Combinando o medicamento antiretroviral dapivirina e o hormônio levonorgestrel, método contraceptivo revolucionário foi capaz de manter níveis suficientes das substâncias no organismo por 90 dias para impedir a fecundação e a infecção pelo vírus causador da AIDS.
Desde a Roma Antiga, quando se utilizava um pessário de bronze como forma de prevenir a gestação, os métodos contraceptivos evoluíram muito e hoje temos a nossa disposição uma série de opções para quem deseja evitar engravidar. No entanto, dentre todos os métodos anticoncepcionais, apenas um é capaz de impedir a fecundação ao mesmo tempo em que protege contra infecções sexualmente transmissíveis (IST’s): o preservativo, popularmente conhecido como camisinha. Porém, esse cenário está prestes a mudar, pois pesquisadores do Microbicide Trials Network (MTN), nos Estados Unidos, confirmaram1, no final de janeiro, o sucesso de um anel vaginal na prevenção da gravidez e da infecção pelo vírus HIV em sua primeira fase de testes. “O método em desenvolvimento trata-se de uma versão alterada do anel vaginal comum, que, ao invés de progesterona e estrogênio, contém o medicamento antirretroviral dapivirina, eficaz contra o HIV, e o hormônio anticoncepcional levonorgestrel, substância comumente utilizada nas chamadas pílulas do dia seguinte”, explica a Dra. Eloisa Pinho, ginecologista e obstetra da Clínica GRU.
Primeiro método biomédico e de longa duração contra o HIV
Segundo os cientistas que participaram da fase de testes realizada com 25 mulheres que utilizaram o método continuamente ou em ciclos durante 90 dias, o anel foi capaz de liberar, por todo o período de uso, níveis suficientes de ambos os medicamentos para servir ao seu propósito de prevenir contra o HIV e a gravidez. E o futuro do método é promissor, pois, além de ter apresentado bons resultados durante os estudos de eficácia, o produto foi desenvolvido com base em um anel vaginal mensal de dapivirina que, em 2020, recebeu uma opinião científica positiva da European Medicines Authority (EMA) e foi adicionado à lista de medicamentos pré-qualificados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estando, no momento, em busca da aprovação para uso em diversos países africanos e nos Estados Unidos. “Se aprovado, o anel vaginal de dapivirina será o primeiro método biomédico e de longa duração contra o HIV especificamente desenvolvido para mulheres cisgênero, o que é especialmente importante visto que, de acordo com relatório publicado em 2020 pela UNAIDS2, a AIDS, doença causada pelo HIV, é a principal causa de morte entre mulheres de 15 a 49 anos no mundo”, ressalta a médica.
A grande diferença entre os dois produtos é que o anel que combina levonorgestrel e dapivirina, além de proteger contra a gravidez, possui uma concentração 8 vezes maior da substância capaz de prevenir a infecção pelo HIV, podendo assim ser utilizado por um período de 3 meses ao invés de ter que ser trocado mensalmente. “Ainda que pareça que atualmente possuímos métodos contraceptivos em excesso à disposição, a busca por novos métodos capazes de prevenir gestações e IST’s é sempre importante para que as mulheres tenham opções, afinal, cada uma delas possui necessidades e preferências distintas em momentos diferentes de suas vidas”, destaca a ginecologista.
Mas vale ressaltar que tanto o anel de dipavirina isolada quanto o anel que traz a dipavirina combinada ao levonorgestrel ainda estão em fase de testes e de aprovação para uso, respectivamente. “Logo, até que tais métodos estejam disponíveis para serem utilizados em território brasileiro, é importante manter os cuidados preventivos convencionais contra a gravidez e as IST’s, o que pode ser feito através do que chamamos de dupla proteção, que consiste em combinar o uso do preservativo, que é a única opção atualmente disponível capaz de impedir a transmissão de agentes patógenos por meio de relação sexual, com outro método anticoncepcional da escolha da paciente, como a pílula anticoncepcional, o DIU ou o diafragma. Dessa forma, a mulher estará protegida tanto das IST’s quanto de uma possível gravidez, além de estar resguardada caso o preservativo fure, por exemplo”, finaliza a Dra Eloisa Pinho.
FONTE: DRA. ELOISA PINHO – Ginecologista e obstetra, pós-graduada em ultrassonografia ginecológica e obstétrica pela CETRUS. Parte do corpo clínico da clínica GRU Saúde, a médica é formada pela Universidade de Ribeirão Preto, realiza atendimentos ambulatoriais e procedimentos nos hospitais Cruz Azul e São Cristovão, além de também fazer parte do corpo clínico dos hospitais São Luiz, Pró Matre, Santa Joana e Santa Maria.
2https://www.unaids.org/sites/