Profissionais da área comemoram 40 anos de regulamentação da profissão que contribui para a recuperação e qualidade de vida de quem teve Covid 19
Estudo realizado por professores e especialistas da Divisão de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP) mostrou que a evolução da função da deglutição em pacientes internados em UTIs por Covid-19 , que passaram por pelo menos três atendimentos com fonoaudiólogos, foi mais rápida em 83% dos casos analisados, em comparação com aqueles que não tiveram o apoio desse profissional.
O avanço da vacinação em todo o País mostra resultados e permite que governos e prefeituras tornem menos restritivas as medidas de prevenção ao coronavírus. E, de forma acelerada, o planejamento de retomada de boa parte dos hábitos de pessoas e instituições toma conta da sociedade. Contudo, a agenda de quem enfrentou a Covid-19 nos hospitais conta com um novo item, imprescindível no retorno a uma vida cada dia mais próxima do normal: a terapia com o fonoaudiólogo que aliá, é parte da rotina de muitas pessoas para a melhoria de diversos aspectos.
Durante boa parte da pandemia, a ocupação de UTIs esteve no limite. Nesse ambiente, a intubação endotraqueal e a ventilação mecânica forneciam o suporte para que o paciente, em estado mais grave, se mantivesse vivo em meio às dificuldades respiratórias. Para muitos que superaram a doença, sobraram sequelas que variam desde a própria falta de coordenação respiratória, passando pela disfagia (dificuldade em engolir) e alterações vocais e de motricidade orofacial. A atuação do profissional da fonoaudiologia se mostrou fundamental ao fornecer condições para que pacientes se alimentassem da maneira esperada e novamente se torna uma função essencial.
“Fisiologicamente falando a deglutição e a respiração são funções coordenadas. Quando o reflexo da deglutição é acionado, a respiração é interrompida, isto requer a ativação de estruturas anatômicas comuns. Esta ligação entre as duas funções é necessária para garantir a troca gasosa sem esforço durante a respiração oronasal e para evitar a aspiração durante a deglutição. Este mecanismo é interrompido durante a intubação, que, além de alterar os mecanorreceptores e quimiorreceptores das mucosas faríngea e laríngea, pode causar atrofia muscular e perda da propriocepção. Também podem ocorrer alterações na anatomia e fisiologia da faringe e da laringe devido ao tubo endotraqueal, causando trauma direto na laringe, impactando na fisiologia da deglutição. Estas alterações aumentam o risco do paciente ter disfagia e/ou aspirar silenciosamente alimentos e líquidos para as vias aéreas inferiores, podendo levar à infecção torácica e pneumonia, desnutrição, aumento do tempo de internação hospitalar e readmissão para o hospital”, alerta Celso Luiz Gonçalves dos Santos Júnior, presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia – 3ª Região (CREFONO 3).
O protagonismo do fonoaudiólogo na equipe multidisciplinar que atua nas UTIs dos hospitais é essencial e a pandemia veio reforçar isso. o fonoaudiólogo entra em ação após a extubação, com uma avaliação do processo de deglutição e realizando os procedimentos adequados para a introdução da alimentação via oral.
A atuação do fonoaudiólogo não se restringiu ao ambiente de UTI, porque neste momento pós doença, outras sequelas prejudicam quem enfrentou a Covid-19, como ausência de paladar, fadiga muscular, que pode interferir nos processos da deglutição, mastigação, fonação e articulação. além destas alterações, já temos pesquisas demonstrando danos a audição, aparecimento de vertigens e zumbidos. “Com uma avaliação das funções estomatognáticas (respiração, deglutição, fonação e articulação) o fonoaudiólogo pode trabalhar uma série de exercícios que vão melhorar as condições destas funções e melhorando a qualidade de vida deste paciente”, explica Celso.
Por outro lado, não podemos esquecer que o uso da máscara faz com que muitas pessoas aumentem a intensidade da voz, muitas vezes forçando em demasia as pregas vocais, causando uma disfonia. “Com exercícios específicos, o fonoaudiólogo atenua condições como a fadiga muscular e as lesões nas pregas vocais causadas pela tosse e uso de máscara (que exige aumento do nível da intensidade vocal em quem precisa falar com maior frequência) e possibilita o restabelecimento pleno da fala em quem passou por esse problema”, reforça o presidente do Crefono.
Papel essencial do fonoaudiólogo desde o nascimento
O papel do profissional – que celebra, em 9 de dezembro, o Dia do Fonoaudiólogo – tem sido cada vez mais valorizado, dada sua imprescindibilidade nas mais variadas frentes. Sua atuação junto a bebês prematuros e suas famílias, por exemplo, é fundamental para que os recém-nascidos possam sobreviver, evoluir fisicamente e adquirir as condições mínimas para que receba alta e vá para casa. Nascidos antes das 37 semanas de gestação, os bebês prematuros não desenvolveram completamente os reflexos de sucção e deglutição e sua coordenação com a respiração, ações que são estimuladas pelo fonoaudiólogo e são fundamentais para que ele aprenda a se alimentar com o leite materno sem gastar muita energia, ganhar peso e conseguir crescer para seguir os cuidados em seu lar, no convívio familiar, fora do ambiente hospitalar. Segundo o presidente do Crefono, “o fonoaudiólogo atua tão logo o bebê prematuro ofereça as primeiras condições clínicas e acompanhará os primeiros anos de vida da criança com frequência, avaliando e tratando possíveis sequelas no sistema motor orofacial, na fala, na audição e também na alimentação”.
A atuação do fonoaudiólogo também é capaz de promover a reversão de um problema que deve atingir 2,5 bilhões de pessoas até 2050, segundo a ONU: a perda auditiva tem sido cada vez mais comum e ocorre como resultado de traumas, sequelas de doenças, hereditariedade, exposição excessiva a altos ruídos e até de maus hábitos (como alcoolismo e tabagismo). Como explica Celso, “o profissional avalia caso a caso e, de acordo com o diagnóstico, define as linhas de ação, ou seja, quais tratamentos utilizar, a periodicidade e até os equipamentos auxiliares que serão utilizados pelo paciente”.
O fonoaudiólogo é responsável por avaliar, diagnosticar, orientar e promover terapias de habilitação e reabilitação, além de monitorar e aperfeiçoar a função auditiva periférica e central, a função vestibular, a linguagem oral e escrita, a articulação da fala, a voz, a fluência, o sistema miofuncional orofacial e cervical e, também, a deglutição e para atender com a devida atenção os pacientes é um profissional que se especializa constantemente e segue com sua elevada capacidade de contribuir para a qualidade de vida de bebês, jovens, adultos e idosos, promovendo melhores condições de sobrevivência aos pacientes e de plena convivência social.
SOBRE O CREFONO 3
O Conselho Regional de Fonoaudiologia – 3ª Região (Crefono 3), atuante no Paraná e em Santa Catarina, constitui, em conjunto com o Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa), uma autarquia federal. É responsável por zelar pelo cumprimento das leis, normas e atos que norteiam o exercício da fonoaudiologia, a fim de proteger a integridade moral da profissão, dos profissionais e dos usuários diretos.
Ao zelar pelo exercício regular da profissão, o Crefono 3 protege o fonoaudiólogo daqueles que exercem inadequadamente ou ilegalmente a profissão, além de proporcionar melhores condições para que a população tenha um atendimento adequado ao consultar o profissional.