Por Dante Grein*
A medicina sempre foi uma ciência que evoluiu em velocidade média, pois, com razão, necessitava de um certo grau de ceticismo a respeito das novidades. Em outras palavras, pode-se dizer que o novo, na medicina, nunca foi uma visita bem-vinda. Desde os tempos das grandes discussões acadêmicas, previamente, portanto, à era da computação, toda evolução precisava primeiramente ser comprovada e aprovada nas bancas acadêmicas, antes de ganhar espaço nas clínicas e hospitais. Com a chegada da internet, tudo mudou. A velocidade da informação permitiu que, também nesta área crítica da ciência, as evoluções tomassem um espaço que antigamente não tinham. Pode-se dizer, sem medo de errar, que a velocidade da evolução tecnológica na área médica cresce em proporção geométrica. Todos os dias novos conceitos surgem, alguns se comprovam úteis, outros nem tanto, mas, sem dúvida, todos são, ao menos minimamente, colocados em prática em algum momento.
Neste ‘pool’ de novas tecnologias que invadiu a área da saúde, talvez a mais moderna, mais esperada, e também mais fascinante seja a Cirurgia Robótica. Empresas de equipamentos médicos redirecionaram recursos extraordinários para desenvolver, testar, e, finalmente, adequar os robôs-médicos para a prática diária dos hospitais. Hoje, pode-se dizer que vivemos um verdadeiro ‘boom’ de robotização nos procedimentos médicos. Nos Estados Unidos, há cerca de 300 robôs realizando ou auxiliando em cirurgias. E talvez este número, exposto há 3-4 meses, já esteja bem ultrapassado. No Brasil, também, já existe a possibilidade de se realizar inúmeras cirurgias com auxílio da robótica, desde procedimentos uroginecológicos, passando pelos campos da neurologia e da cirurgia do aparelho digestivo, e chegando, também, na área da ortopedia.
Atualmente, já existem em nosso país robôs para a modernização da cirurgia ortopédica de substituição articular do joelho, a conhecida “prótese de joelho”. A tecnologia norte-american\a (da gigante Zimmer-Biomet), por exemplo, já está disponível em vários centros, como Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, entre outros. Trata-se do “Rosa Knee”, um auxiliar robótico que traz diversos benefícios ao paciente que precisa ser submetido à Artroplastia Total de Joelho.
O Robô Rosa é único em seu modo de auxiliar esta cirurgia. Ele permite, através de cálculos precisos e refinados, o conhecimento prévio, pelo cirurgião, de qual o melhor tamanho e a melhor posição dos implantes ortopédicos para cada paciente em específico, delimitando também quais tamanhos de cortes ósseos serão necessários para que a prótese seja instalada nesta chamada “posição ideal”. Tudo isso, antes da cirurgia.
Durante o ato cirúrgico, e na companhia do indispensável conhecimento técnico do cirurgião humano, os cálculos são inicialmente testados e ajustados para compatibilizar com a tensão ligamentar do joelho do paciente. A precisão, que antes era só a do olho humano, agora passa a ser uma combinação desta com a de um supercomputador. É como se o cirurgião, que já possui os olhos extremamente treinados, tivesse “super óculos” que lhe mostrassem imprecisões milimétricas e o ajudassem a corrigi-las.
Após os ajustes dos cálculos, o Robô Rosa passa a trabalhar como um “garantidor” do posicionamento dos implantes. Funciona assim: o cirurgião (com seus super óculos) definiu que em determinado local precisa cortar 3,5 mm de osso para que o implante fique na posição ideal. O Rosa, chamado a agir, não permite que o osso seja cortado a 3,6 ou a 3,4mm. Isso mesmo, a precisão é de décimos de milímetro. Nenhum olho humano e nenhuma mão humana, ainda que muito experientes e com conhecimento técnico excepcional, consegue garantir isso em cirurgias sucessivas.
Realizadas as medições, feito o “recorte ósseo”, é então implantada a prótese de joelho pelo cirurgião, da mesma maneira que seria implantada sem o Robô Rosa, mas com algumas grandes e indiscutíveis vantagens frente à cirurgia exclusivamente humana:
– Um posicionamento ideal é adquirido com muito mais facilidade e reprodutibilidade (o cirurgião consegue repetir essa precisão em diversas cirurgias consecutivas);
– Devido aos cálculos prévios, há uma menor necessidade de traumatizar as partes moles do joelho para conseguir este posicionamento, ou seja, é uma cirurgia com menos lesão, o que traz como benefício óbvio a diminuição da dor pós-operatória e o aumento da velocidade de recuperação da cirurgia;
– A se comprovar futuramente, o posicionamento ideal das próteses está intimamente ligado à durabilidade final delas e esta deve, sem dúvida, aumentar;
– Por fim, e mais importante, um altíssimo nível de satisfação do paciente, pois esta cirurgia não é simples e nem é, nem nunca será, de fácil reabilitação. Apesar disto, em comparação com pacientes submetidos à cirurgia “antiga”, sem robô auxiliar, os pacientes têm demonstrado um índice de satisfação muito maior.
Em resumo, devido aos avanços tecnológicos na área médica, pode-se dizer que as cirurgias ortopédicas de joelho estão se beneficiando enormemente, e isso tende a se espalhar para cirurgias de quadril, ombro, coluna, entre outras. A robotização traz evidentes benefícios, mas, sob meu ponto de vista, o fator mais importante para você buscar um profissional habilitado a realizar sua cirurgia de joelho com auxílio da robótica está no fato de que, ao contrário de muitas tecnologias, esta não traz nenhum risco adicional ao procedimento. Trocando por miúdos, quando comparamos a artroplastia robotizada com a artroplastia não robotizada, os riscos cirúrgicos são exatamente os mesmos, sem nenhum risco a mais. Por outro lado, os benefícios são, conforme expostos acima, inúmeros. Esta relação Risco vs Benefício nos faz termos a certeza de que a cirurgia robotizada veio para não apenas “ficar”, mas também para ser o novo Padrão Ouro em se tratando de Artroplastia Total de Joelho.
*Dr. Dante Grein – Cirurgião de Joelho e de Quadril do Pilar Hospital
CRM 20150-PR