quarta-feira, 18 dezembro 2024
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Momento de silêncio e Barão do Rio Branco

Paiva Netto

Há décadas, estabelecemos a cerimônia de um instante de silêncio antes da oração que sempre inicia as atividades diárias nas Instituições da Boa Vontade, no intuito de fortalecer a ligação das equipes solidárias das IBVs com a Espiritualidade Superior, fato que vem se tornando prática cotidiana em empresas.

Já comentei nas minhas preleções no rádio e na televisão algo da história do momento de silêncio; no entanto, não custa relembrar. Em 10 de fevereiro de 1912, faleceu o diplomata, professor e jornalista José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), o Barão do Rio Branco, um dos maiores chanceleres, senão o maior, que o Brasil conheceu. Era filho do Visconde do Rio Branco, o criador da Lei do Septuagenário — aos 70 anos os escravos estariam libertos, contudo, quantos alcançariam essa idade?

A morte de Paranhos Júnior foi muito lamentada. Quando a notícia chegou a Lisboa, a Câmara dos Deputados, sob o comando de Aresta Branco (1862-1952), suspendeu a sessão por meia hora, como era tradicional, em respeito ao ilustre diplomata. Porém, o Senado, no dia posterior, cuja presidência estava a cargo de Anselmo Braamcamp (1849-1921), secretariado por Bernardino Roque e Bernardo Paes de Almeida, inovou o costume. O presidente fez uma pausa na reunião e destacou: “Os altos serviços por aquele estadista prestados a Portugal e a circunstância de ser ele ministro quando o Brasil reconheceu a república portuguesa”, conforme o registro do lisboeta Diário de Notícias, que ainda anotou: “Honrou também o Barão do Rio Branco as tradições lusitanas da origem da sua família e por tudo isso propôs que durante dez minutos, e como homenagem à sua memória, os senhores senadores se conservassem silenciosos nos seus lugares. Assim se fez…”.

Foi a deferência ao grande brasileiro que retornara à Pátria Espiritual.

O Cristo interno

Diante da vida tão atribulada que levamos, surge a argumentação: “É dificílimo obter um minuto de silêncio, que seja, com as crianças correndo, num feliz alarido, o vizinho com o som superelevado, aquela britadeira em frente da minha janela, ou com os mil problemas que tenho de enfrentar. Sinto muito, mas não consigo”.

Consegue, sim! Não falo restritamente da quietude física. Refiro-me em especial àquela buscada dentro do Espírito. Você mesmo, às vezes num ônibus barulhento, apinhado, quente, o tráfego intenso, desliga-se pensando naquela questão que precisa sanar. Nada em volta o perturba ou o estorva. E quando desce do coletivo diz: “Puxa vida! Parecia impossível sair de tamanha enrascada e agora, naquele bendito ônibus, embora jogando calor em mim, a solução apareceu”. Por quê?! Porque você entrou no silêncio, dialogou com o seu Cristo interno, com a ajuda do Espírito Santo.

Tudo na existência material é relativo. Basta ver que nas guerras pessoas se matam na presença de paisagens extraordinárias que Deus lhes oferece para acender no âmago justamente a vontade de viver.

Maior riqueza

Os guris estão correndo, abrindo a geladeira, está uma confusão no meio da rua? Você saberá entrar no silêncio de si mesmo, de si própria, para sentir no íntimo a influência divina. Aproveite esses instantes de meditação, leia o Santo Evangelho de Jesus, riqueza imensa deste e do Outro Mundo, e verá quantos benefícios a sua vida receberá. Mas, primeiro, vamos aplacar os ruídos da Alma.

Em Ao Coração de Deus — Coletânea Ecumênica de Orações (1990), fiz constar a prece Aos de Boa Vontade, de autoria do Taumaturgo da Úmbria, Francisco de Assis, o qual considero o Santo do Ecumenismo. Apresento-a, a seguir, numa homenagem aos que, sem fronteiras, pelo mundo, difundem os ideais de Amor e Justiça.

“Senhor!

“No silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-Te a Paz, a sabedoria, a força.

“Quero hoje olhar o mundo com os olhos cheios de Amor.

“Quero ser paciente, compreensivo, prudente.

“Quero ver, além das aparências, Teus filhos como Tu mesmo os vês, e assim, Senhor, não ver senão o Bem em cada um deles.

“Fecha meus ouvidos a toda calúnia, guarda a minha língua de toda a maldade.

“Que só de bênçãos se encha a minha Alma.

“Que eu seja tão bom e tão alegre que todos aqueles que se aproximem de mim sintam a Tua presença.

“Reveste-me de Tua beleza, Senhor, e que no decurso deste dia eu Te revele a todos.”

Amém! Louvado seja Deus!

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com

 

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