Dieta contra Covid-19: o que comer enquanto não chega a sua vez de tomar a vacina, segundo a ciência

Em quase um ano do anúncio de pandemia global do Sars-Cov-2, a ciência já identificou ingredientes-chave presentes nos alimentos que, obviamente, não substituem os cuidados para evitar contato com o vírus, mas podem ajudar o seu corpo a combater a Covid-19 e até melhorar a sua resposta à vacina.

Dieta contra Covid-19: o que comer enquanto não chega a sua vez de tomar a vacina, segundo a ciênciaEm março do ano passado, a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou pandemia global por conta do surto de uma doença que ficou conhecida como Covid-19. Embora ainda não saibamos definitivamente como e onde surgiu o vírus Sars-Cov-2, evoluímos muito com relação aos cuidados para evitar a contágio e no combate às fake news – que glorificaram receitas caseiras e medicamentos sem nenhuma eficácia. Agora, a ciência já sabe, por exemplo, quais nutrientes podem ajudar seu corpo a ter um sistema imunológico equilibrado para combater a Covid-19 e até melhorar a sua resposta à vacina, quando for o momento. “Definitivamente, esses compostos bioativos presentes em alimentos não são garantias de que não seremos infectados. Mas eles representam uma boa medida do que comer para ajudar a manter o organismo saudável e combater o vírus. Nesse momento, a alimentação é prioridade, pois um bom hábito alimentar é um dos pilares para boas respostas imunes”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia. “Para evitar o contágio, ainda é necessário o distanciamento social, o uso de máscaras e principalmente a limpeza, higienização e cuidado com as mãos”, acrescenta.

Na conferência virtual da Fundação Britânica de Nutrição, realizada em dezembro, cientistas de renome debateram o papel fundamental da nutrição no combate à Covid-19. “A alimentação é muito importante não pela ‘resistência’ na proteção contra a Covid-19, mas sim por melhorar a nossa ‘tolerância’ à doença. Tolerância significa uma menor carga infecciosa quando somos infectados, capacidade de apresentar boa resposta imunológica, com sintomas menos graves e recuperação mais rápida. É esse o papel possível da boa alimentação. Estamos falando de componentes que podem otimizar a resposta imunitária ou ter benéficos efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes”, diz a médica. “Este vírus é tão contagioso que pode conseguir driblar as nossas defesas. Mas um sistema imune forte e bem nutrido, terá mais chances de ajudar o organismo a combater o vírus de forma mais eficaz. Por outro lado, se tivermos deficiências em macro e micronutrientes, teremos também mais risco de apresentarmos sintomas severos”, acrescenta a Dra. Marcella.

Embora estes dados ainda necessitem investigação adicional, os resultados obtidos até agora são interessantes. E vale muito a pena apostar nesses 4 nutrientes abaixo:

Selênio – “Um estudo alemão mostra que os doentes que sobreviveram à Covid-19 têm níveis mais elevados de selênio – um nutriente que se encontra na castanha-do-pará, peru, sardinhas, ovos e fígado – do que aqueles que morreram devido ao vírus”, diz a médica. Outros trabalhos já demonstraram que o selênio ajuda a refinar de maneira inteligente a nossa resposta imunológica. “Se tivermos um bom nível de selênio, os estados inflamatórios serão menos severos. Há provas de que conseguimos uma melhor proliferação dos nossos linfócitos (células de defesa do organismo, pertencentes aos leucócitos [glóbulos brancos]), o que ajuda a ativar as linhas celulares que respondem especificamente a uma infecção viral”, diz a médica nutróloga. Mas preste atenção aos excessos: muito selênio pode ser tóxico para o corpo, gerando dores de cabeça, enfraquecimento de unhas e queda capilar. A ingestão diária recomendada é de 60 microgramas por dia, mas você pode comer até 100 microgramas por dia, sem efeitos adversos, ao ingerir apenas duas castanhas-do-pará. Mais de 800 microgramas diários de selênio podem ter efeito tóxico.

Zinco – Já na Espanha, que também enfrentou um surto de internações, um estudo constatou que níveis saudáveis de zinco – um mineral que encontramos nas carnes, aves, mariscos e sementes – estão associados a maiores taxas de sobrevivência. “Esse nutriente ajuda a evitar a replicação do vírus, que têm uma camada protetora revestindo o seu material genético e a primeira coisa que fazem quando chegam às nossas células é deixar esse revestimento, libertando o seu material genético e assumindo o controle do metabolismo enzimático das células infectadas e a partir daí se multiplicar. Mas o zinco, se estiver circulando em níveis adequados, ajuda a inibir essa libertação do revestimento viral e a enzima que permite a reprodução do material genético na célula, impedindo assim que o vírus se prolifere”, diz a médica. Ou seja, não é uma cura, mas é uma ajuda – que pode ser extremamente necessária. “Sabemos que o consumo mínimo diário de zinco é de aproximadamente sete miligramas para as mulheres e nove para os homens, podendo variar conforme a idade. Nesse caso, não temos um alimento chave para garantir a ingestão diária, sendo que o melhor é ter uma dieta rica e variada, na medida em que, por exemplo, uma porção de 100g de ostras (40mg de zinco), de carne bovina (8 mg de zinco), de soja cozida (4 mg), de amêndoas e nozes (entre 3 e 4 mg de zinco), de carne de frango (3 mg de zinco), entre outras podem ser incluídas de acordo com as preferências individuais”, diz a médica nutróloga.

