*Gisele Meter
Estamos no último mês de 2021, mas ainda muito longe de dar início oficial ao pleito eleitoral de 2022, que tem campanha de rádio e TV marcada somente para agosto. Apesar disso, os pré-candidatos já iniciaram suas campanhas – mesmo que neguem, afinal a lista definitiva de candidatos só vai ser conhecida em até dez dias após as convenções dos partidos, que irão acontecer de 20 de julho a 5 de agosto. Para deixar um pouco de suspense no ar, muitos não se assumem candidatos e respondem com evasivas. Mas, mesmo que não oficializada, de fato as campanhas eleitorais 2022 já estão nas ruas e calçadas físicas e virtuais do país.
O candidato mais bem posicionado nas pesquisas de opinião, Luiz Inácio Lula da Silva (que na pesquisa divulgada no dia 14/12 pelo IPEC teria 56% dos votos válidos, competindo com oito ou com doze candidatos), já trocou a caravana pelo interior do país das eleições de outrora pela caravana no exterior. Enquanto fazia visitas na Europa, encontrou o desafeto do presidente Jair Messias Bolsonaro, Emmanuel Macron. Antes disso, falou à alemã Deutsche Welle. Sua estratégia é fazer o contraponto ao atual presidente e lembrar que em suas mãos o Brasil foi respeitado e prestigiado lá fora – independentemente das cores de sua bandeira.
Aqui dentro, a estratégia do ex-torneiro-mecânico é ir a veículos alternativos ou pequenos. Ressentido com os veículos tradicionais por considerar que não fizeram uma leitura imparcial das acusações da Lava Jato, comandada por outro pré-candidato, trocou os grandes pelos outsiders. Foi ao podcast do rapper Mano Brown e, mais recentemente, ao canal do YouTube PodPah. O bate-papo com os garotos já está chegando a marca de 8 milhões de visualizações, o que indica que, pela primeira vez, Lula parece ter rompido a bolha da esquerda.
Longe de ser um programa para lulistas, o PodPah pode ter trazido um público maior para o candidato, ou melhor, pré-candidato. Lula diz que deve ter uma definição apenas entre fevereiro ou março. Antes disso vem outra definição: quem será seu guru estratégico do marketing. A escolha, dizem, está sendo feita agora e deverá ser anunciada em janeiro próximo.
Na pesquisa do IPEC, quem aparece em terceiro lugar é o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, variando entre 8 e 5% das intenções de votos, sendo que seu principal eleitorado está no Sul do país. Herói contra a corrupção para uns, vilão que tirou o principal candidato das eleições de 2018 para outros, Moro está aí, filiado ao Podemos e à disposição para ser julgado pela mídia e pelos eleitores.
Por mais que ele divida votos com Bolsonaro e seja, óbvio, desafeto histórico de Lula, o que as pesquisas de intenções de voto têm mostrado é que ele tem feito sombra a outro candidato. Moro, tido por muitos como incorruptível, rouba o terceiro lugar de Ciro Gomes, que corre risco de perder o protagonismo como ocorreu nas eleições passadas com Marina Silva ou Aécio Neves. E justiça seja feita, Moro tem se esforçado: melhorou a dicção, tem formulado sinapses adequadamente e até consegue falar frases de efeito. Assim, segue cortejando votos da chamada terceira via, embora por aí andem dizendo que a terceira via ainda não emplacou…
Quem já tem seu marqueteiro de plantão é Ciro Gomes, que, às vezes, se posiciona como terceira via, às vezes como de esquerda, às vezes como de centro e, às vezes, parece que está no meio da rua, como uma criança que se perdeu da mãe na época das compras de Natal.
No momento, o pré-candidato não tem chamado tanto a atenção de Moro e nem de Lula, mas da Polícia Federal. No dia 15 de dezembro, Ciro Gomes teve a casa invadida após ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga supostas irregularidades na construção do estádio Castelão, para a Copa do Mundo de 2014.
Ciro acusa o presidente de mandante da ação e lembra que não tinha cargo no executivo à época, logo, não faria sentido estar sendo investigado. Combativo, Ciro aumentou a artilharia contra Bolsonaro e dá uma pequena trégua ao principal candidato da esquerda.
Embora ainda com a mira meio boba, Ciro já anunciou seu marqueteiro – João Santana, que mesmo controverso, tem um currículo de dar inveja. Além de Lula e Dilma Rousseff, já ajudou a eleger Mauricio Funes, de El Salvador, Danilo Medina, da República Dominicana, José Eduardo dos Santos, de Angola, e Hugo Chavez/Nicolás Maduro, da Venezuela.
Enquanto ajusta estratégias, está no YouTube como “Ciro Games”, onde recebe convidados, conta com a presença da esposa, Giselle Bezerra, e costuma esbanjar mais simpatia, canta, brinca, mas mantém a linha “sincerão” de sempre. Porém, é importante destacar: Ciro é o único que até o momento tem um projeto claro para o país. Em seu livro, “Projeto Nacional: O dever da esperança”, ele traça “um diagnóstico das principais questões que atrapalharam o nosso [país no que tange o] desenvolvimento com democracia, liberdade e justiça, como também [visa] apresentar um vasto conjunto de ideias capazes de direcionar o Brasil rumo a um futuro desejável”.
Enquanto Lula tenta furar a bolha nos veículos no YouTube, Ciro tenta se tornar um youtuber e Moro se esforça para orgulhar as professoras de oratória, o fato é que o presidente do país, Jair Messias Bolsonaro, mesmo liderando as pesquisas de rejeição de votos, ainda não é carta fora do baralho.
Quando começou a ser aventada sua candidatura para 2018, Bolsonaro não passava dos 7% ou 9% das intenções de voto e tinha apenas 8 segundos de tempo de campanha de rádio e televisão. Contratando consultorias estratégicas (aqui, sem senso de valor se suas estratégias são éticas ou não), Bolsonaro dominou as redes sociais, expôs “suas verdades” e se elegeu.
Hoje, continua apostando nas estratégias que o elevaram de azarão a ocupar o maior posto da política brasileira. Se não mais pode usar massivamente supostas fake news, já que foi claramente advertido a respeito pelo ministro Alexandre de Moraes, e tem que seguir a resolução mais rígida, divulgada em 14/12 pelo Tribunal Superior Eleitoral, que normatiza a propaganda eleitoral em 2022, mostra que continua usando as mídias sociais estrategicamente. Já que os adversários e a Lei estarão de olho nele na televisão, no rádio, no Facebook, Instagram e até no WhatsApp, hoje recorre ao Telegram, onde tem mais de um milhão de seguidores. Espertamente, também divulga influenciadores digitais que falam bem do seu governo, assim, retroalimenta uma rede de legionários.
O que resta saber é se Lula, Ciro e Moro serão tão hábeis quanto Bolsonaro com as novas mídias e se o TSE estará tão vigilante como diz.
*Gisele Meter é consultora em Comunicação e Marketing Político, especialista em conteúdo, influência e estratégia digital, psicóloga, analista de tendências sociais e fundadora da agência Estratégia Parlamentar (www.estratégiaparlamentar.com.br)