Manter as escolas abertas é uma questão científica

Celso Hartmann*

A pandemia de Covid-19 mostrou-se um grande desafio para a sociedade brasileira no primeiro trimestre de 2021. Após um final de 2020 em que a esperança foi renovada, com a curva de contágio e de mortes descendente, a economia em recuperação, as escolas reabertas (mesmo que com restrições), e o anúncio da chegada das primeiras vacinas viáveis contra o coronavírus, chegamos ao início do segundo trimestre de 2021 em meio ao crescente número de contágios e mortes no Brasil, escolas fechadas e economia instável.

O momento é de reflexão, de absoluto respeito pela dor das famílias atingidas pela pandemia, mas também é de ação e de preparação para a retomada. A 24ª pesquisa anual global de CEO’s da PwC (disponível em https://www.pwc.com.br/ceosurvey) mostra que 85% dos presidentes de empresas brasileiras acreditam que a economia global terá um desempenho melhor em 2021, além de indicarem uma retomada moderada na contratação de funcionários.

Para que esse otimismo em relação ao futuro próximo se torne realidade, precisamos tratar do presente com austeridade e responsabilidade, tendo como premissa básica e inegociável a plena observância dos preceitos científicos. Em caso de necessidade de lockdown, as escolas, espaços seguros para as crianças, precisam ser as últimas instituições a fechar e as primeiras a reabrir, para aqueles que precisam produzir tenham tranquilidade para trabalhar, sabendo que seus filhos estarão bem cuidados, aprendendo, evoluindo e convivendo.

A ciência afirma que crianças raramente desenvolvem formas graves da Covid-19 e que a transmitem menos que os adultos (um bom resumo atualizado pode ser acessado em https://glo.bo/3sMFG7u). Além disso, as escolas, quando devidamente ajustadas para funcionar seguindo um protocolo sanitário rígido, não são focos de transmissão da doença – pelo contrário, atuam como locais onde as crianças aprendem efetivamente a seguir boas práticas em relação aos cuidados com sua saúde, sendo orientadas a seguir o distanciamento social, a utilizar o álcool em gel, a lavarem as mãos com frequência, a usarem corretamente a máscara, a trocarem esta última com a correta frequência, enfim, agem como uma escola sempre serviu para a sociedade: como lugar de referência, de disseminação de conhecimento, de informação de qualidade para a população e de aprendizado.

O preço que a sociedade pagará por erroneamente escolher deixar espaços como bares e comércio abertos e as escolas fechadas pode ser alto demais não somente por causa dos transtornos causados aos pais que precisam trabalhar ou por possíveis falhas na adaptação do estudante ao ensino remoto. Novas pesquisas apontam que o isolamento social pode ser um fator importante para o aparecimento de transtornos psiquiátricos, e a escola é o principal espaço de socialização das nossas crianças.

Dentro das instituições de ensino, é preciso valorizar o trabalho da equipe docente. Os protocolos sanitários devem proteger os professores e gestores educacionais, prezando pelas suas vidas, orientando e esclarecendo sobre como se cuidar durante a pandemia.  E os equipamentos de proteção individual devem estar disponíveis para todos. Dentro de uma instituição de referência que é a escola, o professor é o maior ícone, que precisa ser protegido e deve estar contemplado, pelo governo, no grupo prioritário para a vacinação contra a Covid-19.

Escolas fechadas, enfim, devem ser exceção. Uma breve pausa necessária, em caso de agravamento da crise, quando o sistema de saúde estiver sobrecarregado e a cidade efetivamente precisar parar. Fora isso, não há sentido em permitirmos escolas fechadas e demais serviços abertos, população trabalhando e as crianças em casa.

Unidos pela ciência e despidos de meras suposições, em breve estaremos, nós e nossos filhos, com o apoio desta augusta instituição chamada escola e devidamente vacinados, preparados para os desafios que o futuro nos apresentará.

 

*Celso Hartmann é diretor executivo dos colégios do Grupo Positivo.

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