*Edson José Ramon
Prever como será a vida no planeta ou como estaremos daqui a 20 ou 30 anos é uma temeridade. As transformações no mundo ocorrem com uma velocidade avassaladora. Então, é bem possível que vamos errar os prognósticos, quaisquer que sejam. Basta olhar para a história recente: a humanidade avançou mais nos últimos 100 anos do que em todos os outros 19 séculos, desde Cristo. Provavelmente, seguiremos mudando absurdamente nos próximos 100 anos.
Mas, quando falamos em relações de trabalho, as alterações dos últimos dois séculos, desde a Revolução Industrial, no final do século XIX, foram menos significativas. Essas relações apenas se tornaram mais formais, com regras mais claras, tanto para quem contrata quanto para quem é contratado. A relação capital-trabalho também evoluiu e se tornou mais amistosa e consensual na busca incessante pela produtividade e equilíbrio.
Recentemente, a extraordinária evolução da computação e da robótica trouxe como consequência a redução no número de trabalhadores no chão de fábrica, o que foi, de certa forma, compensado pelo número de postos de trabalho nos processos digitais. Esse movimento, claro, aumentou as exigências de treinamento e qualificação.
Outra consequência da revolução digital – e agora da pandemia – foi o trabalho remoto, que já vinha crescendo tímidamente antes mesmo da covid-19. Depois dela, contudo, esse tipo de arranjo cresceu exponencialmente, alcançando níveis antes inimagináveis. Foi um salto de vários anos, impulsionado pela necessidade de distanciamento e que, segundo especialistas, não será revertido quando tudo isso passar.
Como estará o mundo na segunda metade deste século? Hoje, médicos já fazem cirurgias de forma remota, empresas globais reúnem seu “board” por videochamada, trabalhadores resolvem complicados problemas técnicos e de operação de máquinas com uma simples chamada de vídeo feita do próprio telefone celular.
Sem dúvida, os meios digitais vão estar ainda mais presentes na vida dos trabalhadores e nas relações profissionais. Para acompanhar essa revolução, é fundamental conhecer as muitas possibilidades que existem. Jovens que se preparam para entrar no mundo do trabalho podem frequentar, paralelamente ao curso técnico ou universitário, cursos de especialização em tecnologia digital para conhecer, com alguma desenvoltura, ferramentas tradicionais como Excel, Photoshop e Word, além dos muitos aplicativos específicos para cada atividade profissional.
E, embora esse seja um grande diferencial na acirrada concorrência pelos melhores postos de trabalho, é importante lembrar que os fatores que há séculos diferenciam os seres humanos continuarão sendo essenciais e decisivos na conquista de um emprego: caráter, bons modos, empatia, gentileza, sobriedade, bom humor, honestidade, autoconfiança, facilidade de relacionamento, entre dezenas de outros atributos pessoais.
Além de tudo isso, o bom profissional do futuro deve ser eclético, aberto a novos desafios, adaptável a situações adversas. Ele deve saber improvisar, resistir a situações de estresse com a convicção de que é suficientemente bom para algo que aparenta ser intransponível. Para isso é preciso ler, estar informado. Ser um especialista, sim, mas, sobretudo, ser um generalista, com um pouco de conhecimento de física, de química, de astronomia, de história, geografia, cultura, psicologia, línguas e outras habilidades humanas.
Pode parecer muito e, com certeza, é. Mas o sucesso dependerá cada dia mais da capacidade individual de conhecer o mundo e as milhões de possibilidades do ser humano. Essa é uma grande oportunidade para aqueles que querem fazer a diferença. Ler, estudar, buscar o conhecimento na internet, nos livros de história, nos cursos técnicos, nas bibliotecas, nas boas amizades, na conversa e no convívio com profissionais de sucesso.
Assim sempre foi: os mais preparados, os que mais interagem com os outros e que melhor se adaptam às situações diversas e adversas é que vencerão. “É uma velha receita que para sempre permanecerá.” O trabalho mudará, é verdade, mas os bons profissionais seguirão conquistando novos mundos.
*Edson José Ramon é empresário, presidente do Instituto Democracia e Liberdade (IDL) e conselheiro do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR).