Certos tipos de quimio e radioterapia possuem impacto direto sobre o funcionamento das gônadas femininas e masculinas e, consequentemente, na fertilidade. Devido à dificuldade em prever tal impacto, métodos para preservação da fertilidade são alternativas para solucionar o problema.
4 de fevereiro comemora-se o Dia Mundial do Câncer, doença que é causa de muito medo e receio para grande parte da população, afinal, além de poder ser fatal, a condição é geralmente tratada por meio de quimio e radioterapia, métodos muito agressivos e que podem causar uma série de efeitos colaterais, como queda capilar, náuseas, fadiga, problemas emocionais, alterações renais e até mesmo infertilidade. “Uma das maiores complicações das terapias para tratamento do câncer, como a quimio e a radioterapia, é a perda da função das gônadas, como os ovários e os testículos, o que, consequentemente, causa infertilidade, seja ela permanente ou temporária. E, apesar de não ser um fator prioritário durante o tratamento oncológico, a fertilidade pode se tornar uma questão importante para o paciente após a cura da doença, principalmente para aqueles que ainda não possuem filhos”, afirma o Dr Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.
É claro que o impacto do tratamento oncológico sobre a infertilidade vai depender de uma série de fatores, como a gravidade do câncer, o tipo de quimio ou radioterapia utilizada e a idade do paciente. Como resultado, torna-se muito difícil prever quais os riscos de infertilidade devido ao tratamento da doença. Logo, para pacientes que ainda desejam começar uma família, pode ser interessante optar por métodos que visem a preservação da fertilidade. Nos homens, por exemplo, a preservação da possibilidade de ter filhos é mais fácil do que nas mulheres, além de não atrasar o tratamento contra o câncer, podendo ser feita através da retirada de sêmen para congelamento dos espermatozoides. “Para a preservação do espermatozoide, é necessário apenas a masturbação (método não-invasivo), de preferência em várias amostras. Então, é feita a criopreservação (congelamento) do sêmen. Caso o homem não consiga ejacular, os espermatozoides podem também ser retirados diretamente dos testículos, com uma simples agulha ou uma pequena cirurgia”, destaca o especialista.
As opções para as mulheres
Já para as mulheres que ainda desejam engravidar, mas precisam ser submetidas ao tratamento oncológico, uma boa opção é o uso de substâncias capazes de induzir um estado de quiescência celular. “Essas substâncias impedem a proliferação das células, suprimindo assim a atividade ovariana, o que ajuda a proteger os ovários dos efeitos tóxicos produzidos pelos quimioterápicos”, afirma o médico. Outra alternativa é a coleta e, posteriormente, a criopreservação dos óvulos ou embriões, que consiste na conservação de células ou tecidos em nitrogênio líquido, o que permite, no caso dos óvulos ou embriões, que sejam utilizados posteriormente para a fertilização. “No entanto, para que os óvulos ou embriões sejam coletados para a criopreservação é necessário um período de estimulação farmacológica dos ovários, o que pode causar certa preocupação em mulheres com câncer devido à necessidade de adiamento do início do tratamento oncológico. Mas a boa notícia é que o tempo necessário para a estimulação ovariana é de apenas 10 a 15 dias, em média. Logo, quando a mulher é rapidamente encaminhada a um centro de reprodução humana, esse método de preservação de fertilidade não retarda significativamente o início do tratamento do câncer, sendo assim uma opção válida e segura que não possui grande impacto sobre as chances de cura da doença”, afirma o especialista em reprodução humana. No caso das mulheres, vale ainda ressaltar que o recomendado é que se espere cerca de dois anos após o tratamento do câncer antes de tentar engravidar para que se exclua o risco de recidivas da doença.
Por fim, lembre-se que, independentemente do sexo, o mais importante ao receber o diagnóstico de câncer é discutir profundamente com um oncologista e um especialista em reprodução sobre os métodos de preservação de fertilidade. “Juntos vocês serão capazes de chegar à conclusão sobre qual a melhor alternativa para o seu caso, levando em consideração fatores como idade, gravidade da doença e histórico de saúde”, finaliza o Dr Rodrigo Rosa.
FONTE: *DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.