Mesmo diante das adversidades do cenário econômico do país, que seguem desafiadoras para os brasileiros, o mercado de venda de novos imóveis segue aquecido. De acordo com o Sindicato do Mercado Imobiliário Secovi-SP, em maio foram comercializados 5.883 unidades residenciais na capital paulista, um volume 44,1% superior no comparativo com o mês anterior e 144,6% acima do registrado em igual período do ano passado.
Diante de um mercado tão aquecido em função das novas demandas do morar, um dos atributos oferecidos pelas construtoras é a possibilidade do morador personalizar seu futuro apartamento adquirido na planta. Mas, na prática, o que essa vantagem significa para o comprador? Para a arquiteta Cristiane Schiavoni, à frente do escritório que leva seu nome, a customização dos imóveis reflete as possibilidades de mudanças que as empresas disponibilizam aos seus clientes. “No passado, a planta era padronizada e ponto final. O comprador é quem deveria se adaptar ao padrão oferecido ou mudar tudo depois de receber as chaves. Nos últimos anos, cada construtora passou a disponibilizar opções que devem ser decididas com antecedência pelos clientes”, explica.
Mas como definir com um prazo tão adiantado, levando em consideração que um empreendimento pode levar de dois a três anos para ficar pronto? É nesse contexto que entra em cena a contratação de um profissional de arquitetura que, junto com o cliente, dará início ao desenvolvimento do projeto de interiores, além de auxiliar nas decisões que farão a diferença após a entrega das chaves.
Acostumada a trabalhar com seus clientes a longo prazo, Cristiane afirma que, ao contrário do que se pensa, o projeto não deve ser iniciado em um calendário mais próximo da finalização da obra, por parte da construtora. “Quando o profissional é inserido desde o início, tudo pode ser definido com muito mais calma e, inclusive, participamos das escolhas concedidas pela construtora. A ideia é fazer com que essas oportunidades sejam inseridas em nosso projeto, otimizando tempo e custos quando for a hora de preparar o apartamento para os moradores se mudarem”, relata.
Ainda de acordo com a profissional, a ideia é exatamente não promover o conhecido quebra-quebra completo de paredes, revestimentos e outras grandes transformações. Apropriando-se das perspectivas ofertadas pelas construtoras, a planta do apartamento pode estar ainda mais próxima do desejado e o porcelanato aplicado ser aquele escolhido pelo proprietário para compor o projeto de arquitetura de interiores. “Conhecendo as preferências e o estilo do décor almejado pelo morador, analisamos e decidimos todos esses pontos”, afirma.
A seguir, Cristiane discorre e complementa sobre os benefícios de planejar com larga antecipação o projeto do futuro apartamento.
– Mas porque tanta antecedência?
O morador pode se perguntar: mas se meu apartamento ficará pronto apenas daqui dois ou três anos, preciso mesmo contratar um especialista com tanta pressa? A resposta é sim! De acordo com Cristiane, esse tempo pressupõe um excelente planejamento financeiro, bem como as escolhas de materiais – segredos para uma obra de qualidade, tranquila e sem sobressaltos. “Nesse tempo em que organizamos todas as etapas, é possível visitar lojas de móveis planejados, comprar materiais elétricos e outros insumos que serão primordiais para a reforma. Com calma, evitamos dores de cabeça e alcançamos o imóvel do jeito que o cliente espera”, relata a arquiteta.
– Comprador x construtora
Como mencionado, foi-se o tempo em que a relação com as construtoras apresentava um molde engessado. No passado, os compradores eram obrigados a aceitar a planta disponível no momento da compra e partir por dois caminhos: ou se encaixava no formato ou alterava completamente. Porém, de um certo tempo para cá, a arquiteta vem acompanhando uma movimentação ainda mais forte do mercado imobiliário que, independentemente do perfil do imóvel, vem buscando acoplar a customização como um diferencial em seus negócios.
“Ainda mais com essa transmutação no conceito de morar que o período da pandemia trouxe para todos os brasileiros, as prioridades mudaram completamente. Cada um, no seu contexto de vida profissional e familiar, descobriu e almeja novas atribuições em seu lar. Até por isso se justifica esse crescimento nas vendas de imóveis novos, tanto em São Paulo como em outras regiões do Brasil”, avalia Cristiane. Muito além dos dados do Secovi-SP, a arquiteta constata essa movimentação pelo comportamento dos seus clientes, que entre 2020 e 2021 optaram pela mudança de imóvel com características que atendam seus momentos atuais – até mesmo partindo para outras cidades.
– Personalização de apartamento
Existem diversas formas de realizar a customização de um apartamento e as circunstâncias variam de acordo com a construtora, condomínio e o prazo de solicitação. Em geral, a empresa responsável pela obra oferece algumas alternativas como revestimentos para pisos e paredes e o material da bancada da pia da cozinha e do banheiro, por exemplo, que podem (ou não), representar um custo adicional. Em outros casos, opções de planta A ou B, com três dormitórios ou duas suítes, dentro da metragem total do imóvel, podem resultar em uma planta mais próxima do aguardado. “A depender do tipo do empreendimento, algumas construtoras personalizam o apartamento por completo, com as definições de paredes e os pontos de elétrica e hidráulicas calculados de forma exclusiva pelo arquiteto à frente do projeto do prédio”, explana Cristiane.
Todavia, a prerrogativa da antecedência é novamente destacada pela arquiteta. Com a complexibilidade que envolve a construção de um empreendimento, a empresa precisa ter as respostas dos moradores para que possam ser incorporadas em seus processos. “Tive um caso recente de uma cliente que perdeu o timing de promover uma mudança significativa em sua cobertura, pois não respondeu no prazo solicitado pela construtora. Com isso, vamos realizar apenas depois da entrega das chaves, deixando de ganhar tempo e dinheiro”, relaciona.
– Moradia adaptável e funcional
Mais do que um projeto bonito, ele precisa atender todas as demandas, hábitos e estilo de vida da família que habitará a residência. Para isso, o projeto precisa ser funcional, adaptável e atender as expectativas. Nesse processo, a arquiteta enfatiza a importância de estabelecer essa relação tão profunda com seu cliente e sinaliza que arquitetura de interiores não é como uma loja de moda fast fashion, que produz roupas padronizadas e em larga escala. “Como em todas as relações, o tempo é sempre senhor do caminho. De todas as conversas e o convívio que começamos a estabelecer, eu posso ouvir os anseios e compreender aquilo que os moradores realmente esperam e buscam encontrar nessa nova casa. Esse processo é primordial para a execução de uma obra com excelência”, compartilha Cristiane, que desenvolveu essa percepção apurada em suas mais de duas décadas de experiência no mercado.
– Sustentabilidade
A destinação correta do lixo é uma questão a ser resolvida pelas pequenas, médias e grandes cidades e, com relação aos resíduos de obra, a questão não é diferente. De acordo com o Sindicato da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP), cerca de 70% dos refugos da construção se concentram, em sua maior parcela, no pequeno gerador que realiza reformas e pequenas obras. “Além da economia financeira para o bolso do cliente, nossa consciência sustentável enquanto cidadãos é outro motivo para não decidir por quebrar tudo aquilo executado pela construtora. Somos todos responsáveis pelos resíduos que são descartados no meio ambiente e diminuir esse descarte de obra um caminho muito salutar”, defende a arquiteta.