Francis Ricken*
O eleitor, diferentemente do que muitos acreditam, toma decisões pensadas nas urnas. Ele busca o candidato que mais se parece com sua visão de mundo, tentando identificar pontos de convergência entre suas posições pessoais e a política. Sendo o voto um direito individual, podemos dizer que a escolha política de cada um vem de uma decisão pessoal, amparada pelo sigilo e protegida pela Constituição federal, por isso, essa decisão não pode ser considerada negativa ou positiva, ela é apenas uma decisão. As democracias possibilitam que possamos fazer escolhas e, com isso, tomar decisões certas e até mesmo decisões erradas. Saber o que o eleitor pensa é a pergunta de milhões e que todo analista gostaria de responder de forma exata, entretanto, podemos analisar com base em dados o possível caminho que o eleitorado pode tomar. Vejamos o exemplo dos candidatos que disputam voto a voto a intenção dos eleitores na eleição presidencial: Lula e Bolsonaro.
Lula tem construído sua campanha com um olhar atento ao Brasil do início dos anos 2000, um país que se estabilizou, que cresceu economicamente e que deu a sua população o poder de compra, juntamente com isso, emprego, renda e a inserção da população mais carente no ambiente de consumo. Obviamente que o candidato busca reafirmar que seu governo, iniciado a partir de 2003, foi capaz de fazer debates importantes e, ao mesmo tempo, colocar o país em um rumo de desenvolvimento econômico, com controle inflacionário e estabilidade reconhecida internacionalmente. Lula visa à lembrança de um passado glorioso nem tão distante, em que o Brasil passou por um período de ascensão e fomos colocados em destaque. O objetivo do candidato é focar na parcela da população que mais sofre as consequências da pandemia, da inflação alta, do desemprego e dos reflexos de um mercado de trabalho pós-reforma trabalhista. Esses eleitores foram atingidos diretamente pelas consequências dos solavancos econômicos dos últimos anos e das dificuldades que nosso país sofre no âmbito da economia.
A classe política que acompanha Lula rumo à eleição é formada por políticos de cunho progressista e alas do congresso nacional que ficaram de fora do Governo Bolsonaro. Lula tem vantagem significativa nos estados do Nordeste e ganha fôlego na Região Sudeste, principalmente nos grandes centros urbanos.
Já Bolsonaro aposta na ideia de um presente conservador, em que as palavras de ordem são os valores cristãos e a defesa da família. Para o candidato, mesmo que a economia não vá bem, o que importa é convencer o eleitor que retorno ao passado pode ser danoso para suas convicções morais, religiosas e conservadoras. É inegável que a defesa dos costumes e família pegou para uma parcela significativa da população. Assim como em 2018, Bolsonaro aposta num lema que leva a reboque um eleitorado considerável, em boa parte o público evangélico, conservadores, militares, forças de segurança e uma parcela muito grande do congresso nacional.
Bolsonaro se saiu vencedor na janela partidária, conseguindo organizar e aumentar os partidos aliados como o PP, PL e Republicanos. Deu espaço para o centrão entrar em seu governo, criando uma rede de apoio considerável nos Estados. Tem vantagem significativa na região Norte e nos estados do sul, principalmente em cidades de pequeno e médio porte, onde a atividade agrícola é forte.
Aparentemente, as Eleições 2022 vão se dar entre a defesa de um passado glorioso ou um presente conservador. Ambos os discursos funcionam muito bem, pois tocam o eleitor em pontos importantes e sensíveis das suas escolhas pessoais.
*Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).