Banana Scrait reimagina clássicos da música nacional com viés moderno no EP “Eletro Bossa Nova”

O duo Banana Scrait oferece um olhar renovado para a música brasileira com o EP “Eletro Bossa Nova”, onde reimagina clássicos do gênero com uma interpretação que passeia pela eletrônica, indo do house ao disco, do drum n’ bass ao trip hop. Seus quase 30 anos de trajetória musical confluem em um projeto ousado onde a reverência pelos clássicos serve de trampolim para um frescor e reinvenção ainda sem paralelo na carreira de Andrea Agda e Daniel Arruda. Depois de uma série de singles e de um clipe, agora o álbum completo chega às plataformas de streaming junto de uma sessão em vídeo para a faixa “Água de Beber”.

Banana Scrait se propôs um desafio musical: transpor canções icônicas da bossa para uma linguagem contemporânea que refletisse a estética do duo, algo que exigia tempo e dedicação. O resultado final trouxe um flerte com chillwave, lounge music e funk com batida sincopada – não necessariamente os estilos musicais mais associados com Tom Jobim, Baden Powell, Vinicius de Moraes e Luiz Bonfá, cujas canções aparecem no EP. 

“Tudo aconteceu de forma muito natural e quando nos demos conta, estávamos em uma aventura musical, dentro de casa, fazendo o que gostamos, tocando nossos instrumentos o dia todo, todos os dias”, resumem Daniel e Andrea. “Voltar aos clássicos foi orgânico, como se já fizesse parte de um repertório, mas que nunca havia sido apresentado ao público. Era, de fato, uma sensação estranha. Em meio ao confinamento, experimentávamos uma gratidão por estarmos vivos, tocando aquelas músicas antigas, tão familiares, mas, hoje, distantes da geração atual”, completam.

O EP abre com “Água de Beber”, de Tom e Vinicius, em clima de disco music. A guitarra fuzzy na introdução serve como um pedido de licença aos desavisados. A voz de Andrea Agda canta os versos com a tranquilidade de quem dá um bom conselho sobre ter coragem para seguir os caminhos tortuosos do amor e do perdão. “Dindi”, que virou single, foi composta por Jobim. O riff de guitarra elétrica substitui o tradicional violão, o Rhodes faz a harmonia que costuma ser feita pelo piano acústico e as batidas sampleadas e os sons dos sintetizadores com seus filtros envolvem e entregam uma experiência sonora diferente, dando uma prova de que a bossa nova segue viva e pode ser revisitada por diferentes ângulos.

A faixa “O Morro Não Tem Vez – Favela” é uma versão eletrônica da música de Jobim, embalada numa batida inspirada no deep house. O baixo segura a base, o overdrive do solo de guitarra ajuda a entrar no clima, o piano elétrico agudo traz a ginga. “Manhã de Carnaval”, escolhida para ganhar o único clipe do projeto, é talvez a versão mais ousada. Uma batida síncope de funk sustenta a base em uma combinação de suingue com poesia e um toque de melancolia. 

“Berimbau” tem suingue, tem axé. O afro samba de Baden Powell é celebrado com essa vibrante versão eletrônica que flerta com o drum n’ bass, mantendo o batimento do surdo de marcação do samba tradicional, em um convite para a dança. Por fim, “Gentle Rain”, também de Luiz Bonfá, ganha uma batida com inspiração no trip hop, que mantém o clima de mistério e romantismo enquanto o riff de guitarra conduz a paisagens cinematográficas. No final, o solo de Rhodes sob o barulho fino da chuva que cai  instala o clima de paz. A lista de faixas de “Eletro Bossa Nova” é um atestado da inquietude criativa de Banana Scrait ao longo dos anos. 

O novo EP vem para somar à discografia do duo cearense, que surgiu para canalizar as influências roqueiras de Andrea e Daniel – entre elas, The Smiths, Breeders e Elastica. O sucesso no nordeste logo se amplificou para o sudeste. A primeira demo foi lançada pelo respeitado selo Midsummer Madness em 1995, seguida pelo álbum “Yes, We Have Bananas”, dois anos depois. Em 2001 viria o EP “Tecnotopia”, unindo seu som a elementos eletrônicos. 

Após um período de hiato em Recife e de volta a Fortaleza, o Banana Scrait trabalhou no disco “Giostra” (2015), mesclando releituras do maestro Alberto Nepomuceno com composições próprias. Ainda em 2015, viria o álbum “Voo”, que começou a ser gestado em Pernambuco reunindo forte influência da MPB e utilizando instrumentos como clarinete, saxofone, vibrafone, sintetizador, piano, ukulele, castanholas e trombone, além de baixo, guitarra e bateria.

Agora, o duo Banana Scrait está pronto para uma nova fase, olhando para o futuro, sem perder de vista de onde vem. “É sempre bom olhar para o futuro sem esquecer do passado. Isso vale na vida e na música. ‘Eletro Bossa Nova’ surge do desejo de compartilhar essa viagem musical. Dele emergimos mais fortes para enfrentar o futuro. Por isso, queremos mostrar o resultado dessa aventura para o maior número de pessoas. Talvez para provar que estamos mais vivos do que nunca. Ou apenas para lembrar que, mesmo em tempos difíceis, a arte salva”, concluem.

 

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