Você conhece seus ciclos menstruais? Tudo que você deve saber sobre períodos menstruais desordenados e quando procurar aconselhamento médico
Quando a mulher tem controle dos seus ciclos menstruais, esse é um dos passos mais poderosos para cuidar de sua saúde reprodutiva. “Isso significa conhecer seu corpo – algo que muitas mulheres não fazem até que precisem de seu corpo para uma função específica, como engravidar””, explica a ginecologista e obstetra Dra. Eloisa Pinho, da clínica GRU. “É importante a mulher conhecer as mudanças do seu corpo e detectar os dias mais férteis e alguns aplicativos podem auxiliá-la, mas os testes de ovulação de farmácia ainda continuam sendo os mais eficazes na detecção da ovulação. Vale ressaltar também que a ausência de ovulação é responsável por apenas 25% das causas de infertilidade feminina e cerca de 15% de todas as causas”, afirma o Dr Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.
Segundo a médica, a ajuda da tecnologia pode ser bem-vinda para mulheres que apresentam períodos irregulares, com o uso de aplicativos de monitoramento menstrual como Clue ou Flo. “A tecnologia pode ser muito útil nesse sentido, pois rastrear os dias do seu ciclo por meio de um aplicativo pode ser um registro muito acessível de suas funções corporais. Para obter o melhor desses aplicativos, você pode inserir o máximo de informações possível, incluindo seu humor, secreção e mudanças na pele, por exemplo”, explica a Dra. Eloisa. “O aplicativo pode calcular dados importantes, como a duração do seu ciclo; prever sua janela fértil; e também ajuda a identificar se você tem algum sintoma que precise de atenção médica. Ao rastrear essas informações, você fica sabendo o que é normal para o seu corpo e pode buscar ajuda no momento adequado”, diz a médica.
No entanto, o Dr. Rodrigo pondera que o grande problema desses aplicativos é a demora que os casais podem ter para buscar ajuda especializada e aumentar o estresse do casal ao “orientar” o dia fértil. “Muitos casais ficam mais estressados com a obrigação de ter relação sexual no dia indicado pelo aplicativo, que nem sempre pode estar correto”, diz o especialista em Reprodução Humana.
Se você sofre com períodos irregulares, saiba que não está sozinha. Muitas mulheres sofrem com o problema, que pode ter influência até mesmo do estresse. A seguir, descubra tudo que as mulheres devem saber sobre períodos irregulares – incluindo quando não se preocupar e o momento em que deve procurar aconselhamento médico.
O que se qualifica como um período irregular?
“Períodos irregulares são quando a duração do seu ciclo menstrual (o intervalo entre o início de um período e o início do próximo) muda constantemente”, diz o Dra Eloisa. “O ciclo menstrual médio dura 28 dias, embora seja normal que varie alguns dias a cada mês.”
Segundo o Dr. Rodrigo da Rosa Filho, o que acontece é que o ciclo menstrual é dividido em duas fases: a primeira fase é variável e compreende o período entre o primeiro dia do fluxo menstrual até a ovulação; a segunda fase vai da ovulação ao dia que antecede o fluxo do próximo ciclo e essa fase é fixa, durando 14 dias. “Portanto, para as mulheres com ciclos menstruais regulares, é possível prever o dia da ovulação e período fértil (por exemplo, a mulher com ciclo de 28 dias ovula no 14º dia, a mulher com ciclo de 32 dias ovula no 18º)”, diz o Dr. Rodrigo.
Quais são as características definidoras de um ciclo irregular?
Aparentemente, os períodos menstruais podem, na melhor das hipóteses, parecer bastante imprevisíveis. Então, como sabemos se nosso ciclo menstrual é realmente irregular? “Mulheres com períodos irregulares notarão que não podem prever com segurança quando estarão menstruadas e, como resultado, é difícil identificar a ovulação ou apontar a janela fértil”, explica a médica. “Períodos irregulares são comuns durante a puberdade, durante a amamentação e também em torno da perimenopausa [o momento em que seu corpo faz a transição natural para a menopausa] Daí porque é importante controlar o seu período. Se usar um aplicativo não combina com você, mantenha um diário”, diz a Dra. Eloisa. “Esse acompanhamento é a chave para saber o que é normal para você, então é sempre importante documentar outros sintomas que você observa ao longo do seu ciclo, como dor pélvica, secreção cervical, sintomas de TPM [síndrome pré-menstrual] e muito mais”, diz a médica. “Para ter uma ideia, aqui estão alguns recursos a serem observados: seu ciclo está fora da faixa de 21 a 35 dias; os períodos menstruais duram mais de sete dias; há uma grande diferença (pelo menos 20 dias) entre o seu ciclo menstrual mais curto e o mais longo”, diz a ginecologista.
O que causa ciclos menstruais irregulares?
