Precisamos falar sobre motivação socioemocional nas escolas

Luiz Fernando Schibelbain*

 

Engajamento. As redes sociais tornaram essa palavra cada vez mais presente no cotidiano de todos nós. É preciso conseguir engajamento, tornar as pessoas mais engajadas, engajar-se nas pautas adequadas, engajar, engajar, engajar. Afinal, ninguém entrega seu melhor se não estiver devidamente engajado. Por que, então, não falamos sobre a importância do engajamento em atividades práticas do dia a dia, como o trabalho e também os estudos?

Vivemos, hoje, uma epidemia de transtornos mentais que acometem estudantes, do Ensino Fundamental ao Pós-Doutorado. Diversos estudos têm mostrado, ao longo dos últimos anos, a relação direta entre a pressão por resultados e o adoecimento emocional de alunos no Brasil e no mundo. Evitar esse cenário é um desafio para professores de todas as áreas e níveis educacionais. E a resposta pode estar justamente no engajamento.

Pesquisadores estão interessados em aprender como a motivação socioemocional está ligada ao bem-estar dos alunos e à adequação saudável em suas vidas. Em um estudo recém-publicado, intitulado “Psicologia Social da Educação”, a autora Rebecca J. Collie examina a motivação pró-social, que é um tipo de motivação socioemocional relacionada a ser atencioso com os outros. Ela está diretamente ligada à inclinação dos indivíduos para agir de forma pró-social – como ajudar alguém, compartilhar ou ser gentil com os outros.

A pesquisa, composta por estudantes do 7º ano do Fundamental ao Ensino Médio e por seus pais/responsáveis, observou como as auto crenças socioemocionais dos alunos predizem sua motivação pró-social e, por sua vez, como a motivação pró-social está associada aos seus resultados comportamentais e de bem-estar.

Analisando a motivação pró-social autônoma – aquela que não precisa ser estimulada, mas existe porque o estudante se sente bem sendo útil ou porque quer que o favor retorne de alguma forma – e a motivação pró-social controlada – que envolve ser motivado a agir pró-socialmente -, Rebecca observou que alunos com autocrenças emocionais mais intensas relatam maior motivação pró-social autônoma e menor motivação controlada. Além disso, alunos que se sentiam mais conectados com seus professores também relataram maior motivação autônoma. 

Esses achados indicam que os alunos que se sentem mais confiantes sobre sua capacidade de interagir efetivamente com os outros e que têm relações interpessoais mais fortes com professores nas escolas são mais propensos a se sentir motivados pró-socialmente por razões de prazer, satisfação e valorização desses aspectos de forma pessoal.

Na outra ponta, estudantes que relataram maior motivação autônoma apresentaram maior comportamento pró-social e mais bem-estar emocional. Ou seja, o estudo sugere que, quanto mais engajado de forma autônoma estiver o estudante, menos problemas emocionais ele enfrentará.

Daí a importância cada vez mais significativa de desenvolver programas de aprendizagem social e emocional. Outras pesquisas mostram, por exemplo, que esses programas podem ajudar a aumentar o senso de competência socioemocional dos alunos e sua relação com colegas e professores. Esses programas devem trazer noções sobre por que é importante ser atencioso com as outras pessoas, incentivar o envolvimento dos estudantes na criação de regras, apresentar objetivos e expectativas para as interações socioemocionais com os colegas e oferecer feedbacks regulares.

Se o sofrimento psíquico na vida escolar é um dos maiores desafios deste século, engajar nossos jovens em causas que vão além dos interesses individuais pode ser uma boa forma de conquistar ambientes educacionais mais saudáveis e agradáveis para todos.

*Luiz Fernando Schibelbain é gerente de conteúdo no PES English.

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