Água e escassez

Paiva Netto

No site da Agência Nacional das Águas (www.ana.gov.br), temos o resultado do mapeamento dos 5.565 municípios brasileiros, no que diz respeito “às demandas urbanas, à disponibilidade hídrica dos mananciais, à capacidade dos sistemas de produção de água e dos serviços de coleta e tratamento de esgotos”.

O relatório, intitulado “Atlas Águas: Segurança Hídrica para Abastecimento Urbano no Brasil” revelou que investimentos prioritários atingem 3.059 ou 55% dos municípios pesquisados, correspondendo a 73% da demanda por água do país. Obras nos mananciais e nos sistemas de produção totalizam R$ 22,2 bilhões. Segundo a mesma fonte, elas são “fundamentais para evitar déficit no fornecimento de água nas localidades indicadas, que em 2025 vão concentrar 139 milhões de habitantes, ou seja, 72% da população”.

O levantamento demonstrou ainda que “o Norte e o Nordeste possuem, relativamente, as maiores necessidades de investimentos em sistemas produtores de água (mais de 59% das sedes urbanas). (…) No Sudeste, os principais problemas decorrem da elevada concentração urbana e da complexidade dos sistemas produtores de abastecimento, que motivam, muitas vezes, disputas pelas mesmas fontes hídricas”.

 Problema mundial

Ademais, a gravidade do tema ultrapassa as nossas fronteiras. É o que atesta notícia divulgada pela Agência Lusa e veiculada pelo Portal Boa Vontade (www.boavontade.com): “Mais de um bilhão de pessoas, a maioria vivendo nas grandes cidades, ficará sem água em 2050. A estimativa é de um estudo publicado na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences. De acordo com os cientistas, as más condições sanitárias de algumas metrópoles mundiais agravam o risco para a fauna e a flora. ‘Existem soluções para que esse um bilhão de pessoas tenha acesso à água. Mas isso requer muitos investimentos na infraestrutura e melhor utilização da água’, afirmou o coordenador da pesquisa, Rob McDonald, do centro de estudos privado The Nature Conservancy. Segundo os pesquisadores, se a tendência atual da urbanização continuar, em 2050 cerca de 993 milhões de habitantes das cidades terão acesso a menos de 100 litros de água por dia para viver. Essa quantidade corresponde ao volume de um banho por pessoa. Os cientistas advertem ainda que se forem acrescentados os efeitos prováveis da mudança climática, cerca de outros 100 milhões de pessoas não terão acesso a esse volume de água. O consumo de 100 litros diários é considerado pelos analistas como o mínimo necessário a um indivíduo para as necessidades de bebida, alimentação e higiene. De acordo com a pesquisa, atualmente, cerca de 150 milhões de pessoas consomem menos de 100 litros diariamente. Um cidadão médio que vive nos Estados Unidos, informou o estudo, consome aproximadamente 376 litros de água por dia”.

Além dos investimentos governamentais, é preciso que haja, por parte dos povos, uma conscientização maior sobre o uso dos recursos hídricos. Água é Vida, sem ela torna-se impossível qualquer tipo de existência. Poluí-la é crime de lesa-humanidade.

Reflexos no comportamento

Em Somos todos Profetas (1991), comentei que, com negligência, continuamos profanando-a, como se quiséssemos decretar, nós mesmos, a nossa morte coletiva. Que acabará sobrevindo? O precioso líquido em forma potável transformar-se-á, por sua rareza causada pela insanidade humana, em mais um grave fator de guerra.

Impeçamos que esse drama atinja o mundo todo. Administrar é realmente chegar antes.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.brwww.boavontade.com

 

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