Pesquisa publicada em agosto na revista médica American Association for Cancer Research demonstrou boa resposta das lesões do Carcinoma Basocelular após aplicação de substância que age apenas na pele, sem causar efeitos colaterais sistêmicos, mostrando-se assim uma alternativa promissora à cirurgia.
Apesar de ser menos comentado do que o melanoma, já que não está associado com um alto risco de mortalidade, o Carcinoma Basocelular (CBC) é o tipo de câncer de pele mais comum e a forma de câncer mais diagnosticada em todo o mundo. “Caracterizado pelo surgimento de manchas ou feridas que não cicatrizam em áreas de maior exposição solar, o Carcinoma Basocelular (CBC), ainda que, na maioria dos casos, não represente risco à vida do paciente, pode, se não tratado, danificar os tecidos adjacentes, causando destruição e desfiguração da região afetada. A questão é que o tratamento da doença geralmente é realizado por meio de intervenção cirúrgica para retirada da lesão, o que pode pesar no bolso do paciente e gerar cicatrizes significativas dependendo da gravidade da lesão, ou então através do uso de cremes tópicos de ação imunomoduladora que, no entanto, apenas são eficazes em casos superficiais da doença e, ainda assim, podem causar efeitos colaterais”, afirma a dermatologista Dra. Patrícia Mafra, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Mas a boa notícia é que, em um estudo publicado em agosto na revista médica American Association for Cancer Research, um grupo de pesquisadores apontou a aplicação tópico do Remetinostat como uma alternativa em potencial para o tratamento das lesões de Carcinoma Basocelular, independentemente de sua gravidade.
Segundo a especialista, essa substância age como um inibidor das histonas deacetilases (HDAC), enzimas que têm sido associadas com a patogênese do câncer e, por isso, vêm sendo cada vez mais estudadas. Nesse cenário, os inibidores das histonas desacetilases, como o Remetinostat, são apontados como uma nova classe de agentes para o tratamento de certos tipos de câncer, mostrando-se, inclusive, uma abordagem terapêutica promissora para o CBC. “O grande diferencial do Remetinostat em relação a outros inibidores sistêmicos de HDAC, que estão associados a efeitos nocivos no organismo, está no fato de ser desenvolvido para perder potencial ao ser absorvido além da pele, o que permite que atue apenas sobre a lesão, sem afetar o organismo como um todo”, destaca a médica.
Para verificar a segurança e eficácia da substância no tratamento do Carcinoma Basocelular, os pesquisadores realizaram um estudo com 30 pacientes que possuíam ao menos uma lesão da doença medindo, no mínimo, 5 milímetros. Desse grupo, 90% dos pacientes apresentavam um histórico de câncer de pele e 8 possuíam mais de uma lesão, resultando assim em um total de 49 tumores de diferentes graus no estudo. Durante a pesquisa, os participantes aplicaram o Remetinostat em gel sobre o tumor três vezes por dia durante seis semanas. Após oito semanas, os tumores ainda remanescentes foram removidos cirurgicamente para serem examinados. Na análise final, que incluiu 33 tumores, os pesquisadores observaram que 69,7% das lesões apresentaram boas respostas ao tratamento, com variação dependendo da gravidade da doença. Por exemplo, 100% dos tumores superficiais tiveram uma boa resposta à aplicação da substância, enquanto as taxas de resposta dos tumores nodulares e infiltrativos foram de 68,2% e 66,7%, respectivamente. E o melhor é que não foram observados efeitos colaterais sérios ou sistêmicos. A adversidade mais relatada entre os pacientes foi o surgimento de dermatite no local da aplicação. “Os resultados sugerem então que o Remetinostat pode ser uma alternativa segura e promissora para o tratamento cirúrgico do CBC, com destaque para a eficácia clínica da substância contra os tumores nodulares, que são a forma mais recorrente da doença”, diz a Dra. Patrícia.
No entanto, é importante ressaltar que, para substituir a intervenção cirúrgica, é importante que o tratamento não apenas induza uma resposta completa, mas também seja duradouro, principalmente porque pessoas com histórico de carcinoma basocelular possuem maior risco de desenvolver outras lesões da doença com o passar dos anos. Por isso, mais estudos são necessários para examinar a longevidade da resposta ao tratamento. “Por fim, o mais importante é lembrar que a melhor estratégia no combate ao câncer de pele, independentemente do tipo, é a prevenção e o diagnóstico precoce. Logo, é fundamental a adoção de medidas de fotoproteção, como usar protetor solar diariamente e evitar se expor ao sol nos horários de maior radiação solar. Além disso, é indispensável realizar o autoexame da pele regularmente e visitar o dermatologista ao notar qualquer lesão preocupante para receber o diagnóstico e tratamento adequado”, finaliza a Dra. Patrícia Mafra.
FONTE: DRA. PATRÍCIA MAFRA – Dermatologista, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG), com estágio em Dermatologia pelo Grupo Santa Casa e acompanhamento do Serviço de Ginecologia e Sexologia do Hospital Mater Dei, Dra. Patrícia Mafra é expert em injetáveis e speaker em eventos nacionais e internacionais, palestrando sobre temas ligados à área de atuação. A dermatologista também foi preceptora de Medicina Estética do Instituto Superior de Medicina (ISMD). https://patriciamafra.com.br/
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