Jornada do grupo alemão é contada em Helloween – A História Completa, lançado pela editora Estética Torta

A trajetória do grupo alemão Helloween, um dos principais nomes do Power Metal mundial, que sacramentou o chamado Metal Melódico, é repleta de altos e baixos. Um dos momentos mais difíceis nesta caminhada foi a complicada história do baterista Ingo Schwichtenberg, membro da formação clássica da banda, que gravou dois dos discos mais importantes do estilo: os dois volumes da saga Keeper of The Seven Keys.

A dramática mudança de comportamento de Schwichtenberg é retratada de forma honesta, alicerçada por depoimentos dos músicos ao redor dele, no livro Helloween – A História Completa, de Massimo Longoni, lançado no mercado brasileiro pela editora Estética Torta.

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Com a entrada nos anos 1990, o Helloween se via em uma situação difícil: Precisava colocar no mercado um álbum tão impactante quanto os dois Keeper of The Seven Keys. Porém, a situação interna era complicada, e haviam recém perdido uma de suas mentes criativas: o guitarrista Kai Hansen, que estava com tudo em sua nova banda, o Gamma Ray.

Com um substituto para Hansen devidamente escolhido, Roland Grapow, o quinteto alemão começou a trabalhar no disco que sairia apenas em setembro de 1991, Pink Bubbles Go Ape. Enquanto alguns dos integrantes se dedicavam às composições do álbum, Ingo Schwichtenberg começou a enfrentar problemas comportamentais, agravados pela saída do amigo Hansen, pelas batalhas legais envolvendo empresários e a consequente longa pausa nas atividades do grupo causada por este impasse. No livro, o agravamento da situação, em 1991, é descrito pelo autor: “Há um ano, ele começou a sofrer de distúrbios estranhos. Às vezes ele tem perda de memória, às vezes é como se estivesse ausente e acabasse em um mundo só dele […] O rapaz sorridente deu lugar a um homem sombrio, muitas vezes sujeito a explosões que nem mesmo Ingo entende completamente e tenta silenciá-lo usando drogas”.

A mudança nos ares da banda era perceptível, e o baterista foi o mais afetado entre todos. Durante as gravações, o músico constantemente comparecia bêbado, deixando um rastro de latas vazias pelo estúdio, e respondia de maneira agressiva a quaisquer reclamações dos colegas. Na época, Kiske chegou a afirmar que a “aparência muitas vezes não difere muito da de um morador de rua”.

Duas situações aconteciam simultaneamente com o grupo. Enquanto a banda entrava em um período artístico complicado e sem harmonia entre os integrantes, que resultou em uma diminuição considerável no sucesso comercial do Helloween, o baterista também apresentava pioras em seu estado mental. Durante uma turnê pelo Japão, em uma apresentação em Hiroshima, Schwichtenberg se levanta em uma das músicas do repertório, grita “Eu estou vendo o diabo” e desaba sobre a bateria. Na turnê seguinte dos alemães pelo país, contaram com um músico convidado no lugar de Ingo.

O álbum posterior, Chameleon (1993), conta com uma música chamada “Step Out Of Hell”, composição antiga de Grapow da época em que tocava com o Rampage. Originalmente chamada “Victim of Fate”, a faixa se tornou um dos destaques do novo disco do Helloween, porém, com uma letra que aborda os problemas de Ingo com álcool e drogas. Se a intenção era aproximar os músicos, o tiro saiu pela culatra. O baterista não gostou da letra, o que ocasionou o afastamento definitivo entre os dois.

A turnê de Chameleon evidenciou ainda mais a complicada situação de Schwichtenberg e afetou ainda mais as estruturas dentro do Helloween. Com uma turnê modesta e com baixa presença de público, a banda ainda teve que cancelar algumas datas na Alemanha e depois na Espanha, estas por causa do baterista, que antes de subir ao palco para uma apresentação desabou no chão em uma crise de choro. Após ser hospitalizado, veio o diagnóstico nada animador: Esquizofrenia hereditária agravada pelo uso de psicotrópicos.Com o baterista clássico afastado, o grupo alemão contratou Ritchie Abdel-Nabi para cumprir as datas nipônicas da turnê.

Durante o ano seguinte, Schwichtenberg se aproximou dos irmãos, mas a falta de perspectiva de retorno ao Helloween lhe deixou mal, algo acentuado pela morte do pai, pelo consumo de drogas e a negação da própria situação. Tudo isto causou ataques de raiva, amnésia e alucinações.  Em 08 de março, o baterista tira a própria vida, ao se atirar na frente de um trem, próximo à estação Friedrichsberg. Os irmãos do músico vão a delegacia no dia 09 relatar seu desaparecimento, e no dia 13 são convocados a retornar, para identificar uma foto e um relógio encontrado com ele.

Os antigos amigos de banda, Kai Hansen e Markus Grosskopf, no túmulo de Ingo.

Com a partida de Ingo, vieram brigas e trocas de acusações entre os outros integrantes do Helloween, mas todos sofreram com a partida de Schwichtenberg. No mesmo ano, Kai Hansen compôs “Afterlife”, lançada no álbum Land of the Free, em homenagem ao amigo: “A letra foi escrita por mim e adaptada a uma melodia composta por Jan Rubach […] Contei com a ajuda do Jan porque eu estava muito transtornado com a notícia da morte do Ingo e não tinha condições de criar uma canção que fosse realmente válida, e digna da tarefa para a qual tinha sido pensada”, explica Kai no livro.

Em 1996, o ex-vocalista do Helloween, Michael Kiske, dedicou a balada “Always”, do álbum solo Instant Clarity, para Ingo. No mesmo ano, o Helloween, por sua vez, colocou no encarte do álbum The Time of the Oath uma comovente mensagem: “Em memória à Ingo Schwichtenberg . Juntos, passamos por momentos bonitos e difíceis. Seu lugar na história do Helloween será eterno. Nossas memórias ficarão para sempre, assim como nossa gratidão”. Vinte e cinco anos mais tarde, o Helloween homenageou novamente o amigo, ao gravarem o álbum Helloween (2021) usando a bateria que havia sido de Ingo.

A história completa sobre este momento obscuro na carreira do Helloween, assim como os acertos desta instigante jornada estão no livro Helloween – A História Completa, lançado no Brasil pela editora Estética Torta.