Cada vez mais os consumidores estão preocupados em comprar produtos com menor impacto ecológico. Uma pesquisa realizada pela McKinsey mostrou que 85% dos brasileiros sentem-se melhor utilizando produtos sustentáveis. Essa preocupação vem do fato de que precisamos de 1,7 planeta para sustentar o nosso padrão de consumo, de acordo com a Global Footprint Network. A cada ano, o mesmo levantamento mostrou que o consumo de recursos naturais e o impacto da produção aumentam.
Em 2021, a Pegada Ecológica Total do planeta aumentou 6.6% em relação ao ano anterior, enquanto a capacidade da Terra de se recuperar apenas 0,3%. A longo prazo, se nenhuma medida for tomada, teremos recursos escassos.
Leonardo Lima, fundador e CEO da Dreams and Purpose Consulting, afirma que diante da situação que vivemos e com uma população crescente, que chegará a 10 bilhões de habitantes em 2100, a forma que estamos utilizando os recursos do planeta passou a ser crítica e necessita ser repensada.
“Torna-se fundamental cada empresa entender seus impactos positivos e também os negativos. Uma vez mapeados os aspectos negativos da geração de valor de cada empresa, urge buscar formas de mitigá-los ou mesmo eliminá-los. Não será possível ter empresas que desconhecem e não atuem sobre suas externalidades negativas. Elas definirão não somente a sobrevivência da empresa, mas também definirão em que planeta viveremos no futuro’, alerta.
Solução consciente
No Paraná, a startup curitibana boomee começou a sua operação com o Projeto boomee Carbono Zero. Em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), desenvolveu uma metodologia e MVP da ferramenta de medição do CO2 economizado em uma operação de ressarcimento de produtos.
Vanildo Oliveira, CEO e fundador da startup, conta que com a metodologia exclusiva calcula uma estimativa da redução da pegada de carbono, para cada ressarcimento com boomee, em contraposição ao modelo tradicional de ressarcimento.
“O modelo projeta, a partir do trajeto CEP de origem da amostra a ser enviada como ressarcimento e o CEP da consumidora, a distância e os possíveis modais de transporte, calculando a projeção de CO2 que seria gerado. Considerando todos os ressarcimentos com boomee, estima-se a economia de aproximadamente 2.680 kg de CO2”, avalia.
Empresas sustentáveis no radar do consumidor
Leonardo Lima, da Dreams and Purpose Consulting, ressalta que não é só preciso que as empresas façam o seu papel, mas também o consumidor, que apesar de estar mostrando um desejo de consumo mais consciente, nem sempre é algo que se traduz no dia a dia.
“Isso faz com que tenhamos um gap muito importante no que chamo de desejo do consumidor e sua atuação na cadeia de valor de produtos e serviços. Esse gap faz com que empresas ou organizações que claramente já trabalham com padrões de operação ajustados às necessidades do futuro não tenham o benefício de serem escolhidas no momento de consumo”.
Para ele, é importante fazermos a seguinte reflexão: “Quando você sai de casa ou compra pela internet, você tem a lista das empresas que são consideradas sustentáveis para poder prestigiá-las na sua decisão de compra?”. Leonardo acredita que enquanto não tivermos essa resposta na ponta da língua, teremos um abismo entre o que as pesquisas com consumidores nos mostram e a dura realidade que vivemos.
A proposta boomee Carbono Zero
Imagine que a consumidora Maria, moradora em Manaus (AM), comprou um pacote de macarrão de uma marca que ela conhece e confia. Ao abrir o pacote, percebeu que o produto estava fora dos padrões. Prontamente, ela ligou para o SAC da empresa, que tem sede em São Paulo (SP), e o processo de ressarcimento foi autorizado.
Um prestador de serviço foi acionado, o produto foi embalado, um veículo seguiu com o pacote de macarrão até o aeroporto de Guarulhos, que foi despachado para o aeroporto de Manaus.
Na capital do Amazonas, outro parceiro retirou o pacote e o levou de automóvel até a residência da consumidora, completando uma jornada de mais de 3 mil quilômetros. Todo o percurso gerou cerca de 1,4kg de CO2. Com o projeto Carbono Zero, boomee faz um ressarcimento que mitiga a pegada de carbono.
Processo de troca digital
Passo 1: O consumidor entra em contato com o call center da marca e registra a sua reclamação de produto, que pela sua percepção não está adequado para consumo;
Passo 2: boomee recebe da marca as informações sobre o atendimento e inicia o processo de ressarcimento.
Passo 3:O consumidor recebe um SMS com as informações para que ele faça a troca por meio de um link. Não é preciso baixar nenhum app;
Passo 4: O consumidor faz a compra em qualquer comércio quando quiser, pode ser na sua próxima compra ou pedido por aplicativo;
Passo 5: Com o cupom fiscal, o consumidor entra no link e lê, através da câmera do celular, o QR code da nota fiscal;
Passo 6:: boomee valida o produto, o total de unidades e o valor pago, fazendo o depósito do valor na conta definida pelo consumidor, em qualquer instituição financeira, inclusive as digitais.
Passo 7: ao final do processo, a empresa recebe a pegada de carbono que deixou de emitir com o ressarcimento.
Benefícios da troca digital
No modelo tradicional, o consumidor precisa esperar que o produto seja movimentado de um depósito, passe por um caminhão e um entregador até chegar a sua casa.
“Eliminamos problemas complexos de logística, reduzimos a pegada de carbono e incentivamos o comércio local. Desta forma, vamos obtendo dados do consumidor que fazem com que entendamos os seus hábitos de consumo e possamos oferecer uma melhor experiência”, considera Vanildo.
O projeto que começou em Curitiba é inovador e um exemplo a ser seguido, pois ajuda a diminuir o impacto das operações. No entanto, é uma ação pequena diante de tudo que ainda precisa ser modificado, a começar pelo consumidor, que precisa ter um olhar focado e uma decisão inteligente diante das escolhas de compra.
O consumidor pode também priorizar a compra de produtos de empresas sustentáveis em listas públicas como a Bolsa de Valores (https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/indices/indices-de-sustentabilidade/indice-de-sustentabilidade-empresarial-ise.htm) e a CDP (https://la-pt.cdp.net/).