Vírus Sars-Cov-2 pode atacar direta ou indiretamente o cérebro e deixar sequelas importantes, mas acompanhamento médico e alimentação adequada podem contribuir para reverter o quadro
Além de causar diversos problemas respiratórios e nos vasos sanguíneos, o vírus Sars-Cov-2, causador da doença Covid–19, também pode atacar o cérebro. “O cérebro acaba sendo um alvo fácil durante o processo de doença por diversos acontecimentos em simultâneo no corpo. É exatamente por isso que muitas pessoas que foram infectadas pelo vírus Sars-Cov-2 relatam, após algum tempo, sequelas neurológicas, que incluem fadiga, sensação de falta de ar, dores musculares, cefaleia, tontura frequente, dificuldades de memória e concentração, além de insônia”, explica o Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Uma meta-análise publicada no ínicio de junho no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, inclusive, confirmou, após revisar evidências de 215 estudos da Covid–19, que as sequelas neurológicas são regra e não exceção em pacientes curados da Covid–19.
E, curiosamente, o fato de o paciente ter apresentado quadros mais graves ou mais leves de Covid–19 não parece influenciar nas chances de sequelas neurológicas. “Até o momento não sabemos identificar com clareza quais pacientes terão sintomas por mais tempo. Devemos conseguir identificá-los no futuro com maior precisão conforme estudos forem sendo publicados”, diz o médico. Mas, quando o paciente precisou ser internado, existem sintomas mais frequentes após a recuperação. “Com certeza a encefalopatia (distúrbio global do sistema nervoso central, que causa diversos sintomas neurológicos em diversos sistemas cerebrais do paciente) é um desses sintomas, presente em 55% dos pacientes graves e usado como um preditor de desfecho negativo nos pacientes que estão hospitalizados. Dores musculares, dores de cabeça, tontura e fraqueza generalizada foram identificados em cerca de 1/3 dos pacientes na China, Europa e EUA. A famosa redução do olfato (anosmia), possivelmente pela invasão do nervo olfatório pelo vírus e sua inflamação, e as alterações da percepção do sabor (disgeusia) podem chegar a representar 48% dos pacientes. Casos mais raros e bem graves, como o acidente vascular cerebral (AVC) e hemorragia cerebral (o AVC hemorrágico), assim como a trombose venosa cerebral (TVC), também podem ocorrer, mas representam apenas 0.4 a 2.7% dos pacientes internados”, explica.
Causas – De acordo com o especialista, são vários motivos que estão ligados ao ataque ao cérebro na Covid–19, como a falta de oxigênio para o corpo. “Uma das principais disfunções sistêmicas causadas pela Covid–19 é a é a dificuldade de oxigenação do corpo. E o oxigênio é um alimento insubstituível para o cérebro, então mesmo que ele não seja diretamente atacado pelo vírus, o simples fato de uma menor oxigenação já irá exigir mais trabalho do nosso cérebro”, destaca. Outra preocupação são os danos aos vasos. “O vírus pode causar danos no sistema renina-angiotensina do organismo, o que, consequentemente, gera dificuldades de dilatação dos vasos e artérias e maiores chances de formação de trombos, podendo afetar o cérebro.”
A sobrecarga do sistema imune pela alta carga inflamatória também é uma das causas envolvidas nas sequelas neurológicas da Covid–19. “Com relação à disfunção imune, sabemos que o corpo está muito inflamado. Isso acaba, de certa forma, bombardeando nosso cérebro com citocinas e outros fatores pró-inflamatórios, o que dificulta o trabalho dos neurônios e das células que dão suporte aos neurônios. Muito possivelmente também explica algumas confusões mentais, sonolência, apatia e até mesmo delírios”, afirma o neurologista. E, por fim, o próprio vírus pode invadir o cérebro a própria invasão cerebral pelo próprio vírus. “De acordo com estudos de autópsia, a invasão cerebral pelo vírus é comum, mas, curiosamente, não parece ter relação com a gravidade da doença. Sendo assim, mesmo que encontremos o vírus no cérebro, isso não diz que o quadro será grave ou que irá desenvolver danos neurológicos”, completa o Dr Gabriel. Dessa forma, os outros mecanismos citados aparentam ser bem mais responsáveis por tudo que venha a ocorrer no cérebro.
Tratamento – O Dr Gabriel afirma que, para tratar as sequelas neurológicas da Covid–19, é importante consultar um médico, que poderá dar um suporte direcionado para os sintomas mais prevalentes e impactantes. “Mas é fundamental buscar um equilíbrio por todos os lados, incluindo uma boa alimentação, exercício físico regular, cuidados com a mente, como psicoterapias e meditação, e reabilitação das funções que foram prejudicadas, como pulmão. Isso será imprescindível e depende quase que absolutamente do paciente. Então, seja proativo e cuide de você mesmo, enquanto a ciência trabalha para facilitar nossa recuperação pós Covid–19”, recomenda o neurologista
De acordo com a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia, alguns alimentos são especialmente importantes no tratamento dessas sequelas e na recuperação rápida. “Muitos alimentos são condicionais para o bom funcionamento cerebral, incluindo os carboidratos, como cereais e massas integrais, hortaliças e frutas, que devem constituir aproximadamente 50% da dieta, pois a glicose é o principal combustível energético do cérebro, sendo fundamental então manter os níveis de glicemia estáveis e em equilíbrio ideal ao longo do dia”, aconselha a médica. “As castanhas do Pará, amêndoas e sementes, como chia e linhaça, são ricas em vitaminas, minerais e ácidos graxos ômega 3, que reduzem o estresse oxidativo e melhoram o sistema imune, protegendo contra o envelhecimento celular. As sementes de chia e linhaça têm impactos positivos no metabolismo pela grande presença de fibras”, afirma a nutróloga.
A suplementação de certos ativos também pode ser de grande ajuda. Segundo a farmacêutica Patrícia França, gerente científica da Biotec Dermocosméticos, pensando na questão neurológica, suplementos interessantes seriam os Fosfolipídeos de caviar, In.Cell, Lipo PS20 e Modulip. “O FC ORAL (Fosfolipídeo de Caviar) é rico em ômega 3, vitamina E e Astaxantina, por isso confere uma ação anti-inflamatória. A presença de DHA vetorizado em fosfatidilcolina ultrapassa a barreira hematoencefálica e auxilia na saúde neuronal e sua plasticidade”, explica. “No caso do In.Cell, há um pool de aminoácidos essenciais, lipídeos, ômega 3, microminerais e vitaminas. Quanto ao Lipo PS20, esse ativo conta com fosfatidilserina e Fosfatidilcolina, potencializadores cognitivos, também chamados de nootrópicos, que atuam otimizando o aprendizado e a memória através da funcionalidade de biomembranas e integridade do Sistema Nervoso Central. Por fim, Modulip GC, um neuroprotetor, atua restabelecendo a secreção de Fator de Crescimento neural (FCN) e protegendo as terminações nervosas dos malefícios provocados pelo excesso de cortisol formado pela ‘tempestade inflamatória’ desencadeada pela Covid–19”, finaliza a farmacêutica.
FONTES:
*PATRÍCIA FRANÇA: farmacêutica e gerente científica da Biotec Dermocosméticos.
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
*DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).