Diversidade e cognição

Por Wanda Camargo*

De forma geral, seres humanos criados em espaços muito restritos ou sem contato com outras pessoas fora de seu círculo familiar tem mais dificuldade para aceitar outras cores de pele, novas formas de ver o mundo, comportamentos ou tradições que não estejam no rol das conhecidas e adotadas.

Quanto mais contato com a diversidade, mais flexível emocionalmente se torna uma pessoa, e isso é um forte argumento a favor da escola, onde vamos não apenas para aprender os conteúdos das várias áreas do saber, mas também para conviver, conversar, brigar, aliar-se, gostar e desgostar daqueles que não são exatamente iguais a nós. Com professores atentos, dedicados e comprometidos com o ato de ensinar, complementamos muito bem as lições trazidas de casa, as gentilezas, argumentações, solidariedade, controle da agressividade, paciência com o diferente.

Com isso crescem também nossas aptidões para o exercício de alguns papeis sociais, o gosto por melhorar alguns talentos, engendrando uma vontade de vir a desempenhar algumas atividades, mesmo que fora daquelas que vimos no círculo mais próximo; as vezes o filho do médico decide ser engenheiro, o do engenheiro ser artista, o do artista ser economista.

Por estes motivos é essencial que melhoremos o processo educativo, principalmente o de crianças pequenas, cuidando especificamente daquelas em maior situação de vulnerabilidade, pois a elas algumas vezes é designado um trabalho para auxiliar na renda imediata, que as afasta de um futuro com menos penúrias.

As necessidades de aprendizagem de todos os jovens e adultos devem ser atendidas por um acesso equitativo que garanta habilidades para a vida, entre elas um conhecimento básico de matemática, um razoável domínio da leitura e escrita e programas de formação para a cidadania; além de efetivamente combater o analfabetismo, seja entre crianças ou adultos.

Se analisarmos historicamente o analfabetismo, esse fenômeno parece uma questão pública nacional muito ligada ao processo eleitoral. É preciso lembrar que o voto dos analfabetos foi rejeitado no país em 1881, o que reduziu a cerca de 1/8 o número de eleitores antes existentes, um retrocesso em termos da doutrina liberal que imperava à época, e Rui Barbosa censurava análises que marcavam analfabetos como “portadores da cegueira, da ignorância, da incapacidade e da periculosidade decorrentes desta condição”, Paulo Freire em 1968, denunciava a persistência dessa visão “distorcida, que encara […] ora como enfermidade […] ora como uma ‘chaga’ deprimente a ser ‘curada’, […] como a manifestação da ‘incapacidade’ do povo de sua ‘pouca inteligência’, de sua proverbial preguiça”.

Ou seja, todo aquele que olhou com seriedade a triste realidade percebia que a preocupação foi grande em criticar, mas bem pequena em solucionar, esquecendo que a capacidade intelectual de toda a população decrescia na mesma proporção em que crescia o não letramento. Flexibilidade implica em novas formas de pensar, criatividade e inovação, essenciais para o progresso de toda a humanidade.

Empresas voltadas à diversidade tendem a ter um ambiente laboral mais tranquilo e prazeroso, com mais cordialidade no trato pessoal e até incremento na produtividade, pois gentileza favorece menor medo de fazer algo novo ou tentar de outra forma, o que é positivo para transformações que podem levar ao inédito ou melhor.

Diversidade implica também em paciência para com o ritmo alheio, pois cada um aprende ou realiza de acordo com sua potencialidade, ninguém é perito em tudo, mas todos possuem uma habilidade específica que pode contribuir para o resultado esperado. A aptidão de cada um se manifesta se a dessemelhança é respeitada.

 

*Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.

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