BBB21: 4 riscos da gangorra alimentar da ‘dieta xepa vip’ com episódios de restrição e de comilança

Semanalmente, participantes do BBB estão na ‘xepa’ e têm uma alimentação restrita enquanto outros, no ‘vip’, podem comer o que quiser. Duas vezes por semana há festas com fartura. Fora do programa, pessoas vivem episódios parecidos de restrição e abundância. Quais riscos dessa gangorra alimentar?

BBB21: 4 riscos da gangorra alimentar da 'dieta xepa vip' com episódios de restrição e de comilança

Trancados em uma casa vigiada por câmeras que reproduzem as imagens nacionalmente, os Big Brothers têm de lidar com algumas regras do programa, como a luta por alguns benefícios, dentre eles ter mais opções para o cardápio alimentar. Por conta disso, existe uma separação de grupos entre os que estarão na xepa (e enfrentam restrições alimentares) e os que estão no vip (e podem comer com mais abundância). Semanalmente, há uma troca, de acordo com a escolha do líder. Então, é comum que algumas pessoas passem semanas em restrições alimentares e compensem comendo muito nas festas, em que a comida é livre. Mas será que isso só acontece no BBB? “Ainda mais pela pandemia, muitas pessoas em casa decidiram fazer dietas por conta própria e passam semanas em restrição e depois comem à vontade, em episódios de compulsão. Essa gangorra alimentar pode sobrecarregar o organismo de diversas formas e piorar doenças gastrointestinais, de pele e interferir na saúde intestinal. A alimentação saudável é prioridade em tempos de pandemia. Tentar manter uma dieta equilibrada, variada e o mais natural possível, manter uma rotina respeitando os horários das refeições, fazer as refeições preferencialmente à mesa com as pessoas da família é altamente indicado”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Abaixo, ela explica os perigos de alternar momentos de grande restrição e comilança:

Problemas gastrointestinais – A dieta desequilibrada, com episódios de escassez e abundância, pode causar alguns problemas gastrointestinais, como azia, inchaço abdominal, flatulência, cólica e refluxo (principalmente quando se come demais) e prisão de ventre (quando se come pouco). “E há uma grande chance de piora da gastrite quando se mistura os dois hábitos. Isso porque as pessoas que ficam em grande restrição calórica, o que é insustentável por muito tempo, tendem a comer grandes quantidades de comida de uma vez só, o que prejudica a proteção da mucosa gástrica, alterando a ação do ácido clorídrico, presente naturalmente nesse órgão, o que pode gerar o processo inflamatório conhecido como gastrite. Além disso, o desequilíbrio alimentar com deficiência de minerais e vitaminas, presentes em frutas, verduras e legumes, pode interferir na formação do ácido clorídrico”, afirma a Dra. Marcella Garcez. De acordo com a nutróloga, além disso, a sobrecarga em alimentos considerados mais inflamatórios (carboidratos de alto índice glicêmico, doces, frituras, gorduras trans, aditivos químicos) traz consequências que podem impactar o organismo como um todo porque a inflamação subclínica, que se instala com o consumo excessivo de açúcares adicionados e gorduras não saudáveis, aumenta o risco de doenças metabólicas, cardiovasculares, inflamatórias, degenerativas e neoplásicas, podendo inclusive interferir na microbiota intestional, desequilibrando esse conjunto de microrganismos que têm diversas funções no organismo, inclusive imunológica.

Aumento ou queda ‘patogênica’ de peso – Nada é melhor para perder ou ganhar peso do que uma dieta equilibrada. “A perda de massa magra é uma consequência de uma grande restrição, ou seja, uma diminuição dos músculos. Por isso, o processo de emagrecimento precisa de acompanhamento. Quando a grande restrição calórica é feita por alguns dias e acompanhada do ‘dia do lixo’, geralmente, essa alimentação é mais hipercalórica, rica em açúcares e gorduras, e não nutre o corpo de forma saudável. Ao mesmo tempo, o paciente pode sentir culpa após esse dia de alimentação livre e voltar a uma restrição pesada. Esse ciclo tende a continuar, sempre com métodos compensatórios inadequados para evitar o ganho de peso, e causando diversos problemas de saúde”, explica a médica.

