Falta de peças automobilísticas e semicondutores fazem produção de veículos cair e mobilizam concessionárias para investimento em digitalização
A produção de veículos caiu 5% nos primeiros seis meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2021. A baixa, divulgada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea), é resultado da crise global que ronda o mercado de peças automobilísticas e semicondutores desde o início da pandemia de covid-19. Essa escassez de carros novos faz concessionárias repensarem sua estrutura e investirem em tecnologias que permitam continuar a operar sem um grande estoque.
“A saída é investir na compra online. Se houvesse uma retrospectiva da pandemia, a falta de semicondutores teria espaço garantido como ponto-chave na transformação da indústria automotiva”, analisa Marcos Pavesi, head comercial da DealerSites, que atua na digitalização do mercado automotivo. Segundo o especialista, a pandemia trouxe a obrigação de fazer uma evolução digital mais rápida e com o consumidor sendo colocado em primeiro lugar.
Digitalização segurando vendas
Desde 2020, mais de 10 milhões de veículos deixaram de ser produzidos no mundo. No Brasil, foram mais de 300 mil. Embora a produção das montadoras continue prejudicada pela irregularidade no abastecimento de componentes eletrônicos, as vendas de veículos novos tiveram uma guinada de 27,5% em maio. De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), foram mais de 187 mil unidades vendidas na passagem de abril para maio, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus.
“Ainda pairam muitas dúvidas sobre qual será o novo normal para as vendas de carros, mas a única certeza é que será muito digital”, afirma Pavesi. “As empresas olham para um mercado que é gigantesco e ainda tem um terreno fértil para a digitalização. Esse movimento prova que, mesmo com a reabertura das concessionárias e a retomada do mercado, essa tendência online continua e deve permanecer assim”, analisa.
Comprar online é tendência
O conceito de comprar e vender carro mudou muito nas últimas décadas. Se antes as concessionárias precisavam dispor de vários modelos de veículos, hoje, os vendedores vêem na internet uma forma de driblar a concorrência. Com o catálogo on-line, o consumidor não precisa mais bater perna e pode comprar seu próximo carro de qualquer lugar. Basta entrar no site, escolher o automóvel, preencher as formas de pagamento e recebê-lo em casa, sem qualquer contato humano.
Mesmo existindo há muito tempo, as compras on-line viveram um crescimento significativo no setor automotivo nos últimos anos. Essa tendência é motivada pelo trabalho de startups e empresas de tecnologia que trazem soluções conectadas, como aplicativos, sites responsivos, canais de atendimento ou assistentes virtuais. “Se os serviços digitais para relacionamento ou para consumo eram vistos como acessórios em diversos setores econômicos, agora, se tornaram estratégia principal de negócio em praticamente todas as empresas, inclusive nas que trabalham com automóveis”, esclarece Pavesi.
Durante a pandemia, as plataformas digitais viralizaram, seguraram as operações de diversos estabelecimentos e se tornaram modelo de negócio até para o mercado automotivo. É o que aponta o Índice de Transformação Digital do Setor Automotivo (ICTd), feito pelo CESAR, centro de inovação sediado em Recife (PE), em parceria com a Automotive Business. O segmento apresentou 66,15% de maturidade em sua digitalização durante 2021, um resultado oito pontos percentuais maior na comparação com 2019.
No novo cenário, com produção de carros novos em queda e compras on-line mostrando tendência de crescimento, muitas concessionárias têm buscado alternativas para continuar a vender, mesmo com um volume reduzido de carros na loja física. Para o head comercial da DealerSites, a saída é migrar a jornada do cliente para o digital, trazendo facilidades e incremento na experiência do comprador. Outro caminho é o investimento em lojas temporárias, conhecidas como pop-up stores. “É um modelo bastante utilizado ao redor do mundo, em função do seu conceito.Levar o senso de urgência e de exclusividade ao consumidor pode ter um impacto muito positivo nos objetivos da marca”, diz.