Vitamina D – “Um outro ensaio concluiu que 82,2% dos doentes graves hospitalizados com a Covid-19 tinham deficiência de vitamina D, uma vitamina que além da alimentação, obtemos através da exposição solar e desempenha um papel crucial na imunidade geral.  Sabemos, com base nos estudos sobre a gripe comum, que com um baixo nível de vitamina D estamos mais propensos a sofrer com infecções virais. Embora a dose recomendada seja de 15 a 20ug [microgramas] que equivalem de 600 a 800UI [unidades internacionais], se não tomarmos sol por um longo período não teremos quantidades suficientes para a manutenção dos níveis desejáveis que garantem uma função imunológica ideal, por isso a sugestão de consumo alimentar de pelo menos 1.000 IU, ou 25ug”, afirma a médica. “A suplementação indiscriminada de vitamina D em doses maiores, sem acompanhamento médico, não é recomendada, pois em excesso, pode gerar efeitos tóxicos graves como insuficiência renal aguda e calcificação de vasos sanguíneos e válvulas cardíacas”, diz a médica nutróloga. “Caso você acredite que seus níveis de Vitamina D estão abaixo do recomendado, consulte um médico, que poderá constatar ou não essa deficiência e prescrever a suplementação adequada de acordo com suas necessidades”, acrescenta.

Probióticos – Um estudo italiano observou que os probióticos, microrganismos vivos que melhoram a saúde intestinal, reduziam a gravidade dos sintomas de Covid-19 e as taxas de mortalidade. Além disso, uma nova resenha, publicada no último dia 12 no mBio, um jornal de acesso aberto da American Society for Microbiology, examinou evidências emergentes sugerindo que a saúde intestinal deficiente afeta negativamente o prognóstico da Covid-19. “A disfunção intestinal – e seu intestino permeável associado – pode exacerbar a gravidade da infecção, permitindo que o vírus acesse através da parede do trato digestivo, os órgãos internos. Esses órgãos são vulneráveis à infecção porque têm ACE2 – enzima conversora da angiotensina 2, uma proteína alvo do Sars-Cov-2 – na superfície”, afirma. “Com isso, os probióticos se tornam ainda mais importantes”, acrescenta. Os probióticos podem também desempenhar um papel importante, porque o intestino é uma peça fundamental do nosso sistema imunológico. “Cerca de 70% das nossas células de defesa estão localizadas no revestimento intestinal e em seu redor. Vários estudos revelam que os probióticos podem modificar a população de bactérias intestinais, conferindo-lhes um perfil mais saudável. Os probióticos conseguem também modificar células imunológicas no intestino, que podem em seguida migrar para outras zonas, incluindo os pulmões – e é aqui que podemos conseguir alguma proteção”, afirma a médica. Um mix saudável de frutas e vegetais, rico em fibras, irá contribuir para termos bactérias intestinais saudáveis, podendo ser complementado com kefir, kombucha, iogurtes probióticos e suplementos.

Por fim, a médica sustenta que a ampla ligação entre um regime alimentar saudável e uma melhor resiliência a infecções não é novidade, mas o interesse em saber quais são os nutrientes que melhor poderão sustentar este efeito de tolerância do organismo vem crescendo. “A resposta imunológica do nosso organismo a qualquer vírus requer um delicado ato de equilíbrio: se a nossa resposta for demasiado baixa, as defesas do nosso organismo ficarão sobrecarregadas. Mas se a nossa resposta for elevada, os processos defensivos envolvidos poderão provocar danos excessivos nos tecidos e desviar os recursos de outras funções vitais, debilitando mais o nosso corpo. Uma boa nutrição pode ajudar a otimizar esta resposta imunológica”, diz a nutróloga.

Mas, se mesmo assim essas provas nutricionais não te convencerem, saiba que uma dieta alimentar aprimorada poderá ajudá-lo também com relação à vacinação contra a Covid-19. “Sabemos que, no caso de vacinas como a do vírus da gripe, o selênio e a vitamina D estão associados a fortes respostas em termos de anticorpos. Por isso, faz sentido reforçarmos a sua ingestão, preparando-nos para quando for a nossa vez de tomar a vacina”, finaliza.

FONTE:

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologiado Hospital do Servidor Público de São Paulo.