Ensino Médio

Por Wanda Camargo*

O ensino médio, como os demais níveis educacionais, já estava em crise muito antes da pandemia, e esta agravou-se nos últimos dois anos. Educação nunca foi assunto prioritário para o país, é forçoso reconhecer, e erros se acumulam perigosamente nesta etapa tão importante para a formação pessoal e profissional de nossos jovens.

Um dos enganos, entre outros, é o de raramente – ou nunca – ouvir docentes de diferentes gerações em escolas públicas e privadas que atuam no ensino médio e, especialmente, em vários níveis de experiência, com diferentes visões do processo de ensino-aprendizagem a cada vez que se pensa em mudar algo, inserir alguma novidade tirada da cartola, ou apresentar a nova cloroquina que resolverá todos os problemas da área. Nos últimos tempos, em busca de visibilidade midiática, assuntos técnicos têm sido tratados por profissionais de muitas áreas, com pouca presença de professores atuantes entre eles.

A partir de 1985 com os avanços registrados pela Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as mudanças curriculares propostas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) implicaram na ampliação da oferta do ensino médio, para que todos pudessem concluir a educação básica, já que desde 2009 a frequência às instituições de ensino foi definida dos 4 aos 17 anos, o que torna o ensino médio obrigatório, e é importante para o reconhecimento político e social do quanto isso é essencial para o desenvolvimento econômico brasileiro.

De uns  tempos para cá uma organização diferente para o ensino médio está sendo proposta, mas, a ênfase parece ser a de diminuição da carga horária em ciências humanas, como se estas nada contribuíssem para a formação de toda uma geração, demonstrando cabalmente a falta de entendimento dos sentidos e significados do ensino médio ao longo da história.

A função social da escola, como espaço de interação, é o da garantia de futuro profissional, mas também o convívio respeitoso entre opiniões diversas, entre várias gerações e representantes da comunidade. A recente e ainda incompleta mudança na concepção pedagógica propõe colocar o estudante no centro do processo, valorizando suas vivências e posicionamentos, permitindo uma participação mais ativa do aluno em sua própria educação.

No entanto, no momento presente apenas assistimos a tentativa de implantação progressiva das escolas militarizadas, focadas na obediência e hierarquia, como se estes fatores pudessem trazer magicamente a inovação, o empreendedorismo e a criatividade.

Evidentemente os colégios militares já existentes no país são muito bons, prestam relevante serviço à comunidade e preparam eficientemente seus estudantes; mas muitos esquecem que possivelmente isso acontece por serem poucos, albergarem aqueles efetivamente vocacionados para o magistério, receberem alunos extremamente selecionados em reduzido número de vagas.

Esta não é a realidade do ensino de massa, que precisa atingir qualidade e preparar o bom cidadão, por meio do diálogo, da competência de muitos e de políticas educacionais adequadas, dado que deficiências de base, ao lado de dificuldades financeiras e muito pouco acesso às novas tecnologias tornam bem mais difícil atingir estes objetivos.

Enquanto na maior parte de outros países parece crescer a percepção do quanto a boa educação modifica, e muito, a ordem econômica e cultural, a sensação clara é de regressão por estas bandas, no respeito à escola e professores, na agenda de inclusão e na compreensão das diferenças de estrangeiros e minorias. A exclusão dos diferentes parece em pleno andamento, o discurso do ódio predomina em nossas redes sociais e na rotina de nosso dia-a-dia, mostrando bem a falta que fazem as boas escolas em tempos de pandemia.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil

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