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Pandemia causou queda drástica em diagnósticos de câncer de pele; saiba fazer o autoexame

No Brasil, houve uma queda de 48% nos pedidos de biópsias para detecção do câncer de pele, enquanto dados internacionais apontam que os diagnósticos de melanoma caíram 28% de abril a novembro de 2020 durante a pandemia em comparação com 2019.

Pandemia causou queda drástica em diagnósticos de câncer de pele; saiba fazer o autoexame

A pandemia está dificultando os diagnósticos de câncer de pele, o que compromete as chances de cura, uma vez que o tratamento precoce é a chance mais valiosa de se ver livre do melanoma – o tipo de câncer de pele mais agressivo. No Brasil, de janeiro a setembro do ano passado, houve uma queda de 48% nos pedidos de biópsias para detecção do câncer de pele (de 210.032 pedidos em 2019 para 109.525 em 2020) segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia. Enquanto isso, dados internacionais apontam que os diagnósticos de melanoma caíram 28% de abril a novembro de 2020 durante a pandemia Covid-19 em comparação com o ano anterior. “Essa é uma situação preocupante. A queda nos casos de câncer de pele se deve ao número reduzido de pessoas que consultaram seu médico sobre potenciais cânceres de pele durante a pandemia”, explica a Dra. Letícia Bortolini, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. No Brasil, todos os estados, com exceção de Sergipe, registraram queda nos diagnósticos no ano passado.

Diagnosticar precocemente a forma mais letal do câncer de pele (melanoma) é um desafio crucial, que deve ser feito com ajuda do dermatologista ao observar sinais na pele do paciente. “Normalmente, os melanomas são diagnosticados depois que o paciente ou seu dermatologista notam um local suspeito durante uma verificação regular da pele. Quando descoberto cedo, eles são facilmente tratados. Mas quanto mais tempo um melanoma não é descoberto, mais perigoso ele se torna. A taxa de sobrevivência cai para 63% quando a doença atinge os nódulos linfáticos e 20% quando a doença atinge, em metástase, órgãos distantes”, explica a médica dermatologista.

Embora a consulta com o dermatologista seja fundamental, você também deve ficar atento aos sinais que aparecem no seu corpo. “A principal causa do melanoma é genética, mas a exposição solar também influencia no aparecimento da doença — principalmente com os elevados índices de radiação que atingem níveis considerados potencialmente cancerígenos, onde ocorre exposição à radiação UVA/UVB E IR (infravermelho). O filtro solar deve ser usado diariamente independentemente da estação do ano. A fotoexposição sem a devida proteção, ao longo dos anos, pode gerar lesões novas ou modificar aquelas que já existiam previamente na pele de qualquer pessoa. A exposição solar frequente é preocupante e, muitas vezes, as pessoas não percebem a medida o ‘sol silencioso’ no trabalho de campo, no dirigir ou andar na rua”, explica a médica.

Embora o diagnóstico de melanoma normalmente traga medo e apreensão aos pacientes, as chances de cura são de mais de 90%, quando há detecção precoce da doença, segundo a SBD. “Por isso, a realização do autoexame dermatológico é necessária”, explica a Dra. Letícia.

O autoexame deve ser realizado por todos, mas principalmente nas pessoas de pele clara, aquelas que possuem antecedentes familiares de câncer de pele, têm mais de 50 pintas, tomaram muito sol antes dos trinta anos e sofreram queimaduras. Quem tem lesões em áreas de atrito, como área da peça íntima, soutien, palma das mãos, planta dos pés e área do couro cabeludo, também deve seguir as instruções. A indicação também vale para as pessoas que apresentam muitas sardas e manchas por exposição solar anterior, já retiraram pintas com diagnóstico de atípicas, não se bronzeiam ao sol, e consequentemente acabam adquirindo a cor vermelha com facilidade e apresentam qualquer lesão que esteja se modificando. “Podemos realizar este procedimento com certa regularidade, uma vez por mês, na frente do espelho e de preferência com luz natural, para verificar o surgimento de alguma mancha, relevo ou ferida que não cicatriza”, indica a médica. As dicas para o autoexame são:

  • Examine seu rosto, principalmente o nariz, lábios, boca e orelhas.
  • Para facilitar o exame do couro cabeludo, separe os fios com um pente ou use o secador para melhor visibilidade. Se houver necessidade, peça ajuda a alguém.
  • Preste atenção nas mãos, também entre os dedos.
  • Levante os braços, para olhar as axilas, antebraços, cotovelos, virando dos dois lados, com a ajuda de um espelho de alta qualidade.
  • Foque no pescoço, peito e tórax. As mulheres também devem levantar os seios para prestar atenção aos sinais onde fica o soutien. Olhe também a nuca e por trás das orelhas.
  • De costas para um espelho de corpo inteiro, use outro para olhar com atenção os ombros, as costas, nádegas e pernas.
  • Sentada (o), olhe a parte interna das coxas, bem como a área genital.
  • Na mesma posição, olhe os tornozelos, o espaço entre os dedos, bem como a sola dos pés.

De acordo com a dermatologista, este tipo de cuidado de rotina, principalmente para quem tem a pele muito clara e com muitas pintas, promove consciência e aguça o olhar sobre as lesões, aumentando a percepção de mudança ou seu crescimento. O passo seguinte, ou mesmo em caso de dúvida, é visitar o dermatologista.

Lesões preocupantes

Para saber se uma lesão é mais preocupante, normalmente é usada a regra do ABCD (área, borda, cor e diâmetro) sobre pintas com pigmentação. “Dividimos a lesão em quatro partes iguais e comparamos os quadrantes observando a simetria, avaliamos as bordas identificando irregularidade na forma de desenhos circinados, observamos a presença ou não de várias cores compondo esta figura e observamos se apresenta diâmetro acima de 6 mm”, comenta a dermatologista Dra. Letícia. Quanto aos sinais clínicos, qualquer lesão que coce, doa ou sangre e que aumente de tamanho com rapidez ou apresente sensibilidade, precisa ser examinada por um dermatologista, que fará então uma dermatoscopia manual ou de preferência digital avaliando a necessidade da retirada cirúrgica.

Além de prevenir o surgimento do melanona, o autoexame, por ser uma avaliação em que o paciente começa a detectar precocemente lesões que apresentam sinais e sintomas diferentes dos habituais ou que estão crescendo, proporciona visitas precoces ao dermatologista que decidirá sobre o tratamento terapêutico em questão com chances maiores de cura. “Outra lesão que hoje é bastante comum, principalmente após a quinta e sexta década de vida são os carcinomas, tanto provenientes da camada basal, como da camada espinhosa da epiderme, que quando diagnosticados também com rapidez trazem 100% de cura ao paciente”, finaliza a dermatologista.

FONTES:

DRA. LETÍCIA BORTOLINI: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. À frente da clínica Enlapy, em Cuiabá, a médica é formada em Medicina pela Universidade de Cuiabá, com especialização em Dermatologia pela Fundação Souza Marques (São Paulo/SP) e em Clínica Médica pelo Hospital Guilherme Álvaro (Santos/SP).

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