A coordenadora do curso de Psicologia diz que a empatia pode ser o termômetro para saber se um comentário pode impactar de forma negativa ou não
Mexerico, tititi ou o ‘fuxico’, do próprio linguajar cotidiano, são sinônimos do ato de fofocar. Esse hábito, característico em várias culturas, consiste em compartilhar uma informação privada de alguém, com uma ou mais pessoas, pelo simples prazer de tornar público algo que deveria ser particular. No entanto, ainda que visto como corriqueiro e inofensivo, a fofoca mal-intencionada esclarece os impactos prejudiciais de indelicadezas sociais e o comportamento relacionado ao amadurecimento do indivíduo, o que pode resultar em prejuízos aos envolvidos, inclusive, de caráter psicológico.
Segundo a coordenadora do curso de Psicologia da Pitágoras Unopar, Giuliana Temple, o termo não é abordado na área de estudo de forma direta, mas é percebido diversas vezes nas relações sociais, agravando o desempenho na vida social. “A fofoca pode originar diversos problemas, tanto no âmbito profissional, familiar e nas relações sociais. O próprio bullying físico e verbal, pode desenvolver um sério problema, ao surgir de uma fofoca e de rumores, e culminar no ato, por exemplo”, afirma a professora.
A especialista explica que existe diferença entre a fofoca maliciosa, quando há a intenção de causar desconforto ou dor no outro, e aquela em que não há malícia percebida, podendo ser considerada como um desabafo ou uma maneira de estreitar suas relações, sem intenção de machucar ninguém com isso. No entanto, alerta que, mesmo no segundo caso, é preciso cuidado para não ferir os envolvidos. “Muitas vezes as pessoas não percebem que há problemas no que falam, é preciso pensar em como o outro vai receber a informação e como vai reagir ao saber que comentam sobre si. Às vezes, uma informação que parece ser sem importância, pode ser motivo de desconforto emocional e despertar transtornos psicológicos, como a ansiedade e a depressão”, diz.
Ainda que a reação seja aparentemente positiva, isso pode não corresponder ao sentimento real, ou seja, não é porque a pessoa atingida riu, ou não esboçou estar com raiva, que ela não foi afetada de fato. “Quando alguém sofre bullying, pode até dar uma risadinha no momento do ato, ou dos comentários que surgem após isso, mas, geralmente, essa atitude é uma tentativa esperançosa de que, assim, a situação não se repita. Nem sempre o sorriso indica que está tudo bem”, explica.
A professora pontua sobre como uma fofoca pode ser prejudicial em casos de depressão e de suicídio. “Pode não ser óbvio para algumas pessoas, mas imagine um caso em que alguém tentou cometer um atentado contra a própria vida, mas não o fez. Quando o indivíduo retorna ao convívio social e se depara com os comentários sobre o fato, pode sim ter um impacto negativo. Muito melhor do que a fofoca, é oferecer o acolhimento e a escuta sem julgamento”, orienta.
Por via das dúvidas, para evitar um desconforto ou situação pior, ainda que sem intensão, a professora indica a prática do senso de humanidade e a empatia. “Seja quando falamos de bullying, depressão, ansiedade ou qualquer outro transtorno psicológico que possa ser atravessado pela fofoca, de alguma forma, o mais indicado é não pensarmos de forma individual, mas coletiva, podendo então nos colocar no lugar do outro” finaliza.
Rosimeire Veronezzi