Democracia e Juventude: quatro afirmações pungentes e uma conclusão peremptória

Daniel Medeiros*

 

Primeiro: o Espaço Público não é propriamente um lugar, mas uma função fundamental em toda sociedade democrática. Funciona como campo de falar e ouvir, produzindo ideias coletivas e tomando posições a partir delas. No Espaço Público, todos são iguais no direito de falar e ouvir e todos têm a liberdade de se manifestar, respeitando o propósito da fala e a dignidade do ouvinte.

Segundo: essa função de produzir decisões democráticas para o conjunto da sociedade foi uma das mais inventivas e ousadas criações dos gregos. Mas seu vigor dependia da preparação dos cidadãos para as tarefas a eles dirigidas – daí a necessária busca por conhecimento e pelo desenvolvimento de habilidades que permitissem a maior desenvoltura frente aos demais, com o propósito de aparecer e singularizar-se, não para se tornar um diferente entre iguais, mas um igual a ser lembrado pelos iguais.

Terceiro: a modernidade atrofiou o Espaço Público e reduziu a relação entre as pessoas basicamente a um circuito de bens, no qual tudo passa a ter preço e, portanto, quase nada tem valor. 

Quarto: a sociedade de consumo erigiu a economia ao posto de totem maior e o mercado tornou-se o seu sacerdote sem rosto. Os propósitos, os horizontes, principalmente dos jovens, reduziram-se a uma busca desenfreada pelas filas dos smartphones ou (e, às vezes, ao mesmo tempo) pelas filas do subemprego. E a importância da igualdade, da liberdade, da construção de uma voz comum, cívica, política, deixou de ter importância. Para alguns, aliás, tornou-se até motivo de escárnio e de raiva, como se fosse sua presença a responsável pela falta de mais bens disponíveis para atender à sede impossível de saciar do consumo desenfreado.

Conclusão: recuperar a função do Espaço Público, principalmente entre os jovens de 16 a 18 anos, é tarefa primordial para quem quer um futuro como invenção e não como repetição. Hannah Arendt já dizia que a ação, atividade humana própria da política, é a única capaz de criar o novo, e dessa natividade dependemos nós para inventarmos um país democrático, resgatando a possibilidade de construir regras de funcionamento orgânico, vitais e que recuperem a saúde do nosso país e da nossa sociedade. 

Não há saída fora disso. Ou compreendemos isso urgentemente ou não adianta arranjar culpados na horda que nos assedia. Cabe a nós enfrentá-los e vencê-los

*Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.
daniemedeiros.articulista@gmail.com
@profdanielmedeiros
 

**Artigos de opinião assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do Curso Positivo.

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