Por Wanda Camargo
Muitos professores conhecem pais que são indiferentes ao desempenho escolar de seus filhos e, no outro extremo, os que levam o interesse ao exagero: pressionam demais, exigem sempre o melhor e nunca estão satisfeitos com o que a criança ou jovem possa realizar, levando-o à beira de estafas e ao sentimento de fracasso mesmo que isto não seja verdade.
É evidente que nenhum dos pontos citados é bom, o equilíbrio entre ambos possivelmente será mais adequado. Embora isso se aplique ao desempenho acadêmico é no que ainda se considera atividade extracurricular, o contexto esportivo, que a família, juntamente com possíveis técnicos, companheiros de equipe e amigos, que assistem deslumbrados competições e jogos, tendem a formar uma “torcida” complexa que influencia sobremaneira a qualidade da participação e da própria experiência desportiva, eventualmente melhorando ou até prejudicando a percepção do jovem sobre si mesmo e sua potencialidade.
Em época de Olimpíadas, crescem as práticas recreativas entre crianças e jovens, e é indispensável atenção especial à adaptação dos programas para melhoria geral do desenvolvimento físico, mas sem produzir problemas emocionais. É claramente importante que os pais ou tutores acompanhem seus filhos, no apoio e na adequação das atividades, dado que são estes que, normalmente, apresentam a prática esportiva às crianças e proporcionam os meios e os recursos necessários para sua efetivação. Pais estimulam, são um pouco técnicos, motoristas, financiadores, assistem e torcem, são importantes para manutenção do interesse dos filhos. Alguns movimentos são difíceis ou dolorosos no princípio, exigem exercícios constantes, foco e determinação, conversas podem ser determinantes para ultrapassar esta fase inicial e obter traquejo.
No entanto, alguns terminam por prejudicar seus filhos cobrar demais por resultados, obrigando-os a dietas rígidas e muitas vezes não permitindo o necessário repouso e brincadeira simples ao lado de seus amigos.
Em atletas profissionais, vários estudiosos do tema observam que os pais modelam as experiências esportivas dos filhos e são fundamentais na autoestima e motivação, essenciais para a continuidade, o suporte familiar positivo muitas vezes representa a diferença na busca de performance. Pressão por resultados e expectativas irreais podem culminar em uma experiência negativa para a criança, entre pais excessivamente protetores e aqueles negligentes, de envolvimento emocional mínimo com a atividade do filho.
Pais com nível moderado de participação estão normalmente entre aqueles cujos filhos costumam ter mais sucesso, são grandes apoiadores, porém flexíveis, e mostram sempre quais objetivos podem ser mais compatíveis com as capacidades de seus filhos, mantendo comunicação franca e aberta, que dá suporte sem exigências extremadas.
Isso é ainda mais visível em esportes que exigem início demasiadamente cedo para os futuros atletas profissionais, bem mais que em outras modalidades, seu bem-estar dependerá ainda mais intensamente da visão e comportamento dos familiares. Em tempos de redes sociais, a excessiva ostentação das vitórias pode gerar uma necessidade premente de outras, a procura da apreciação popular pode substituir o bom senso na capacitação.
O recente caso de uma atleta de ponta desistir da competição evidencia a face cruel deste fenômeno, e deve servir de alerta para todos: ao lado de jovens evidentemente adorando a competição, divertindo-se com ela, chorando um pouco ao perder, comemorando ao ganhar, mas sendo essencialmente jovens num encontro mundial de pessoas que procuraram dar o melhor de si, existem aqueles que sofrem profundamente e se consideram frustrados diante da exposição pública de suas incapacidades – mesmo que estas sejam momentâneas.
O “caminho do meio” ainda é recomendável, entretanto nestes tempos de posições radicais não parece fácil de ser trilhado.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.