Por Wanda Camargo
O ato de escrever, prazeroso para alguns, tormento para outros, implica na posse de competências de uso da linguagem que podem ser desenvolvidas na escola, e embora alguns tenham um certo talento inato, mesmo esses desenvolvem melhor a aptidão com um pouco de estudo sobre algumas técnicas de boa redação, ao lado de um pouco de aprofundamento sobre o assunto que deseja abordar.
Um requisito essencial para um bom desempenho na melhoria de habilidades evidentemente está na leitura, costuma escrever bem aquele que lê bem, embora algumas vezes a recíproca não seja verdadeira; porém um mínimo de desenvoltura todos podem adquirir, e é preciso lembrar que as situações de avaliação, não apenas na escola mas também na vida profissional, pressupõem a expressão por escrito de um conhecimento adquirido, do uso de ferramentas de aprendizagem, nos processos de aquisição e organização do conhecimento.
A linguagem escrita, pelas suas características, pode ser considerada facilitadora da estruturação do pensamento, da realização de uma tarefa específica, e principalmente no desenvolvimento do raciocínio lógico e formal. Escrever facilita não apenas a reflexão, mas também a geração, a organização e o aprofundamento das ideias, é um contexto especializado de comunicação, e comumente caracteriza um certo grupo profissional que dela faz uso. Basta imaginar aquilo que chamamos “grafia de médico”, exagero que interpretamos muito em função da letra, mas que expressa um conceito popular desta profissão.
Escrever bem implica não apenas em colocar ideias no papel – mesmo que um computador faça as vezes deste receptáculo – mas ordená-las, reagrupando parágrafos, coordenando os assuntos em sequência lógica, e dar um acabamento ao texto, pois correção gramatical, concordância e um certo estilo são indispensáveis, para maior clareza e objetividade.
Sem esquecer que o estudo do tema transparece durante o processo, explanar bem sobre um assunto do qual não se tenha o menor domínio será quase impossível, mesmo que as palavras utilizadas não contenham erro. O adágio popular diz que um bom escritor não precisa falar, precisa escrever, mas escrever sem pensar é bastante improvável; estudar um tema, ouvir opiniões diversas e até contraditórias sobre ele, reforça a segurança de seu ponto de vista e fornece bons argumentos, sendo particularmente recomendável nestes tempos de “opinião única”, de grupos reunidos em torno de ideias pré-concebidas (de forma geral bem superficiais e preconceituosas), de intolerância aos dissenso, de agressões a todos aqueles que não raciocinam dentro da mesma fôrma que os demais; escrita demanda pensamento.
Ao longo da história humana a escrita se desenvolveu, partimos de simples registros de imagens de animais ou cenas de caça em cavernas até o moderno celular, mas o objetivo foi sempre o de nos comunicarmos, de transmitirmos informações concretas sobre alimentos, sobre segurança, sobre sobrevivência, mas também notificações sobre nossos medos, nossas inseguranças ou alegrias. No real e no virtual, o exercício da escrita é relevante e essencial, muito de nossas opiniões e legado de nosso conhecimento se fazem por meio dela.
E a escola, onde ampliamos e melhoramos o ato de escrever, lugar do debate, das múltiplas ideias, das teorias que se complementam, contradizem ou pelo menos se superam, estimula a clareza, a coerência e o registro. Cursos superiores normalmente finalizam com um Trabalho de Conclusão de Curso, mestrados com uma Monografia e doutorados com um Tese, pois constituem a evidência do aprendido, o certificado de que se está pronto para exercício profissional, pois o mundo do trabalho demandará escrita em muitas oportunidades.
Um grande conselho que frequentemente nos dão é o de, quando envolvido por grandes problemas, escrever sobre ele: como surgiram, seus possíveis motivos, como transcorreram, estágio atual, prováveis soluções e/ou atitudes a serem tomadas.
Isso costuma trazer clareza, como se o ato da escrita trouxesse altura, largura e profundidade para a situação enigmática, auxiliando a disseca-la e resolvê-la. Mas certamente escrever traz muitas outras vantagens à nossa vida, a capacidade de expressar sentimentos, de posicionamento diante do Outro, seja ele um amigo ou oponente; muitas desavenças nascem e se ampliam apenas na má comunicação verbal ou escrita.
Nem todos nascemos para ser escritores, mas todos queremos ser melhor compreendidos, o hábito de escrever auxilia muito neste intento.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.