Para usar o aparelho dentário, o paciente com ELA precisa passar por exames radiológicos, scaneamento intrabucal ou moldagem para averiguação da condição da maloclusão dentária
Os pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença que afeta o sistema nervoso causando paralisia motora irreversível, desenvolvem uma maloclusão típica. O problema se caracteriza pela vestibularização dos dentes inferiores anteriores, inclusive com abertura de espaço entre eles, devido à posição do músculo da língua que se acomoda inferiormente, de forma a empurrar estes dentes para frente.
A cirurgiã dentista, Ana Leticia Avila, especialista e mestre em Ortodontia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com o objetivo de minimizar esse problema dentário em pacientes com ELA, desenvolveu um aparelho removível, confortável e de fácil inserção que alinha os dentes inferiores para o lugar e mantém a língua numa posição favorável para impedir que a força dela limite a movimentação ortodôntica. “Juntamente com o protético que me atende em meu consultório, desenhei o aparelho e a mecânica, e chegamos a um protótipo”.
“O aparelho consiste numa base acrílica de ancoragem nos dentes posteriores, platô acrílico de suporte lingual e arco vestibular com dois pistões laterais que têm o intuito de trazer os dentes para seu local original”, explica Ana Leticia. Para usar o aparelho dentário, o paciente com ELA precisa passar por exames radiológicos, scaneamento intrabucal ou moldagem para averiguação da condição da maloclusão dentária. Segundo a especialista, esses exames são realizados com certa dificuldade porque a doença limita os movimentos, restringindo a abertura de boca.
“Os dentes dos pacientes com ELA são pronunciados de tal forma que torna difícil a inserção de alinhadores, tão pouco seria possível tratá-lo com aparelho fixo convencional. Em pacientes acamados o atendimento é geralmente home-care, um ambiente sem infraestrutura e posição necessárias para colagem de toda a aparatologia fixa, sem contar que seria um pouco traumático, devido à situação clínica”, explica. Por isto, tornou-se necessário desenvolver um aparelho personalizado para resolução do problema.
Por fim, Ana Leticia frisa a necessidade de conscientizar pessoas com ELA que os problemas ortodônticos podem ser evitados. “Esses pacientes têm o cognitivo intacto. Podemos ajudá-los a manter sua autoestima e devolver o seu sorriso – mesmo que tímido e já não tão expressivo – mais bonito e com uma saúde bucal garantida”.