É preciso aprender para ensinar

Celso Hartmann*

 

A educação básica brasileira está em constante evolução. Hoje, encontramos uma infinidade de artigos sobre o novo Ensino Médio e como os itinerários formativos estimularão os jovens a valorizarem essa importante etapa da vida, possivelmente contribuindo para a melhora dos indicadores da educação brasileira. Da mesma forma, encontramos facilmente muitos recursos tecnológicos que prometem trazer as escolas para o século XXI: corretores de redação, plataformas adaptativas, e as inteligências artificiais, que prometem analisar cada estudante e oferecer o melhor caminho para os indivíduos, prevendo as oportunidades para alunos no ensino superior.

Essa evolução é necessária e há muito é esperada, porém, encontra, nas fileiras escolares, uma dificuldade adicional para sua efetiva adoção: a precariedade da formação docente brasileira. O ENADE, principal balizador da qualidade dos novos formados, traz números preocupantes: dos estudantes de pedagogia e licenciatura avaliados em 2017, ano do último teste aplicado a estes profissionais, mais de 60% tiveram notas ruim ou péssima, e apenas 1% nota excelente (fonte: https://bit.ly/37Onvt1); um alerta que não pode ser ignorado pelas escolas.

Partindo-se da premissa de que as novas ferramentas tecnológicas não abdicam da figura do professor como mediador dentro da sala de aula, é possível afirmar que um profissional com formação deficiente, munido dos mais modernos recursos disponíveis, não será capaz de ministrar aulas melhores. Tal qual o engenheiro que não sabe fazer cálculos corretamente, e não consegue se beneficiar totalmente de ferramentas de CAD, o professor com formação precária não conseguirá elaborar as melhores trilhas de aprendizado para os seus alunos, independentemente dos recursos disponíveis.

Qual a solução para essa questão? Grandes grupos educacionais, fundações e alguns governos vêm apresentando alternativas para a formação docente continuada, colocando à disposição dos professores plataformas com cursos complementares e contato com metodologias de ensino eficazes, amplamente testadas, além de trabalharem aspectos técnicos de cada disciplina. 

Você é professor e não sabe onde iniciar sua pesquisa? Procure o núcleo de educação do município onde trabalha, bata à porta de escolas particulares, solicite uma conversa com coordenadores e diretores e pergunte, diretamente, o que estas organizações valorizam em seus profissionais e se elas possuem dicas de ferramentas para atualização. Garanto que muitos profissionais se sentirão honrados em poder ajudar colegas de profissão.

Alternativas de formação não faltam: de portais eletrônicos passando por encontros de professores, pelos quais os mais experientes passam seu conhecimento para os mais jovens. As escolas não podem se furtar de oferecer alternativas e de cobrar que seus professores estudem e desenvolvam suas habilidades docentes. Da mesma forma, um bom profissional não pode deixar o seu próprio desenvolvimento de lado, e deve procurar trabalhar em instituições que apoiem e valorizem professores que gostam de estudar. 

As escolas que entendem o poder da formação docente oferecem aos seus professores o acesso a várias formas de se atualizar, de aprender mais, o que acaba retornando em benefício dos estudantes, que tendem a apresentar resultados melhores, e do próprio professor, que se torna um profissional adequado às demandas dos tempos atuais. Assim, todos se beneficiam, e a comunidade onde a escola está inserida cresce como um todo. Um mundo em constante evolução demanda profissionais e organizações em contínua atualização. Sejamos nós, escola, embaixadores da evolução contínua.

*Celso Hartmann é diretor executivo dos colégios do Grupo Positivo.

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