Uma parceria entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) traz uma solução inédita para a detecção da hanseníase. As instituições patentearam um teste portátil, pouco invasivo e com alta sensibilidade, que auxiliará os médicos no diagnóstico de maneira mais precisa.
A biópsia e os testes de biologia molecular para identificação do bacilo Mycobacterium leprae, causador da doença, são alguns dos exames atualmente disponíveis. Porém, são caros, invasivos ou dependem de instalações e pessoal treinado.
A técnica proposta utiliza o soro do sangue dos pacientes e foi desenvolvida por Juliana de Moura, docente do Departamento de Patologia Básica da UFPR, e Ronaldo Censi Faria, docente do Departamento de Química da UFSCar. Além deles, são titulares da patente as doutorandas Cristiane Zocatelli Ribeiro e Sthéfane Valle de Almeida.
Como funciona
O teste patenteado consiste em um imunossensor, que identifica a presença e a concentração de anticorpos produzidos na pessoa infectada, pelo contato com o bacilo causador da hanseníase.
Uma partícula magnética é revestida com uma proteína do bacilo M. leprae produzida de forma sintética. Esse complexo entra em contato com o soro infectado e reage com os anticorpos do paciente.
O bioconjugado partícula – proteína – anticorpo é colocado em uma solução com outro anticorpo, com uma enzima que reconhece o anticorpo humano. Esta enzima fornece o sinal eletroquímico detectado por um equipamento chamado potenciostato. Quanto maior for o sinal, maior é a concentração de anticorpos no soro do paciente.
Todo o processo, desde a coleta até a emissão do resultado, leva cerca de 20 minutos. Outra vantagem é que os equipamentos podem ser levados a escolas, unidades de saúde ou comunidades isoladas e ser aplicado em um grande número de pessoas ao mesmo tempo.
O teste desenvolvido pelas duas universidades servirá para oferecer tratamento direcionado para cada grupo de pacientes com hanseníase. Os multibacilares têm grande capacidade de transmissão, por possuir alto número de bacilos. Devido à sua resposta imunológica, esse paciente também produz muitos anticorpos. Outro grupo é o dos paucibacilares, que possuem poucos bacilos. Embora tenham um bom prognóstico, esses pacientes são de difícil identificação, por possuírem poucos anticorpos e sinais clínicos mais brandos.
A plataforma também possui caráter multifuncional. Juliana e Cristiane explicam que, no futuro, poderão ser testadas novas proteínas, viabilizando a identificação de outras doenças.
Cristiane, doutoranda do programa de pós-graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia da UFPR, pretende testar outras duas proteínas que reconhecem os anticorpos que reconhecem o M. leprae no paciente infectado até o final do doutorado, no final de 2022.
A hanseníase
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, dos cerca de 200 mil novos casos de hanseníase reportados anualmente, em torno de 14% vêm do Brasil, colocando o país atrás apenas da Índia. A doença afeta principalmente nervos periféricos, olhos e pele. Quando não tratada, pode causar danos irreversíveis. A OMS estima que, no mundo, de três a quatro milhões de pessoas vivam com incapacidades físicas devido à doença.
O surgimento desses sintomas pode demorar anos desde a infecção, que ocorre pelo contato com gotículas e aerossóis com o bacilo. Nesse período, a pessoa é um reservatório do M.leprae e, assim, um agente potencialmente transmissor. “Muitas pessoas demoram muito tempo para descobrir que tem hanseníase, pois podem ter tido contato com algum familiar na infância e só na vida adulta vir a desenvolver a doença”, explica Juliana.
A docente destaca ainda a importância da identificação precoce e do tratamento, que é disponibilizado pela rede pública. “Quando as pessoas procuram atendimento, é muito comum que o comprometimento já seja grande, com perda de acuidade visual e dificuldade, por exemplo, de segurar um copo. Por isso também a relevância do diagnóstico precoce”.
Parcerias
Agora, falta apenas um passo para que os testes estejam disponíveis e, assim, fazer a diferença na vida de milhares de pessoas. A patente aguarda empresas interessadas na produção em larga escala. O contato pode ser feito com a Superintendência de Parcerias e Inovação (SPIn) da UFPR ou com a Agência de Inovação da UFSCar.
Os estudos e esforços de pesquisa que resultaram no teste contaram com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Por João Cubas (Aspec/SCB/UFPR), com informações da UFSCar
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