Biólogos da Universidade de Oregon usaram um organismo modelo para identificar os mecanismos moleculares que produzem danos ao DNA no esperma e contribuem para a infertilidade masculina após a exposição ao calor.
O calor direcionado na região dos testículos, proveniente de roupas apertadas e abafadas, peças de tecidos que impedem a ventilação, banho quente, laptop no colo, sobrepeso, pode ser cruel para os espermatozoides. Os biólogos da Universidade de Oregon usaram o organismo modelo Caenorhabditis elegans, uma lombriga, para identificar os mecanismos moleculares que produzem danos ao DNA no esperma e contribuem para a infertilidade masculina após a exposição ao calor. “Em humanos, a temperatura ideal para a produção de espermatozoides está logo abaixo da temperatura corporal, em uma faixa de cerca de 32-35ºC. Estudos em humanos descobriram que a exposição a temperaturas 1ºC maior que essa faixa já pode afetar a produção momentânea de espermatozoides”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.
O fenômeno da infertilidade masculina induzida pelo calor é bem conhecido, e os efeitos das exposições modernas ao calor, como banheiras de hidromassagem, roupas apertadas e tempos excessivos de direção, foram amplamente estudados. Mas os mecanismos subjacentes que danificam os espermatozoides e prejudicam a fertilização não são completamente compreendidos. “Tanto em humanos quanto em lombrigas, aumentos relativamente pequenos na temperatura são suficientes para reduzir a fertilidade masculina”, diz o médico.
Um aumento de 2ºC acima do normal em C. elegans, um tipo de lombriga, levou a um aumento de 25 vezes no dano ao DNA no desenvolvimento de espermatozoides em comparação com espermatozoides não expostos. Os óvulos fertilizados por esses espermatozoides danificados não produziram descendentes. Esta descoberta é detalhada em um artigo publicado online em outubro de 2020 na revista Current Biology.
Segundo o Dr. Rodrigo Rosa, o estudo fornece um roteiro para os cientistas perseguirem estudos em mamíferos e humanos para confirmar se os mesmos mecanismos contribuem para a infertilidade masculina. “O trabalho mostra um efeito ambiental que altera as sequências específicas de DNA e, provavelmente, as proteínas que controlam sua atividade”, explica o Dr. Rodrigo Rosa. O artigo também ajuda a entender como a meiose, o processo que produz as células sexuais, difere entre espermatozoides e óvulos.
O esperma, a menor célula do corpo de uma pessoa, se forma aos bilhões em temperaturas abaixo da temperatura corporal e é produzido durante toda a vida adulta. Os óvulos, as maiores células do corpo de uma mulher, são formados internamente, onde uma temperatura consistente é mantida, e são produzidos apenas por um período limitado durante o desenvolvimento fetal. “Sabemos que o desenvolvimento do esperma é muito sensível ao aumento da temperatura, enquanto o desenvolvimento do óvulo não é afetado”, diz o Dr. Rodrigo.
Os homens que podem se beneficiar mais se prestar atenção ao tipo de roupa íntima e se afastar de banhos quentes são aqueles que já estão tendo problemas de fertilidade. “No entanto, é de vital importância que os homens que sofrem com a infertilidade procurem médicos especialistas para identificação de fatores de risco modificáveis do estilo de vida”, finaliza o Dr. Rodrigo Rosa.
FONTE:
*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.