Estudo publicado no começo de agosto na Nature identificou novos genes ligados a uma vida reprodutiva mais longa em mulheres. Além disso, em camundongos, eles manipularam com sucesso vários genes-chave associados a essas variantes para estender sua vida reprodutiva.
A idade em que as mulheres passam pela menopausa é crítica para a fertilidade e impacta o envelhecimento saudável nas mulheres, mas o envelhecimento reprodutivo tem sido difícil para os cientistas estudarem. Agora, os cientistas da Universidade de Exeter, na Inglaterra, identificaram quase 300 variações de genes que influenciam a expectativa de vida reprodutiva nas mulheres, em um estudo publicado no começo de agosto na revista Nature. “Além disso, em camundongos, eles manipularam com sucesso vários genes-chave associados a essas variantes para estender sua vida reprodutiva. Essas descobertas aumentam substancialmente nosso conhecimento sobre o processo de envelhecimento reprodutivo, além de fornecer maneiras de melhorar a previsão de quais mulheres podem chegar à menopausa mais cedo do que outras”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo. As descobertas identificam novas variações genéticas ligadas à expectativa de vida reprodutiva, aumentando o número conhecido de 56 para 290.
Embora a expectativa de vida tenha aumentado dramaticamente nos últimos 150 anos, a idade em que a maioria das mulheres passa pela menopausa natural permaneceu relativamente constante em cerca de 50 anos. “As mulheres nascem com todos os óvulos que carregam, e estes são gradualmente perdidos com a idade. A menopausa ocorre depois que a maioria dos óvulos se foi, no entanto, a fertilidade natural diminui substancialmente mais cedo. É claro que reparar o DNA danificado em óvulos é muito importante para estabelecer o reservatório de óvulos com que as mulheres nascem e também para a rapidez com que se perdem ao longo da vida. A compreensão dos processos biológicos envolvidos no envelhecimento reprodutivo pode levar a melhorias nas opções de tratamento de fertilidade”, diz o Dr. Rodrigo Rosa.
As novas descobertas foram possíveis por meio de análises de conjuntos de dados de centenas de milhares de mulheres de muitos estudos, incluindo UK Biobank e 23andMe. Os dados da 23andMe foram fornecidos por clientes que optaram por participar da pesquisa. Embora a grande maioria seja de mulheres de ascendência europeia, eles também examinaram dados sobre quase 80.000 mulheres de ascendência do Leste Asiático e encontraram resultados amplamente semelhantes. “A equipe descobriu que muitos dos genes envolvidos estão ligados a processos de reparo de DNA. Eles também descobriram que muitos desses genes estão ativos antes do nascimento, quando os estoques de óvulos humanos são criados, mas também ao longo da vida. Exemplos notáveis são genes de duas vias de checkpoint do ciclo celular – CHEK1 e CHEK2 – que regulam uma ampla variedade de processos de reparo de DNA. Destruir um gene específico (CHEK2) para que ele não funcione mais e exprimir outro (CHEK1) para aumentar sua atividade levou a uma vida reprodutiva 25% maior em camundongos. A fisiologia reprodutiva dos camundongos difere dos humanos em aspectos importantes, incluindo que os camundongos não têm menopausa. No entanto, o estudo também analisou mulheres que carecem naturalmente de um gene CHEK2 ativo”, explica o médico. Os genes identificados por este trabalho influenciam a idade da menopausa natural e também podem ser usados para ajudar a prever quais mulheres correm maior risco de ter menopausa em uma idade jovem.
Segundo o especialista, ao descobrir muitas outras causas genéticas de variabilidade no período da menopausa, os cientistas mostraram que podemos começar a prever quais mulheres podem ter menopausa mais cedo e, portanto, ter dificuldade para engravidar naturalmente. “E, como nascemos com nossas variações genéticas, poderíamos oferecer essa orientação às mulheres jovens, que podem inclusive congelar os óvulos para usar posteriormente”, explica o médico.
A equipe de pesquisadores também examinou os impactos na saúde de ter uma menopausa anterior ou posterior, usando uma abordagem que testa o efeito de diferenças genéticas que ocorrem naturalmente. Eles descobriram que uma menopausa geneticamente mais precoce aumenta o risco de diabetes tipo 2 e está associada a uma saúde óssea mais pobre e maior risco de fraturas. No entanto, diminui o risco de alguns tipos de câncer, como câncer de ovário e de mama, que são conhecidos por serem sensíveis aos hormônios sexuais que estão em níveis mais elevados enquanto a mulher ainda está menstruada. “Embora ainda haja um longo caminho a percorrer, combinando análise genética em humanos com estudos em camundongos, além de examinar quando esses genes são ativados em óvulos humanos, agora sabemos muito mais sobre o envelhecimento reprodutivo humano. Também nos dá insights sobre como ajudar a evitar alguns problemas de saúde relacionados ao momento da menopausa”, finaliza o médico.
FONTE:
*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.