Unido compararam o DNA de 1.622 voluntários magros, 1.985 pessoas gravemente obesas e um grupo de controle de peso normal de 10.433. Eles descobriram que pessoas magras têm a genética do seu lado. “Usando dados de genótipo de todo o genoma, o estudo mostrou que a magreza saudável persistente, semelhante à obesidade severa, é uma característica hereditária”, explica o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral da Multigene, laboratório especializado em análise genética e exames de genotipagem. Mas de acordo com o geneticista, um detalhe precisa ficar claro: todos nós somos resultados da interação dos nossos genes com fatores ambientais. “O nosso estilo de vida, nossa alimentação, nível de atividade física e nível de estresse modulam a nossa suscetibilidade genética e a maioria das doenças degenerativas crônicas. Portanto, ninguém nasce pré-determinado a desenvolver qualquer doença ou condição crônica que se apresenta ao longo da vida. Nascemos, sim, com suscetibilidades diferentes. Entretanto, qualquer suscetibilidade genética pode ser amenizada com hábitos saudáveis, principalmente uma alimentação adequada e personalizada com base no nosso Genótipo, que permite uma melhor estimativa das nossas necessidades individuais”, afirma o geneticista.
Segundo a nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), os testes genéticos são cada vez mais importantes, pois podem, a partir das análises específicas, identificar características individuais e tendências ou predisposição para o desenvolvimento de doenças metabólicas, além da sensibilidade e da tolerância a macronutrientes e micronutrientes. “Com os resultados é possível traçar estratégias terapêuticas que incluem dieta, prescrição de suplementos e medicamentos com objetivo de evitar que os polimorfismos genéticos (variações na sequência de DNA) sejam expressos”, afirma a médica.
O que o estudo encontrou?
Os participantes estudados para sua magreza deveriam ter um índice de massa corporal (IMC) inferior a 18, estar em boa saúde e não ter problemas médicos ou distúrbios alimentares. Os pesquisadores coletaram amostras de saliva para análise de DNA. Os participantes foram questionados sobre sua saúde geral e estilo de vida. “A genética desempenha um papel importante na determinação do peso de alguém, mas as pessoas não podem pensar que esse é o único fator para determinar o peso de alguém”, diz a Dra. Marcella.
De acordo com o geneticista, três genes têm destaque quando o paciente é propenso ao acúmulo de gordura: FTO, INSIG2 e POMC. “No caso da desregulação desses genes, o corpo gasta menos energia e ganha mais peso, da mesma forma que ele acumula mais gordura. Para cada alelo de risco (o par do DNA), quando um está alterado, há um ganho de 1,13kg: é o caso de pessoas que engordam com muita facilidade”, afirma o Dr. Marcelo. “Nesse caso, o paciente responde bem a uma dieta hiperproteica; no caso da alimentação low carb (e algumas pessoas fazem low e engordam), há um ganho de peso; esse paciente somente se sente saciado quando consome fibras e vegetais que melhoram a saciedade”, detalha a Dra. Marcella Garcez. “O médico pode ainda indicar os suplementos para diminuir o acúmulo de gordura tendo o açúcar e os carboidratos como fonte, boosters termogênicos que trazem compostos bioativos estimulantes e fibras que otimizam o metabolismo, além de substâncias que aumentem a produção energética e melhorem o metabolismo, que atuarão em conjunto para reequilibrar o organismo”, afirma a médica.
Além disso, há mais meios de ficar em forma apesar da genética. No topo da lista, é claro, estão os exercícios. É necessário praticar pelo menos 30 minutos de exercícios 5 dias por semana. “Fazer exercícios regulares e consistentes é muito importante. Não precisa ser uma atividade extenuante, mas apenas moderada e consistente”, diz a médica.
Além dos exercícios, há outras coisas que as pessoas podem fazer para controlar o peso. A médica nutróloga aconselha as pessoas a evitarem os antinutrientes presentes em alguns vegetais, que se consumidos de forma excessiva ou monótona, podem aumentar o risco de ganho de peso. “É recomendável também aumentar a ingestão diária de líquidos, em média, para 3,2 litros para homens e 2,2 litros para mulheres, aumentar o consumo de fibra para ajudar saciedade e fornecer prebióticos que são benéficos para o microbioma intestinal, que também podem afetar o peso”, explica a médica.
E lembre-se: nada de forçar respostas rápidas. “A perda de peso sustentável é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Não faz bem a ninguém perder 30 quilos e recuperá-los 6 meses depois”, diz a médica.
Acúmulo de gordura visceral e diabetes tipo 2
O exame genético também pode ajudar a adequar a dieta no caso de pacientes com predisposição à resistência à insulina, acúmulo de gordura visceral e diabetes tipo 2. “No caso da resistência à insulina, trata-se de pacientes sensíveis ao consumo de açúcares e outros carboidratos”, diz a médica nutróloga. Além do POMC, outros genes envolvidos são GHRL, LEP e LEPR, conforme o geneticista. “Com esses genes, há maior sensação de fome, menor saciedade e é importante melhorar os hábitos de sono, para tanto podemos utilizar suplementos e medicamentos de forma individualizada”, afirma a médica.
No caso do diabetes tipo 2, além de INSIG2, o geneticista cita o gene PPAR-gama, também envolvido. “Como esse fator de transcrição controla o metabolismo de glicose e lipólise, o aumento da expressão desse gene leva a um acúmulo de gordura, ganho de peso, risco aumentado de resistência à insulina, diabetes tipo 2, de forma que cerca de 25% dos casos de diabetes estão associados à alteração genética do gene”, diz o Dr. Marcelo.
Em todos os casos, o melhor a fazer é procurar um médico nutrólogo, que poderá pedir um exame de nutrigenética para auxiliar o tratamento dessas condições ou adequar a alimentação e suplementação para uma efetiva perda de peso.
FONTES:
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.
LINK do estudo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.