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Politização, protecionismo e o oligopólio da indústria farmacêutica ameaçam a vacinação em massa da população do planeta, afirmam especialistas

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Politização, protecionismo e o oligopólio da indústria farmacêutica ameaçam a vacinação em massa da população do planeta, afirmam especialistas 

Atualmente, 10 países – incluindo o Brasil – concentram 75% das doses aplicadas da vacina contra a Covid-19. Cerca de 130 países não receberam nada ou doses muito pequenas

 

“Temos no planeta quase 8 bilhões de pessoas, o que indicaria a necessidade de cerca de 16 bilhões de doses de vacinas contra a Covid-19. Atualmente, somando todas as promessas dos laboratórios, temos de 9 a 10 bilhões produzidas em apenas 11 países”. Com esta afirmação, o diretor médico do Instituto Ética Saúde, Sérgio Madeira, deu início ao webinar ‘Vacinas: mercado, geopolítica e desafios éticos’, no dia 12 de março. Na abertura, o presidente do Conselho de Administração do IES, Eduardo Winston, deu boas-vindas aos convidados: o ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, Rubens Barbosa, e o professor Titular e Pesquisador na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e presidente do Conselho de Ética do IES, Celso Grisi.

Rubens Barbosa fez uma contextualização do cenário e governança globais, para então analisar a geopolítica. Para ele, a politização e o protecionismo dificultam a imunização contra a covid-19 nas nações mais pobres. “Como hoje há falta de confiança no esforço de cooperação internacional, os países ricos seguram seus próprios suprimentos, como aconteceu na Europa, onde se criou o que eles chamam de aliança das vacinas e proíbem as exportações. Todos procuraram defender sua própria casa”, destacou.  Diante desse cenário, a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) trabalham para o compartilhamento das doses. “Isso é importante porque começa a ter um esforço para a produção local desses imunizantes”.

O ex-embaixador apontou que o mais dramático no momento atual da pandemia da Covid-19 é o uso político da vacina. E citou três países que se destacam neste sentido: China, Índia e Rússia. “O soft power – ou influência indireta – que estamos vivendo neste momento é muito importante. E começa a motivar uma reação de outros países, o que vai aumentar o uso político da vacina”, alertou.

O professor Titular e Pesquisador na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e presidente do Conselho de Ética do IES explicou a estrutura da indústria farmacêutica mundial, destacando o perfil extremamente oligopolizado. “É uma cadeia produtiva que exige conhecimento sobre matérias primas e técnicas específicas. Não podemos pedir para que a população mundial pague por erros cometidos no setor. Não podemos deixar que desvios éticos, como o egoísmo exacerbado dos países mais avançados em sua economia, aconteçam. Na medida em que eles chamam para si esse privilégio da aquisição das vacinas, eles instituem mundialmente o fura-fila e a carteirada: eu tenho dinheiro eu posso fazer”, defendeu Celso Grisi.

O economista lembrou ainda que “sem vacina, os países mais pobres não se recuperarão e não fornecerão bens intermediários necessários para as economias avançadas e não terão o mesmo nível de demanda para as exportações das economias mais ricas. “Estudo da Câmara Interacional do Comércio (ICC) afirma que o atraso no controle da pandemia nas economias emergentes destruiria US$ 4,4 trilhões na produção mundial de 2021”.

Grisi citou que o Brasil é referência mundial na produção de vacinas, além de distribuir 25 tipos, gratuitamente, o país ainda exporta doses para mais de 70 diferentes nações. Sérgio Madeira finalizou o evento clamando que “o Governo Federal retome a liderança no plano nacional de imunização, num processo de comunicação intensiva e maciça com a sociedade”.

O webinar completo está disponível no Youtube do Instituto Ética Saúde: https://www.youtube.com/watch?v=8HAOcXR8_pA

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