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Nasce primeiro bebê na França concebido após um transplante de útero; entenda a técnica

Apesar de ainda ser considerada uma técnica experimental, o transplante de útero é um procedimento revolucionário para mulheres que desejam iniciar uma família, mas sofrem com infertilidade por fator uterino.

Nasce primeiro bebê na França concebido após um transplante de útero; entenda a técnicaNo último dia 12 de fevereiro, nasceu o primeiro bebê na França concebido após um transplante de útero, um evento raro visto que, apesar de ter precedentes, o procedimento ainda é considerado uma técnica experimental. “Ainda pouco realizado e objeto de grande quantidade de estudos científicos, o transplante uterino é uma técnica cirúrgica que consiste, basicamente, na implantação do útero de uma doadora, enquanto em vida ou após a morte, em uma receptora que seja infértil devido a um fator uterino, que, de acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), afeta 1 a cada 500 mulheres em idade fértil”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.

O Brasil é considerado um dos pioneiros no procedimento, visto que, em 2017, uma mulher que recebeu o útero de uma doadora já falecida deu à luz um bebê saudável pela primeira vez. Porém, o caso de Deborah, progenitora do bebê francês, também é de grande relevância para o futuro da técnica, já que a doação do útero foi feita por sua mãe enquanto ainda estava viva. O procedimento foi realizado pois Deborah sofre com uma condição rara conhecida como síndrome de Rokitansky, que causa alterações no útero, fazendo com que o órgão não se desenvolva corretamente ou até mesmo seja ausente. Outras causas também podem levar à infertilidade por fator uterino. “Considera-se como fator uterino toda condição que pode causar mau funcionamento do útero, impedindo a passagem dos espermatozoides ou então a implantação do embrião, incluindo tumores, infecções, pólipos e malformações, além da ausência congênita do órgão, isto é, desde o nascimento”, destaca o médico. “No entanto, a causa mais frequente de infertilidade por fator uterino é a histerectomia total, que consiste na remoção cirúrgica do útero para tratamento de condições como miomas e câncer de colo do útero.”

Semelhante aos outros transplantes de órgãos, o procedimento de transplante uterino inicia-se com a busca de um doador, que pode ser um familiar ou alguém que possua compatibilidade sanguínea. Após encontrado um doador compatível, a receptora, caso seja possível, passa por um período de estimulação ovariana medicamentosa para que os óvulos sejam aspirados e congelados para serem utilizados posteriormente. “Só então é feito o transplante uterino propriamente dito, com a retirada do útero doente e a implantação do novo órgão. Realizado o procedimento, a mulher passa a utilizar medicamentos imunossupressores e consultar regularmente o médico para certificar-se que o novo útero não será rejeitado pelo organismo”, afirma o especialista. Somente após um ano do procedimento a mulher poderá engravidar através da fertilização in vitro realizada com os óvulos anteriormente congelados, que são fertilizados com o esperma do parceiro ou de um doador e, em seguida, implantados no útero doado. “A fertilização in vitro é a única maneira da mulher engravidar após o transplante uterino, pois, no procedimento, os ovários não são ligados novamente ao útero transplantado, o que impossibilita uma gravidez convencional”, diz o Dr Rodrigo.

Vale ressaltar ainda que o transplante uterino, ao contrário do procedimento em outros órgãos, é temporário, o que minimiza os efeitos dos medicamentos imunossupressores a longo prazo. Dessa forma, o útero é mantido apenas pelo tempo suficiente para que a paciente tenha o número de filhos desejado, sendo, em seguida, removido por meio de histerectomia ou descontinuação do uso dos imunossupressores, o que faz com que o órgão seja naturalmente eliminado pelo organismo. “É importante reforçar também que o transplante uterino ainda é considerado um procedimento experimental e, por isso, possui riscos significativos, como infecções, rejeição pelo organismo e formação de coágulos sanguíneo, além de aumento nas chances de pré-eclâmpsia, prematuridade e abortos durante a gravidez”, alerta o médico.

A boa notícia é que o transplante de útero não é a única técnica de reprodução disponível para mulheres que desejam iniciar uma família, mas sofrem de infertilidade por fator uterino. Outra opção é a gravidez por útero de substituição, que consiste na doação temporária do útero de uma mulher a um casal que não pode gerar o próprio bebê. “Nesses casos, o procedimento inicia-se como uma fertilização in vitro convencional, com os óvulos e espermatozoides sendo coletados do casal que deseja ter o filho para serem fecundados em laboratório. Em seguida, os embriões formados são transferidos para o útero da mulher que gerará o bebê”, afirma o especialista. “Mas existem regras rígidas no que diz respeito ao útero de substituição, sendo que a mulher disposta a ceder o útero para o procedimento deve ter mais de 18 anos e ser parente sanguínea de até quarto grau de um dos parceiros. Outros casos precisam receber autorização do Conselho Federal de Medicina e, caso não haja candidatas para ceder o útero, não é possível realizar o procedimento”, completa o Dr. Rodrigo Rosa. Por fim, o mais importante é que, antes de optar por qualquer procedimento, você consulte um especialista em reprodução humana e discuta com ele todas as possibilidades para o seu caso.

FONTE: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

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