Inovação, tecnologia e ciência são campos em expansão para o protagonismo feminino

Encerrando o mês da mulher, o Biopark convidou representantes de empresas residentes para refletir sobre os desafios femininos na carreira e em áreas de inovação

Os índices de empreendedorismo feminino em áreas que envolvem inovação e tecnologia ainda são baixos no Brasil.

O estudo Female Founders Report 2021, produzido pelo Distrito Dataminer, em parceria com a B2Mamy e Endeavor, aponta que apenas 4,7% das startups brasileiras foram fundadas exclusivamente por mulheres e 5,1% por mulheres e homens. Causar uma mudança nesse cenário é uma das causas apoiadas por Anaide Holzbach – pioneira quando se fala em empreendedorismo tecnológico na Região Oeste do Paraná. Ela é sócia fundadora da Maxicon, empresa que está há 21 anos no mercado e se destaca nacionalmente em soluções de gestão para o agronegócio.

Formada em economia, Anaide sempre teve muito interesse por tecnologia, área que ainda hoje apresenta percentuais de participação bem distintos entre homens e mulheres. Na Maxicon, por exemplo, 30% do quadro de colaboradores é feminino, mas o desejo é que esse número fosse bem maior.  “Gostaríamos de ter mais mulheres na empresa e estamos em busca disso, mas não é tão fácil, embora não exista razão lógica para não ter mais mulheres na área, historicamente o número é baixo. Um caminho, é mostrar as oportunidades existentes para as mulheres; além disso, como parte de programas de ações afirmativas, a sociedade também precisa encorajar as mulheres a se mostrarem mais, a entrar nesse universo ainda tão masculino, de forma que elas possam, por exemplo, se expressar sem serem interrompidas, que não sejam rotuladas tão somente por serem mulheres”, enfatiza.

Mas há articulações e movimentos importantes acontecendo para uma transformação dessa realidade. No início de março, Anaide passou a integrar o recém-criado Conselho Consultivo de Mulheres em Tecnologia do Paraná, que terá como principal missão atrair mais mulheres para as atividades de TI. “O meu objetivo é mostrar que o Oeste do Paraná também oferece possibilidades gigantescas para as mulheres.  Assim como precisamos de modelos de mulheres na política, precisamos também de exemplos na tecnologia; as garotas precisam se espelhar em alguém. Além do mais, a tecnologia permite algo muito importante, que é a mobilidade social, dando oportunidade para que pessoas migrem de uma camada social para outra, e isso se dá, principalmente, pelos salários que a área pode oferecer”, ressalta.

Desafios 

Segundo Cássia Pinheiro, engenheira agrônoma com mestrado, doutorado e dois pós-doutorados e que, com outras quatro mulheres, está à frente da agritech LagBio, no ramo da agricultura os desafios variam muito de acordo com a área de atuação. “No campo, a mulher vai ter um desafio um pouco maior de se fazer ser ouvida, se você falar com um pouquinho de insegurança já vai ser taxada de profissional ruim. No setor de pesquisa, que é onde atuo hoje, isso é um pouco mais igualitário”, relata.

A gestação também é um fator que leva a mulher a tomar decisões que impactam em sua carreira. Cássia conta que decidiu trocar de emprego durante a gravidez para garantir mais estrutura e segurança para ela e para o bebê que estava chegando. “Embora estivesse em uma ótima empresa, a qual eu tenho grande satisfação em ter trabalhado, me mudei de uma cidade pequena da Bahia para uma cidade maior no Paraná. Mesmo com uma redução salarial, foi uma escolha para que tivesse mais estrutura e tempo com a minha filha”, lembra.

Para ela, o sucesso profissional da mulher requer conscientização sobre o acúmulo de funções do universo feminino. “É preciso que a mulher conte com uma rede de apoio e que seja respeitada em todas as etapas de sua vida, como quando se torna mãe, momento em que é necessário que o empregador e até os colegas compreendam que a maternidade exige novos desafios e equilíbrio para conciliá-los”, completa.

Oportunidades 

“Existe um estudo que mostra que as mulheres têm uma tendência maior de não participarem de um processo seletivo quando não tem todos os requisitos da vaga. Ou seja, muitas mulheres acreditam que não são boas o suficiente. Quantas coisas as mulheres poderiam fazer e não fazem por pensarem que não são capazes?”. Quem alerta é Sara Siqueira, psicóloga e uma das fundadoras da Folks RH, empresa de consultoria em gestão de pessoas, que atua com recrutamento e seleção.

Sara também reforça como a tecnologia é um gargalo da participação feminina. “Na maioria das vagas vemos certa igualdade entre os candidatos, porém, na área de tecnologia ainda são mais homens”, relata. Mas, há exemplos que estão mudando esse cenário. “No início do ano fizemos o processo seletivo de Trainee de Desenvolvedores do Biopark e ficamos muito felizes em terem sido aprovados dois homens e duas mulheres. As mulheres participantes da seletiva estavam tão capacitadas quanto os participantes do sexo masculino, e por isso alcançamos esse resultado equilibrado”, acrescenta.

Para Sara, que também enfrenta os desafios de ser mulher e empreendedora, a forma como mulheres enfrentam determinadas situações são importantes para seu posicionamento na carreira. “Como psicóloga, vejo que uma das principais mudanças é não deixarmos que certas atitudes que rebaixam a mulher sejam consideradas normais, tanto em um relacionamento abusivo ou no mercado de trabalho. Além disso, a união é fundamental, precisamos cuidar uma das outras”, completa Sara.

Mulheres no Biopark 

As empresas Maxicon, LagBio e Folks RH são exemplos de negócios que têm mulheres à sua frente, mas elas possuem mais um fator em comum: as três empresas fazem parte do ecossistema do Biopark – que também tem uma mulher como fundadora, a empreendedora Carmen Donaduzzi.

Farmacêutica com mestrado e doutorado em biotecnologia, também foi uma das fundadoras da indústria Prati-Donaduzzi onde sempre esteve à frente de áreas relacionadas à pesquisa, qualidade e produção de medicamentos. “Temos muitos exemplos de mulheres que ousaram e conquistaram espaço em áreas como inovação, pesquisa e tecnologia. Nós mulheres temos que assumir várias responsabilidades, por isso, somos determinadas e resilientes, e esses são fatores importantes para chegarmos onde queremos”, diz.

Sobre o desafio das mulheres em empreender, serem esposas e mães, Carmen compartilha sua motivação. “Tudo isso é possível quando se faz o que gosta. Eu sou aficionada pelo o meu trabalho, é o que me faz levantar da cama todos os dias e continuar firme”, finaliza.

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