A preocupação com o que se consome, não só em alimentos, mas também em utensílios do dia a dia e até o vestuário, está cada vez mais presente. O consumidor tem ficado mais atento aos rótulos do que compra e ao que as marcas fazem na hora de produzir seus artigos. Grandes empresas já contam com suas linhas veganas, por exemplo, demonstrando uma fatia crescente de mercado que prefere itens naturais, sem testes em animais e sem resíduos poluentes.
Um estudo encomendado pela Fundação Ellen MacArthur apontou, em 2017, que a indústria de moda era responsável por 8% da emissão de gás carbônico na atmosfera. Só o setor petrolífero tem números piores. Ainda, 25% do que é produzido vira lixo. Diferentes tipos de fibras como poliéster tem sido usados cada vez mais, gerando resíduos plásticos que vão parar nos oceanos. Uma pesquisa da Universidade de Newcastle em 2019 encontrou micropartículas de plásticos (muitos derivados de tecidos de roupa, como nylon) em 72% de animais marinhos vivendo em baixas profundidades.
O chamado fast fashion, termo que surgiu nos anos 1990 para falar dessa indústria de produção rápida, em larga escala e que estimula o consumo excessivo. Assim como o movimento slow food (de ir contra o fast food e buscar uma cozinha mais rica e versátil), o slow fashion vai contra a produção de moda em larga escala com um impacto ambiental tão negativo.
Uma roupa de custo baixo acaba vindo acompanhada de baixa qualidade, o que estimula o descarte ao invés do conserto ou adaptação de peças para alongar sua vida útil. Essa é uma das questões de destaque na produção de Aline Balbino, costureira e designer de moda especializada em slow design. “As pessoas antes torciam o nariz para palavras como veganismo, mas ultimamente estão tomando consciência do impacto que elas têm: a saturação de rios, animais com plástico na barriga, efeitos climáticos, por exemplo”, explica. “Mas muita gente ainda não conseguiu fazer essa virada de chave, de entender a relação do veganismo com um consumo mais consciente”.
Procedimentos como produção sob demanda ou tiragem limitada, ou ainda que envolvem meios artesanais são algumas alternativas ao fast fashion. Balbino presta atenção em todos os momentos da elaboração das peças, desde a escolha de um tecido natural até a mão de obra – é ela sozinha que costura as roupas, sempre feitas por encomenda. Denúncias de grandes marcas da moda utilizando trabalho escravo também são uma preocupação do movimento slow fashion, como uma forma de estimular um olhar crítico sobre o consumo.
“As pessoas ligadas ao slow fashion preferem pagar por algo sabendo que o dinheiro delas e o tempo de trabalho delas foi usado para comprar algo menos abrasivo ao meio ambiente e até mais saudável para elas, sem ter feito mal a nenhum outro tipo de vida”, Aline comenta. “A satisfação das pessoas por consumir algo com muito menos impacto ambiental e com coerência de consumo é bem maior”. Tendências como a reutilização de roupas também são crescentes: o Sebrae registrou um aumento de 48,58% de brechós entre os primeiros semestres de 2020 e 2021.
Beleza e Cuidado
Expressões como Eco Friendly e Cruelty Free vão se aliando ao slow fashion debaixo do guarda-chuva do veganismo – que vai muito além de parar de comer carne. A preocupação com o que se usa no dia-a-dia leva a uma incessante pesquisa sobre empresas, ética e produção, não apenas no vestuário. O ramo de higiene e cosméticos é um dos mais impactados pela busca de uma vida mais preocupada com a natureza (eco friendly) e que não maltrate animais (cruelty free).
A dificuldade de encontrar informações concretas sobre a elaboração desses itens foi o que estimulou a criação da Verdê (www.lojadaverde.com.br), startup curitibana que faz curadoria de produtos de higiene, cosméticos e infantis. A empresa foi fundada em 2019 por Johny Dallasuanna e Mariana Alves, com o intuito de auxiliar os consumidores a encontrarem com facilidade produtos veganos. “Por não poder confiar muito no que se vê nas prateleiras, entendemos que seria interessante ter uma loja para comprar com confiança”, Mariana explica. “O momento que estamos vivendo deu um clique para muitas pessoas, que começaram a procurar e pesquisar produtos veganos”.
O catálogo vem aumentando conforme a necessidade dos clientes. Se o foco da empresa em sua fundação era de maquiagens, shampoos e cremes, hoje oferece até perfumes, protetores solares, itens de barbearia, escovas de dente de bambu e desodorantes de cristal, cada vez mais procurados. A Verdê indica na página de cada produto suas características como composição sem químicos, embalagens de papel e feitos sem testes em animais, entre outros detalhes.
A empresa cresceu rápido, mesmo em pandemia. Uma divisão inteira do site, por exemplo, é dedicada à linhas infantis. São vendidos protetores solares, fraldas ecológicas, brinquedos de madeira e papel, livros educativos sobre ecologia e respeito aos animais e óleos essenciais, entre muitos outros. Brinquedos como amigurumis de crochê já são elaborados pela Verdê. Para 2022, pretendem lançar a marca Verdê Kids, com roupas e produtos próprios focados nesses conceitos ligados ao veganismo. “A introdução de uma vida mais eco friendly, com consumo consciente e preocupada com o impacto ambiental, pode ser feita desde cedo e de forma responsável, em várias esferas”, explica Mariana.