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Quando o Minuano encontra os trópicos

Por Larissa Warnavin (*)

“Esfarrapadas, nuvens galopeiam / No céu gelado, altura azul” é parte do poema “Minuano” do escritor modernista Augusto Meyer, nascido no ano de 1902 em Porto Alegre. Ele retrata o vento gelado minuano vindo dos pampas, o qual se estabelece nos outonos e invernos. Pois é, o minuano chegou à galope trazendo vendavais, chuvas e quedas de temperatura.

Quando o Minuano encontra os trópicos

Nos últimos dias, a massa de ar polar atlântica (mPA) ganhou destaque, passando pelos estados do Sul e Sudeste do país e deixando as temperaturas mais baixas após a frente fria que trouxe vendavais e chuva. Esse fenômeno climático é conhecido em terras gaúchas como “Minuano”. O apelido faz referência aos Minuanos, um grupo indígena que habitava os pampas (campos no sul do estado do Rio Grande do Sul).

Mas, qual a origem desse fenômeno climático que ocorre todos os anos nas estações de outono e inverno no Brasil? Trata-se de uma massa de ar mPA, que se origina no extremo sul do Oceano Atlântico. Ela se forma nos céus em uma região próxima à Antártica e possui características climáticas frias e úmidas. Ela é responsável pelas baixas temperaturas no outono e inverno. Porém, antes de se instalar deixando os dias mais gelados, ela encontra uma outra massa de ar mais quente que já estava estabelecida (adaptada às condições climáticas mais quentes das áreas tropicais), causando ventos fortes e chuvas.

Toda massa de ar que se desloca na atmosfera possui uma parte frontal conhecida como “frente”. O deslocamento do ar se dá por alterações de pressão e temperatura na atmosfera. Quando uma frente de ar fria e úmida se choca com a massa de ar mais quente e seca que já estava no local, ocorrem as rajadas de vento e as chuvas frontais. A massa de ar frio se estabelece e começa a se tropicalizar, diminuindo sua intensidade com o passar dos dias, se tornando mais quente e seca. Isso até chegar um novo Minuano, que empurra a massa de ar mais quente, numa dança das frentes e massas de ar.

A maior força da mPA nos meses de outono e inverno ocorre devido a menor incidência solar durante esse período, no Hemisfério Sul. Com menos influência do aquecimento das moléculas de ar promovida pelos raios solares, o ar se torna mais frio. Todo o sistema atmosférico, oceânico, de translação e rotação da Terra participam dessa dinâmica da natureza e ela pode ser sentida em nosso cotidiano. Seja pela parte adversa com danos materiais e perda de vidas causados pelos ventos e chuva, seja pela parte benéfica como matar pragas na agricultura e deixar os frutos cítricos mais doces com as ondas de frio.

Conhecer o clima é vital para que possamos nos adequar às mudanças que estão ocorrendo e que virão. Sentir-se parte desse fenômeno sistêmico é parte importante de nossas vidas nesse superorganismo que chamamos de Terra.

*Larissa Warnavin é geógrafa e Doutora em Geografia. Professora da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.

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