Estudo da Universidade da Califórnia destaca: mães que dormiam menos de sete horas envelhecem mais rápido e também tinham telômeros mais curtos nas células brancas do sangue.
Quando as novas mães reclamam que todas aquelas noites sem dormir cuidando de seus recém-nascidos estão tirando anos de suas vidas, elas podem estar certas, sugere uma pesquisa da Universidade da Califórnia publicada em junho na revista Sleep Health. “Os pesquisadores descobriram que um ano após o parto, a idade biológica das mães que dormiam menos de sete horas por noite, na marca dos seis meses, era de três a sete anos mais velha do que aquelas que dormiam sete horas ou mais. Os pesquisadores analisaram o DNA das mulheres em amostras de sangue para determinar sua idade biológica, que pode diferir da idade cronológica. O papel do sono na saúde metabólica das pessoas vem sendo objeto de estudo há anos. Quando há uma grave perturbação da ordem temporal, bioquímica, fisiológica e dos ritmos comportamentais, isso mexe também com a expressão de alguns genes que regulam nossas vias metabólicas e nossos hormônios. Muitos pacientes que enfrentam mudanças nesse ciclo não conseguem seguir um plano alimentar, têm maior carga de estresse e impulsos alimentares”, diz a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). “Dormir bem é muito importante para envelhecer com saúde, já que é durante o sono que o organismo passa por um processo de reparação e regeneração. O recomendado é dormir entre 7 e 8 horas por noite. Fugir desses valores é colocar a saúde em risco, pois já temos evidências que a falta de sono pode prejudicar o coração e o cérebro e diminuir a longevidade”, explica o médico nutrólogo e geriatra Dr. Juliano Burckhardt, membro Titular da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e da International Colleges for Advancement of Nutrology e Membro Titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
As mães que dormiam menos de sete horas também tinham telômeros mais curtos nas células brancas (leucócitos) do sangue. “Os telômeros são pequenos pedaços de DNA nas extremidades dos cromossomos e que agem como capas protetoras, como as pontas de plástico nas pontas dos cadarços. A principal função dele é proteger o material genético transportado pelos cromossomos. No entanto, conforme as células se multiplicam para promover a regeneração dos tecidos do organismo, o comprimento dos telômeros é reduzido. Com o passar do tempo, os telômeros ficam tão curtos que não são mais capazes de proteger o material genético, o que faz com as células parem de se reproduzir e atinjam um estado de senescência, isto é, de envelhecimento, que é sentido em todo o organismo. Há influência genética para o encurtamento mais rápido dos telômeros, mas isso também ocorre em situações de grande estresse e de privação de sono, conforme demonstrado no estudo. Atualmente, sabemos que telômeros encurtados têm sido associados a um risco maior de câncer, doenças cardiovasculares, envelhecimento precoce e outras doenças, além de morte”, explica o geneticista Dr. Marcelo Sady.
Os primeiros meses de privação de sono pós-parto podem ter um efeito duradouro na saúde física. “Sabemos por um grande número de pesquisas que dormir menos de sete horas por noite é prejudicial à saúde e aumenta o risco de doenças relacionadas à idade”, afirma a Dra. Marcella. “Melhorar a alimentação no período é indispensável; por exemplo, é importante que se adote uma alimentação balanceada rica principalmente em fibras, frutas, vegetais, legumes e proteínas magras. Não se esqueça também de beber bastante água. Por sua vez, evite o consumo excessivo de sal, açúcar e gorduras saturadas, que podem aumentar a incidência de condições como câncer, hipertensão, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares”, explica a médica.
Segundo o estudo, enquanto o sono noturno dos participantes variou de cinco a nove horas, mais da metade teve menos de sete horas, seis meses e um ano após o parto, relatam os pesquisadores. O estudo relatou que, a cada hora de sono adicional, a idade biológica da mãe era mais jovem. “A saúde do sono é tão vital para a saúde geral quanto a dieta e os exercícios”, diz a Dra. Marcella.
O estudo levanta alguns caminhos para aconselhar as mães após o nascimento dos filhos: aproveitar as oportunidades para dormir um pouco mais, como cochilar durante o dia quando o bebê está dormindo; aceitar ofertas de ajuda da família e amigos; e, quando possível, pedir ao parceiro para ajudar com o bebê durante a noite ou de manhã cedo.
A médica nutróloga ressalta, no entanto, que embora o envelhecimento biológico acelerado associado à perda de sono possa aumentar os riscos à saúde das mulheres, ele não causa automaticamente danos a seus corpos. “Ainda não se sabe se esses efeitos são irreversíveis, uma vez que a adoção de bons hábitos pode ajudar a frear riscos à saúde”, explica a Dra. Marcella.
O estudo usou os mais recentes métodos científicos de análise de mudanças no DNA para avaliar o envelhecimento biológico, também conhecido como envelhecimento epigenético. “O DNA fornece o código para a produção de proteínas, que realizam muitas funções nas células do nosso corpo, e a epigenética se concentra na forma como os fatores ambientais, comportamentais e sociais podem modificar as funções e a herança celular”, explica o Dr. Marcelo Sady. Quanto maior a idade biológica ou epigenética de um indivíduo, maior o risco de doença e morte precoce.
O estudo incluiu mulheres com idades entre 23 e 45 anos, seis meses após o parto. “Apesar da amostra não ser grande, o estudo é importante para determinar um caminho e mais pesquisas são necessárias para entender melhor o impacto a longo prazo da perda de sono nas novas mães, quais outros fatores podem contribuir para a perda de sono e se os efeitos do envelhecimento biológico são permanentes ou reversíveis”, finaliza a Dra. Marcella.
FONTES:
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. CRM-PR 12559 e RQE 16019.
*DR. JULIANO BURCKHARDT: Médico Cardiologista, Geriatra e Nutrólogo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Especialista também em Clínica Médica, Medicina de Urgência e Ergometria. É membro da American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology. Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal. Atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. É diretor médico do V’naia Institute. Diretor Científico Brasil da European Academy of Personalized Medicine. Membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio Libanês.
*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.
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