Alterações na pele, cabelo e unha – Ficar muito tempo comendo pouco para emagrecer pode envelhecer a aparência. O ideal é que qualquer emagrecimento rápido ou que conte com perda ponderal de mais de 10% do peso corporal tenha acompanhamento médico. “Só assim é possível descartar patologias e carências que agravam os sinais físicos de um emagrecimento não orientado. Como em muitas ocasiões a perda de peso não é monitorada, as intervenções nutrológicas devem ser incorporadas assim que o aspecto de envelhecimento precoce ou acelerado pelo emagrecimento for notado”, diz a Dra. Marcella. “Quando pensamos em perda de peso, pensamos sempre na perda de volume e de gordura corporal, num corpo mais esguio, em mais energia e numa autoconfiança perdida que fora agora reconquistada. Até aqui, tudo bem, são efeitos naturais dos quilos perdidos. Mas um processo de perda de peso tem ainda implicações também no rosto, afinal perdemos gordura no corpo inteiro, e isso nem sempre agrada”, afirma o cirurgião plástico Dr. Mário Farinazzo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). De acordo com o cirurgião plástico, a perda de peso excessiva e sem acompanhamento causa a redução do volume que mantinha a pele mais esticada. “Com essa redução, há uma ‘sobra’ da pele, obviamente se considerarmos uma perda expressiva de gordura”, diz o médico. “Este fenômeno é particularmente mais importante no rosto, sendo mais significativo no terço inferior e no pescoço”, afirma o especialista. A acentuação da flacidez do rosto e do pescoço parece ser a consequência mais clara, porém, mais rugas, mais olheiras e mudança da expressão facial aparecem também. Além disso, existe o problema das carências nutricionais. Uma alimentação com déficit calórico muito expressivo (ou seja, quando as calorias ingeridas são extremamente menores que a taxa metabólica) trará resultados para o emagrecimento, mas poderá causar sérios problemas ao corpo. “Além do déficit calórico, o déficit proteico e a pouca ingestão de água são os fatores alimentares que mais rapidamente impactam negativamente as estruturas da pele, porém nutrientes importantes como vitaminas, minerais e antioxidantes são essenciais para a manutenção da saúde cutânea, portanto não há pele saudável sem alimentação equilibrada”, afirma a Dra. Marcella. Mas o problema não para por aí: as carências de vitaminas, minerais, proteínas, gorduras e carboidratos de boa qualidade também impactam na saúde dos fios, do couro cabeludo e das unhas. Em contrapartida, os dias de excesso, recheados de açúcar levam a um perfil inflamatório exacerbado, o que pode fazer desencadear ou agravar doenças inflamatórias na pele como dermatite e psoríase. “O excesso de açúcar na dieta pode comprometer a saúde dos folículos capilares aumentando a possibilidade de eflúvio (queda de cabelos). Muito açúcar circulando é um dos fatores que propicia um desequilíbrio da microbiota do organismo como um todo e consequentemente maior prevalência de atopias e proliferação de fungos que comumente atingem as unhas”, diz a Dra. Marcella.

Problemas no sistema imune e sinais de cansaço – A falta de micronutrientes e fibras é comum em uma dieta inadequada. Isso prejudica o funcionamento do organismo e o equilíbrio da microbiota intestinal, o que desestabiliza o sistema imunológico. “Existem alguns sinais que o corpo dá quando está com falta de algum desses micronutrientes. Por exemplo, a câimbra pode ser comum em quem está com deficiência em potássio. A Anemia é causada por falta de ferro e Vitamina B12. A falta de proteínas e carboidratos pode causar baixa energia e cansaço constante”, afirma a médica. Frutas e vegetais são uma boa fonte de fibras, o que estimula o bom funcionamento do intestino, melhorando a saúde imunológica, e ajuda na digestão adequada e fácil dos alimentos. “Frutas ricas em vitamina C e potássio, como maçãs, laranjas e bananas, são particularmente boas para a digestão. De acordo com um estudo publicado na revista Nature Chemical Biology, vegetais de folhas verdes contêm sulfoquinovose, um açúcar que atua como fonte de energia para a bactérias benéficas da microbiota intestinal, formando uma barreira protetora que impede o crescimento e a colonização por bactérias ruins, que podem causar constipações, distensões, dores abdominais e cólicas”, finaliza a médica.

FONTES:

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

*DR. MÁRIO FARINAZZO: Cirurgião plástico, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Formado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o médico é especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Professor de Trauma da Face e Rinoplastia da UNIFESP e Cirurgião Instrutor do Dallas Rinoplasthy™ e Dallas Cosmetic Surgery and Medicine™ Annual Meetings. Opera nos Hospitais Sírio, Einstein, São Luiz, Oswaldo Cruz, entre outros. www.mariofarinazzo.com.br

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