Enfermidades respiratórias contagiosas, como a covid-19, podem diminuir com a construção de mais edificações ‘saudáveis’
Desde 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já falava em “prédios doentes”. Segundo a entidade, essas edificações nada mais são que construções que contribuem para a geração de doenças nos seres humanos, pois são totalmente seladas e têm, em seus ambientes, ar-condicionado instalado, o que agrava ainda mais a situação. A arquitetura bioclimática prevê a concepção de construções com base no clima local, aproveitando fontes naturais de energia, por exemplo, a fim de proporcionar conforto térmico aos frequentadores do ambiente.
Já a arquitetura biofílica se junta à bioclimática como um complemento “saudável” às construções. Esse tipo de arquitetura abrange a utilização da natureza para compor os ambientes, tornando os locais mais agradáveis e saudáveis para morar ou trabalhar. Essas são tendências da arquitetura mundial.
Apesar de no Brasil a maior parte das casas não serem seladas, aproveitando a ventilação natural, não ocorre o mesmo com os edifícios. Segundo Adriane Savi, coordenadora do programa integral de Arquitetura e Urbanismo da FAE Centro Universitário, de Curitiba (PR) – curso que traz em seu portfólio esses e outros temas que são tendência na área – no Brasil e no mundo, muitos edifícios são selados, com o objetivo principal de reduzir o consumo energético. “Há um conflito entre sustentabilidade e saudabilidade”, avalia a professora. Aliado a isso, segundo Adriane, os materiais utilizados nas construções podem ser tóxicos e extremamente patógenos. “Na pandemia, percebemos que esses ambientes fechados, com ar-condicionado, são altamente prejudiciais à saúde. Não só por conta da proliferação dos vírus, já que nós soltamos toxinas o tempo todo, mas também porque essas toxinas se juntam aos materiais e formam uma mistura ainda mais prejudicial ao ser humano. Sem falar no mofo, no bolor. A ventilação natural jogaria tudo para fora do ambiente. Isso é qualidade de vida”, explica.
Uma das soluções para esse impasse pode ser a arquitetura bioclimática, com edifícios sem ar-condicionado, com isolamento adequado nas paredes e boa ventilação natural. “Hoje temos aparelhos de ar-condicionado mais modernos, com boa estrutura para renovação de ar. O problema é a manutenção desses equipamentos. É preciso mudar o conceito de usar ar-condicionado em tudo, apesar de nossa arquitetura não ser projetada para o nosso clima. É preciso pensar a arquitetura dentro da ideia bioclimática, e não apenas em relação à eficiência energética”, avalia.
A partir dos anos 1970, os edifícios passaram a ser selados como uma forma de aumentar o controle de temperatura, mas principalmente para reduzir o consumo energético. Apesar de representarem uma ótima solução para esse fim, segundo Adriane, há consequências danosas. “Nós pagamos muito caro por isso em se tratando de saúde, pois o ar não se renova nesses locais. Vivemos 90% do tempo em ambientes fechados, no trabalho, em nossas moradias, no transporte público. Falamos tanto no ar externo e esquecemos que o ar interno é um grande vilão para nossa saúde”, completa a professora.
Já a arquitetura biofílica, que busca soluções para a arquitetura baseadas na natureza, proporcionando locais mais agradáveis para morar ou trabalhar, se utiliza de plantas como filtros naturais do ar, reduzindo a poluição presente, além de incorporar outros materiais naturais, como madeira e pedra, que colaboram com a saúde e o bem-estar. “Já se comprovou que o contato com a natureza auxilia na diminuição de doenças, como depressão e até problemas cardíacos”, afirma Adriane. Durante a pandemia, as pessoas passaram a sentir a necessidade de maior conexão com a natureza, já que ficaram muito tempo isoladas dentro de suas próprias casas. Algumas até se mudaram para chácaras ou outros ambientes longe dos centros urbanos. “Percebemos que nossas casas não nos atendiam em todas as nossas necessidades, além de gerarem alguns desconfortos de caráter térmico, acústico e lumínico”, conclui a professora.
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