A pandemia desestabilizou muitos aspectos da vida cotidiana, em especial a saúde mental. No mês de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo, a psicóloga do Hospital Angelina Caron (HAC), Alissandra Malvezi, alerta sobre o aumento nos casos de depressão e tentativas de suicídio ligadas a transtornos alimentares, de autoestima e entre profissionais da saúde. “Dos pacientes que atendo, 80% estão fazendo uso de medicação psiquiátrica. Os casos de depressão e tentativas de suicídio aumentaram bastante desde o início da pandemia, até em atendimentos ambulatoriais. Também atendo um número expressivo de profissionais da saúde que iniciaram tratamento nos últimos 18 meses”, detalha Alissandra, que atua no hospital localizado em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba.
Em relação aos transtornos alimentares, a psicóloga explica que uma coisa acaba levando à outra, pois o ato emocional de comer está bastante ligado à ansiedade e à tristeza. “Com o ganho de peso, chegam os transtornos de autoestima. É preciso atenção e acompanhamento para que casos assim não se agravem”. Além disso, alguns pacientes com ganho de peso costumam se depreciar na insatisfação com o próprio corpo.
“Ganha força, nesse contexto, a busca por ideias mirabolantes de dietas restritas. E começa, de fato, os gatilhos para os transtornos alimentares. Por exemplo, a dieta restrita é um gatilho enorme para transtorno alimentar, em especial para a compulsão. Com excesso de restrição, o corpo perde um pouco de peso, mas acaba tendo um episódio compulsivo na sequência, quando a pessoa come muito. Isso pode migrar para o transtorno da bulimia, em que a pessoa provoca vômito como medida compensatória de emagrecer. Também o uso de laxantes e se inicia um ciclo sem fim”, afirma.
Profissionais da saúde, educadores e jovens
Alissandra enfatiza que a depressão, o medo da morte e de perder familiares pela Covid-19 são os casos mais recorrentes entre os atendimentos psicológicos a profissionais da saúde. “Também aumentaram os casos de professores e profissionais da educação, com angústia de ficar muito tempo em casa com excesso de trabalho e jornadas mais longas que o presencial.”
Sobre a campanha de conscientização do Setembro Amarelo, a psicóloga ressalta que os adolescentes merecem atenção especial dos pais e responsáveis. “Nossa demanda com o público jovem também aumento na pandemia. Estão muito ansiosos e ociosos, com mais tempo livre para terem ideias de morte e mutilações, relacionados à desestabilização de seus lares, luto e excesso de isolamento”.
O Hospital Angelina Caron oferece um serviço psicológico ambulatorial aos seus profissionais e colaboradores, com sessões de terapia e escuta acolhedora nas alas Covid e em algumas UTIs, para funcionários que não conseguem ir até o ambulatório devido ao isolamento de suas alas.
Aumento de casos no Paraná
O número de suicídios registrados no Paraná segue em patamar recorde desde 2018, com mais de 900 registros por ano. No ano passado, a cada 10 horas, em média, um paranaense tirou a própria vida, segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que promove desde 2014 a campanha nacional do Setembro Amarelo, junto ao Conselho Federal de Medicina.
Todos os anos, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. Só no Brasil, são 12 mil, de acordo com o Ministério da Saúde e a ABP. Os transtornos como depressão, bipolaridade e abuso de substâncias como álcool e drogas são os principais fatores de risco ao suicídio. Além disso, 96,8% dos casos estão relacionados aos transtornos mentais, segundo a associação.