Descobrir o que está causando seus períodos irregulares pode parecer um campo minado, e há muitas causas possíveis a serem observadas. “Durante a puberdade, é normal ter períodos irregulares nos primeiros anos após o seu primeiro ciclo menstrual. Mais tarde, durante a perimenopausa, seus períodos podem se tornar irregulares – mais frequentes ou mais espaçados conforme você se aproxima da menopausa”, diz a ginecologista. Claro, a gravidez precoce pode ser um fator (como sempre, se você estiver atrasada, faça um teste de gravidez). Também é importante tomar nota de fatores como problemas de tireoide, síndrome do ovário policístico, endometriose, perda ou ganho de peso extremo e formas de contracepção hormonal. “A contracepção que contém progesterona, como a pílula combinada ou a bobina do DIU Mirena, faz com que o revestimento do útero fique fino e pode fazer com que a menstruação pare ou se torne muito leve e pouco frequente. No caso da variação de peso, sabemos que exercícios ou estresse excessivos podem afetar a produção cerebral dos hormônios envolvidos no ciclo menstrual. Com relação à SOP e endometriose, essas condições podem causar a formação de cistos nos ovários, resultando em distúrbios hormonais”, explica a médica.
É possível amenizar períodos irregulares?
“O ciclo menstrual está intimamente ligado ao estilo de vida, e mudanças na dieta, exercícios e estresse podem ter um grande impacto em seus períodos”, explica a ginecologista. Para otimizar sua menstruação, é uma boa ideia parar de fumar e reduzir o consumo de álcool. O exercício regular que não seja excessivo tem uma ampla gama de benefícios. “Além disso, certifique-se de que está dormindo bastante. Seus períodos serão frequentemente sensíveis ao estresse, restrição extrema de calorias e certas drogas e medicamentos”, diz ela. No entanto, se você abordou todos esses fatores possíveis e ainda está enfrentando irregularidades, falar com seu médico deve ser o próximo passo.
Por que algumas mulheres apresentam períodos irregulares após abandonarem métodos de anticoncepção?
Depois de sair do controle de natalidade, muitas mulheres experimentam mudanças em seus ciclos menstruais. “Muitas formas de controle de natalidade envolvem o recebimento de doses extras dos hormônios que estão envolvidos no ciclo menstrual, estrogênio e progesterona. Depois de retirar esses hormônios ao parar a pílula, ou remover a bobina, pode levar algum tempo para que a produção de hormônios naturais do seu corpo seja ativada novamente e para que os níveis sejam regulados”, diz. No entanto, seu ciclo normal deve retornar (dentro de algumas semanas ou meses). “Nesse ínterim, você pode experimentar outros sintomas de alteração dos níveis de hormônio, como acne ou uma alteração no tamanho dos seios. Isso pode ser devido à remoção do hormônio estrogênio que você estava recebendo como parte da anticoncepção, ou apenas seu corpo se ajustando naturalmente – especialmente se você toma anticoncepcionais há muito tempo”, diz a médica. “É importante ressaltar que tomar anticoncepcionais hormonais por um longo tempo não tem efeito significativo sobre a fertilidade, e a maioria das mulheres que tentam engravidar após interromper o anticoncepcional terá sucesso no primeiro ano”.
Há alguma evidência que sugira que a luta para engravidar esteja ligada a períodos irregulares nas mulheres?
É bastante comum que as mulheres que experimentam alterações ou irregularidades em seus ciclos menstruais também se sintam preocupadas com sua fertilidade – afinal, tudo está relacionado – mas você não deve se preocupar excessivamente. “Muitas mulheres têm menstruações irregulares e ainda engravidam. No entanto, engravidar pode demorar um pouco mais, pois você pode não ovular com tanta frequência quanto mulheres com períodos regulares. As condições subjacentes podem afetar sua própria fertilidade, sendo a mais comum a SOP ”, diz a Dra Eloisa.
Segundo o especialista em Reprodução Humana, o Dr. Rodrigo da Rosa Filho, a infertilidade conjugal atinge um em cada sete casais, em média, e após os 38 anos, esse número é de um em cada três casais. “O aumento da prevalência de infertilidade é devido às mudanças sociais, como adiamento da gestação e piora do estilo de vida (dieta inadequada, alterações do peso, abuso de álcool, tabagismo, entre outros). Quando o casal não consegue engravidar após 12 meses de tentativas, é fundamental procurar ajuda médica para identificar todas as possíveis causas de infertilidade, tanto masculina quanto feminina”, explica o Dr. Rodrigo da Rosa Filho.
Quando uma mulher deve consultar um médico sobre seus períodos irregulares?
Embora você possa sentir que não quer “incomodar” seu médico (especialmente durante a atual pandemia de Covid-19), você definitivamente deveria se estiver preocupada. “Pode não haver nada de errado, mas é uma boa ideia dar uma olhada para ver qual pode ser a causa. Visite um médico se sua menstruação estiver repentinamente irregular e você tem menos de 45 anos, principalmente se você está lutando para engravidar por mais de seis meses”, finaliza a médica.
FONTES:
*DRA. ELOISA PINHO: Ginecologista e obstetra, pós-graduada em ultrassonografia ginecológica e obstétrica pela CETRUS. Parte do corpo clínico da clínica GRU Saúde, a médica é formada pela Universidade de Ribeirão Preto, realiza atendimentos ambulatoriais e procedimentos nos hospitais Cruz Azul e São Cristovão, além de também fazer parte do corpo clínico dos hospitais São Luiz, Pró Matre, Santa Joana e Santa Maria.
*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. (Holding)