A exposição prolongada a situações de estresse, depressão e ansiedade na pandemia teve importante influência na alteração vocal
Não é de hoje que a preocupação com a saúde mental vem sendo um dos assuntos mais recorrentes de toda a área da saúde. Com a chegada da pandemia e da necessidade de distanciamento social e uso de máscaras alguns distúrbios passaram a se tornar cada vez mais frequentes, mostrando que os efeitos psicossomáticos do isolamento foram terrivelmente fortes, presentes em todas as camadas sociais.
Uma das funções humanas mais fundamentais, a fala, foi especialmente a comunicação entre as pessoas, os fatores biológicos, psicológicos e ambientais foram atingidos neste período. Além dos efeitos físicos próprios de quem se contaminou com covid-19, as sequelas de transtornos psicossociais mostraram aparente aumento de frequência, evidenciando o fato de que os problemas sociais estão entre as principais causas da perda de voz, ao lado dos fatores biológicos, psicológicos e ambientais.
“A exposição prolongada a situações de estresse – o que foi frequente durante a pandemia – associada aos altos índices de depressão e ansiedade no período tem importante influência na alteração vocal. Nesta situação é possível entender que o problema psicológico e emocional se tornou também um sintoma físico”, indica a Presidente da Comissão de Saúde XI Colegiado Crefono3, a fonoaudióloga Honeslisa Malacarne Cadore. De fato, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, apenas no primeiro ano de pandemia a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25% e muita não tem noção de que aspectos emocionais podem abalar e afetar a voz do indivíduo prejudicando sua principal forma de comunicação.
“Nesse contexto, o profissional da fonoaudiologia tem importância fundamental tanto no processo de alerta aos pacientes que, muitas vezes, acreditam que disfonia e problemas de voz estão associadas unicamente a doenças como laringite, faringite e alergias diversas – principalmente no outono e inverno, quanto na recuperação de indivíduos ao promover tratamentos de reabilitação de forma simultânea ao acompanhamento psicoterapêutico e psiquiátrico do paciente”, explica a especialista do CREFONO3.
O primeiro passo para qualquer abordagem de sucesso é a identificação do problema e de suas causas. Por isso, tecnologias como a detecção de doenças emocionais a partir da fala e do tom de voz do indivíduo ganham espaço e começam a fazer parte do dia a dia de profissionais de todo o País.
A voz é um processo que une função cerebral à pulmonar, envolvendo processos neurológicos e fisiológicos. Qualquer alteração na cadeia afeta o resultado da produção vocal, o que indica a existência de problemas de saúde. “A voz é capaz de manifestar alterações em seu padrão – individual e coletivo – que indicam, por exemplo, a prevalência de transtornos psiquiátricos como a depressão, e neurológicos, como o Parkinson, as escleroses e até um câncer”, diz a fonoaudióloga.
Esse diagnóstico tem, acima de tudo, o poder de ser uma ferramenta poderosa de avaliação do médico, já que insere uma medida padronizada para o diagnóstico de doenças, o que era realizado, até há pouco tempo, de forma absolutamente subjetiva.
A rouquidão é um dos primeiros sinais de alteração vocal que pode ter origem emocional – e um dos principais sintomas da disfonia, a alteração da qualidade acústica da voz. Cansaço na voz, tosse, pigarro, ressecamento da garganta e falta de ar também são sintomas importantes, que exigem uma avaliação detalhada do profissional.
Algumas dicas ajudam a aliviar os sintomas – mas nunca substituem a visita ao fonoaudiólogo e quando necessário ao otorrinolaringologista. Falar pausadamente e bem articulado, respirar com calma(inspirando pelo nariz), treinar a leitura em voz alta, manter-se hidratado e com narinas limpas; ainda, levar uma rotina saudável e expressar e procurar entender melhor os próprios sentimentos, além de ajudarem a evitar os problemas vocais causados por questões emocionais, ainda preservam a função de quem já está com a voz afetada, facilitando a recuperação. Lembre-se da Campanha “Amigo da Voz” da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia com o tema “Sua voz diz muito sobre você!”
SOBRE O CREFONO3
O Conselho Regional de Fonoaudiologia – 3ª Região (CREFONO3), atuante no Paraná e em Santa Catarina, constitui, em conjunto com o Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa), uma autarquia federal. É responsável por zelar pelo cumprimento das leis, normas e atos que norteiam o exercício da fonoaudiologia, a fim de proteger a integridade moral da profissão, dos profissionais e dos usuários diretos.
Ao zelar pelo exercício regular da profissão, o CREFONO3 protege o fonoaudiólogo daqueles que exercem inadequadamente ou ilegalmente a profissão, além de proporcionar melhores condições para que a população tenha um atendimento adequado ao consultar o profissional.