sábado, 22 fevereiro 2025
26.5 C
Curitiba

Estudo preliminar do Butantan indica que CoronaVac neutraliza as novas variantes do SARS-CoV-2

Estudo preliminar do Butantan indica que CoronaVac neutraliza as novas variantes do SARS-CoV-2
Na análise de laboratório, realizada em parceria com a USP, as variantes P.1. e P.2. foram inoculadas em uma cultura celular que continha o soro de pessoas imunizadas. Segundo os pesquisadores, os resultados foram satisfatórios (foto: Governo do Estado de São Paulo/divulgação)

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Um estudo preliminar realizado pelo Instituto Butantan sugere que a vacina CoronaVac pode neutralizar as variantes P.1. e P.2. do SARS-CoV-2. Além do relaxamento das medidas de distanciamento social nas festas de fim de ano e carnaval e o ritmo lento da vacinação, a variante brasileira (P.1.) – potencialmente mais transmissível – tem sido apontada por epidemiologistas como uma das causas da alta recente de casos e mortes por COVID-19.

“A questão das variantes preocupa a todos nós. Precisamos de muita atenção e avaliar se as vacinas produzem anticorpos contra elas. Já sabíamos que a CoronaVac tinha eficácia comprovada contra as variantes do Reino Unido (B.1.1.7) e da África do Sul (B.1.351) e agora sabemos que a vacina é eficiente também contra as variantes P.1. e P.2.”, diz Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (10/03).

A vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, é produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. Os estudos clínicos com o imunizante têm apoio da FAPESP.

“O estudo foi feito em parceria com a USP em laboratório de biossegurança 3 (NB3), onde é possível manipular o vírus. Na análise, adicionamos as variante P.1. e P.2. a uma cultura celular que continha o soro de pessoas imunizadas. O resultado, embora ainda em um número pequeno de amostras, foi muito satisfatório. Os anticorpos presentes no soro neutralizaram a ação da variante P.1.”, afirma Ricardo Palacios, diretor médico de Pesquisa Clínica do Butantan.

A variante P.1., descoberta pela primeira vez em viajantes japoneses que retornavam de Manaus, já está circulando pelo Brasil e causa preocupação por ser potencialmente mais transmissível. Já a variante P.2., reportada inicialmente no Rio de Janeiro e que também está em circulação pelo país, não está entre as novas variantes de preocupação.

Na coletiva de imprensa, Covas ressaltou que as variantes são novas formas do vírus e algumas delas apresentam características extremamente preocupantes. “Este é o caso da B.1.17 [conhecida como variante do Reino Unido], cuja transmissão é aumentada de 30% a 50% e a gravidade dos casos é 30% superior. Já a variante B.1.351 [sul-africana] está relacionada a aumento da carga viral nos infectados e transmissão aumentada, sendo resistente à neutralização de anticorpos gerados por algumas vacinas ou por infecção natural prévia. A variante P.1. concentra as mutações principais das variantes do Reino Unido e da África do Sul”, afirmou.

“Por isso, trata-se de resultados animadores, mas acredito que o mais importante seja a junção desses resultados em laboratório com a resposta que estamos vendo na redução de infecção entre os idosos vacinados em fevereiro. Esse dado real, que também é preliminar, indica que a vacinação funciona e também funciona para as variantes em circulação”, diz Palacios à Agência FAPESP.

De acordo com dados da Prefeitura de São Paulo, em plena alta de casos da doença, a morte de idosos com mais de 90 anos despencou 70% – de 127 em janeiro, para 38 em fevereiro. Houve ainda redução drástica no número de hospitalizações. Esta é a faixa etária que foi imunizada.

Em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde reportou também a diminuição no número de pedidos de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em idosos com mais de 85 anos.

Resposta imune

O estudo em cultura celular com o soro sanguíneo de imunizados consegue avaliar apenas a resposta imune conferida pelos anticorpos. “Nesse tipo de estudo só é possível avaliar a resposta imune humoral, mediada por anticorpos. Sabemos que a resposta imune induzida pela vacina é muito mais ampla. Então é possível que a resposta na vida real seja ainda melhor que no laboratório. É algo que precisa ser verificado com mais testes, como o que estamos realizando na cidade paulista de Serrana”, afirma Palacios.

Em 17 de fevereiro, o Instituto Butantan iniciou no município paulista de Serrana um estudo que vai avaliar o impacto da vacinação no combate à pandemia de COVID-19. Toda a população maior de 18 anos está sendo vacinada. Com isso, os pesquisadores vão medir o impacto da vacinação na transmissão do vírus e na redução da sobrecarga no sistema de saúde, bem como outros efeitos indiretos da imunização na economia, na circulação de pessoas e também sobre as novas variantes do SARS-CoV-2.

De acordo com os dados de acompanhamento genômico obtidos no estudo realizado em Serrana, as variantes em P.1. e P.2. já são as mais prevalentes desde janeiro e fevereiro. “Estamos realizando o projeto Serrana e acompanhamos a evolução do vírus desde junho de 2020. Em dezembro, apareceram mudanças no vírus e, em janeiro, a P.2. já era a predominante no município. De janeiro a fevereiro já predomina a P.1. – a mais agressiva. O que aconteceu em Serrana pode ter acontecido em outros municípios brasileiros também”, explicou Covas (leia mais em: agencia.fapesp.br/35325).

“Outro fator que estamos acompanhando com interesse é a vacinação na Colômbia. Lá foram comprados imunizantes da Sinovac, diretamente da China, e o plano nacional de vacinação colombiano priorizou a região amazônica que faz fronteira com o Brasil, onde surgiu a variante P.1.. É preciso acompanhar, pois pode ser mais um indicador de que a CoronaVac neutraliza a nova variante de preocupação”, diz.

Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que a imunidade natural é cerca de seis vezes menos eficiente para neutralizar a variante brasileira P.1., do que a chamada linhagem B, que circulou no país nos primeiros meses da pandemia. O estudo também mostrou que soro de vacinados com a CoronaVac neutralizou fracamente tanto a linhagem B quanto a P.1.. Os dados são preliminares e se baseiam na análise de apenas oito amostras (leia mais em: agencia.fapesp.br/35311).

 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Destaque da Semana

Com impacto emocional, alopecia areata ganha novas opções de tratamento

Sociedade Brasileira de Dermatologia divulgou recomendações atualizadas para aprimorar...

Quais são os erros mais comuns no marketing no Instagram e como evitá-los?

O Instagram é uma das plataformas mais poderosas para...

Academia do Coração do Hospital Costantini ultrapassa 350 mil atendimentos

Estima-se que os praticantes da academia caminharam juntos, nos...

Shopping Curitiba destina 65% dos seus resíduos para reciclagem e compostagem

Curitiba é referência nacional em reciclagem no país. Aqui,...

Artigos Relacionados

Destaque do Editor

Popular Categories

Mais artigos do autor