Objetivo é fortalecer a cadeia do café e apoiar um dos elos mais atingidos pela pandemia, microtorrefações e cafeterias
A pandemia da Covid-19 atingiu em cheio um dos elos da cadeia do café, as microtorrefações especializadas e cafeterias. Forçadas a fecharem as portas durante o período de distanciamento social, para evitar ainda mais perdas, duas empresárias do setor se uniram e criaram o projeto Adote uma Microtorrefação, que busca viabilizar recursos para a aquisição de cafés especiais por pequenas empresas do setor e garantir a comercialização da safra de 2020, que começa neste mês de abril. Para isso, procuraram os produtores de cafés especiais de regiões com Indicação Geográfica (IG) consolidadas no país.
Ao todo, cinco IG brasileiras, que possuem selo de origem, participam da campanha, que tem o apoio da Probat Leogap e Sebrae: Alta Mogiana, Cerrado Mineiro, Mantiqueira de Minas, Matas de Minas e Norte Pioneiro do Paraná. Produtores foram conectados para um trabalho de doação mútua. Eles doam uma parte de café cru para as microtorrefações, em troca da compra de sacas pelas empresas; e as microtorrefações, por sua vez, doam parte do café torrado para as cafeterias, nas mesmas condições.
O marketing do selo de origem ficará por conta das cafeterias. O objetivo é promover a educação do consumidor ao mostrar a diversidade das IG brasileiras e contar as histórias de cada produtor.
A empresária paranaense e uma das idealizadoras da campanha Georgia Franco Souza, de Curitiba, comemora a adesão de 47 produtores e as inscrições de mais de 40 microtorrefações do país.
“Fizemos uma seleção dos inscritos, promovemos um encontro virtual entre todos os microtorrefadores e distribuímos o café que foi doado de acordo com as necessidades. Procuramos levar novidades aos torrefadores para eles divulgarem selos de regiões que ainda não tinham”, conta.
Segundo Georgia, o encontro foi similar a uma rodada de negócios, já que as torrefações tiveram a oportunidade de conhecer novos produtores.
“O frete é caro. Por isso, precisamos descentralizar as compras para que o público tenha oportunidade de tomar café fresco e bem torrado em todo o país”, afirma. Ela destaca a importância de o consumidor entender o significado do selo de origem. Os cafés serão distribuídos com um QR Code para facilitar o acesso aos dados dos produtos.
Parceira e idealizadora do projeto, Paula Dulgheroff, de Uberlândia, Minas Gerais, diz que três produtores paranaenses, com cafés acima de 85 pontos de acordo com metodologia SCAA de Avaliação Sensorial, participam da campanha. Os cafés com selo de origem do Norte Pioneiro do Paraná chegarão a cafeterias de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Pernambuco. Ao todo, 29 produtores doaram e comercializaram seus cafés para 17 microtorrefações brasileiras.
“Movimentamos cerca de 70 sacas de café”, calcula. O preço médio da saca é de aproximadamente R$ 1,2 mil.
Campanha fortalece cadeia
Para entender melhor o impacto da crise no Brasil, que é hoje o maior produtor de cafés especiais no mundo, as organizadoras da campanha destacam que elos da cadeia vão muito além dos comerciais. Baristas e mestres de torra visitam as fazendas e participam da escolha das variedades de cafés, assim como dos processos de colheita e pós-colheita, e dão feedback aos produtores sobre a reação dos consumidores para cada produto.
Em contrapartida, as cafeterias e microtorrefações, que investem no desenvolvimento cultural e técnico do setor com suas escolas de capacitação, recebem os produtores para ensiná-los e treiná-los em torra e preparo de cafés especiais, criando oportunidades de contato entre cafeicultores e consumidores finais. Todo esse investimento de tempo e dinheiro para oferecer cafés de alta pontuação aos clientes poderia ser perdido se as pequenas torrefações, afetadas pela crise, não tivessem recursos para comprar os lotes de 2020.
O consultor do Sebrae/PR, Odemir Capello, diz que a iniciativa é importante para promover os cafés com Indicação Geográfica e também para levar um produto de alta qualidade até as pequenas torrefações e clientes que apreciam a bebida. “A divulgação dos cafés especiais deve resultar numa melhora da remuneração dos produtores e trará mais visibilidade para as IG no Brasil todo”, aponta.
O produtor e presidente da Cooperativa de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (COCENPP), Ricardo Batista dos Santos, é um dos participantes da campanha. Para ele, a adesão à iniciativa é importante para divulgar o selo de origem dos cafés especiais produzidos no norte pioneiro e levar o produto para regiões em que ainda não é conhecido pelo público amante da bebida. “Além disso, demos suporte para as cafeterias nesse período de crise”, ressalta.
De acordo com Santos, as vendas para cafeterias cresceram no último ano e, hoje, o café especial do norte pioneiro do Paraná já pode ser degustado em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo. Com previsão de boa safra e demanda crescente, o produtor diz estar otimista com as vendas. “As cafeterias oferecem muito valor agregado na compra do café, o que é um reconhecimento ao esforço dos produtores”, afirma.