Acedriana Vicente Vogel*
Educação é processo – pelo menos nisso, temos um consenso. Para que possamos ter alunos protagonistas no Ensino Médio, por exemplo, temos um longo trabalho desde a Educação Infantil. Sendo assim, para qualquer avanço ou mudança de rumo que se pretenda empreender no futuro da escola, dependemos de hipóteses coerentes, que amparem decisões estratégicas para operar o presente.
Isso passa necessariamente pela construção de cenários, imaginando futuros possíveis sem perder de vista o contexto disruptivo que vivemos. Nesse ponto, o que chama atenção é o fato de não termos conseguido imaginar uma boa parte dos problemas que encontramos em nossas escolas no retorno ao presencial, após a reclusão pandêmica. Ou seja, temos muita dificuldade de antever. Pensamos, inicialmente, que haveria muitos problemas relacionados aos déficits de aprendizagem. Para isso, foram desenhadas avaliações diagnósticas e planos paralelos para recomposição das aprendizagens essenciais, ainda em curso. Mas esse foi o máximo que conseguimos predizer. Vale reconhecer que esse movimento é necessário e terá desdobramentos para os próximos dois anos, minimamente. Entretanto, isso não é suficiente.
O que encontramos para além das questões das aprendizagens escolares? Para sermos honestos ainda estamos mapeando. Encontramos alunos inquietos em sala de aula, impacientes, desanimados em relação ao que está sendo proposto, com sobrepeso, ansiedade, uma crescente de laudos, além de comportamentos agressivos, quase beirando a violência. Isso é totalmente novo? É certo que não. Já tínhamos indícios suficientes antes da pandemia de que os nossos alunos aprendiam menos do que a maior parte do mundo, de que o desinteresse dos estudantes estava crescente, de que a saúde mental estava comprometida, de que precisávamos compreender melhor as demandas da educação inclusiva, de que os processos avaliativos estavam centrados em conteúdos e não em habilidades, de que o tempo escolar não era suficiente, de que a tecnologia poderia contribuir de forma mais efetiva com o trabalho de sala de aula, de que a formação dos professores era frágil para dar conta das necessidades dos estudantes, de que o currículo precisava de revisão e enxugamento e que a família estava muito distante da escola.
A pandemia acelera tudo, inclusive o que não está bom! Nossos dados mostram de maneira contundente a necessidade de dar uma atenção especial a todas essas frentes. Não podemos naturalizar e nem negar os fatos. Nenhum desses movimentos produz soluções. Da mesma forma, precisaremos de outras áreas e setores para nos ajudar nessa construção de cenários e soluções.
Nesse sentido, a Unesco disponibilizou o Relatório da Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação, intitulado “Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação”. O documento considera as contribuições de mais de um milhão de pessoas por todo o mundo. Suas páginas abrem o diálogo sobre a centralidade da educação em um mundo de pandemias, guerras, transformações digitais disruptivas, além do risco à democracia. Também enfatizam a necessidade de revisão dos currículos e das metodologias. É um documento cheio de esperança em um futuro pacífico, sustentável e de união – desde que possamos contar com as nossas crianças e jovens engajados na causa humana e na sua relação com o planeta –, por meio de um trabalho que promova a criatividade, a criticidade, a colaboração e a compaixão, alterando os estilos de vida e apostando em uma economia sustentável. Como bem posicionou o relatório, nenhuma tendência é destino.
*Acedriana Vicente Vogel é diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.