Paiva Netto
Em minha coluna no Jornal de Brasília, da capital federal do Brasil, datada de 3 de março de 2015, escrevi que não é surpresa o fato de a internet se ter transformado em ferramenta imprescindível em nossa rotina. Ao ser acessada, vêm abaixo fronteiras antes intransponíveis à maioria da população. Entretanto, tenho frequentemente asseverado — também para o bom uso do meio cibernético — que Educação é poder. Sem o devido ensino, aliado aos valores da Espiritualidade Ecumênica, o manuseio desse influente recurso pode ser desastroso. Por isso, urge intensificar eficientes práticas de orientação, desde a infância, a fim de que esse progresso extraordinário não se volte contra os próprios usuários e não seja, por consequência, em detrimento da comunidade inteira.
Defesa da Mulher
A ilustre educadora, jornalista, poetisa e filantropa brasileira Anália Franco (1853-1919), forte defensora do direito à educação das mulheres e meninas, certa vez, declarou:
— É uma necessidade da sociedade recuperar com vantagem o benefício que a humanidade perdeu. Temos muita fé nos esforços da mente humana em prol da educação da mocidade, único meio para a regeneração futura. Não é só desbastando as inteligências que se reformarão as gerações; é preciso penetrar no sentimento e fortificar o coração.
Aliás, Anália Franco rompeu barreiras, valendo-se do espírito associativo, para proporcionar abrigo, instrução e acesso ao trabalho digno aos deserdados da sorte. Instituiu uma importante rede de proteção à mulher e a órfãos. Na defesa da mulher, protagonizou, com O Álbum das Meninas — revista literária e educativa lançada por ela, em 30 de abril de 1898 —, a difusão de ideias de liberdade e de igualdade de gênero, de ingresso da mulher nos ensinos básico e profissional e de sua consequente participação efetiva no mercado de trabalho, de seu destacado papel como guardiã e gestora da educação das novas gerações, além do conceito de empoderamento feminino para a necessária mudança na sociedade de seu tempo.
Madame Curie (1867-1934), notável cientista polonesa, primeira mulher a receber o Prêmio Nobel e única personalidade a conquistá-lo em áreas científicas diferentes (Nobel de Física de 1903 e de Química de 1911), foi reconhecida não só pelos esforços e sacrifícios incontáveis em favor do progresso científico, na pioneira pesquisa sobre radioatividade, que lhe custou a própria vida. Quando de seu falecimento, o jornal The New York Times denominou-a “mártir da Ciência” que “contribuiu mais para o bem-estar da humanidade”. O Nobel de Física de 1923, Robert Millikan (1868-1953), à época presidente do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech, na sigla em inglês), em nota acrescentou:
— Apesar de constantemente absorvida pelo seu trabalho científico, ela devotou muito do seu tempo à causa da Paz.
Essa brilhante mulher, de cujas descobertas surgiram significativas tecnologias para o campo da Medicina, do alto de sua perseverança e espírito humanitário concluiu:
— Jamais devemos sonhar em construir um mundo melhor sem o aperfeiçoamento dos indivíduos. Para esse fim, cada um de nós precisa trabalhar pelo próprio progresso e, ao mesmo tempo, compartilhar a responsabilidade geral por toda a humanidade.
Calar as sinistras vozes das armas
Com a força educativa das mulheres e das mães, utilizemos os recursos tecnológicos disponíveis e os que serão ainda criados pela audácia humana para persistir trabalhando no caminho da Paz e da Justiça.
Em Reflexões da Alma (2003), afirmei que, se não desistirmos de lutar pelo Bem, haverá um dia em que as armas terão, por fim, suas sinistras vozes caladas. Neste milênio, que considero o das mulheres, mesmo que demore, os seres humanos entenderão que a essência do poder não se encontra egoisticamente neles próprios, mas, sim, no espírito de Solidariedade, que a todos deve irmanar. Resta muito a ser feito. As futuras gerações esperam de nós atitudes mais ousadas. Se é difícil essa empreitada, comecemos ontem!
José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com