Com o diagnóstico precoce, a criança com autismo pode melhorar habilidades sociais e de comunicação e adquirir mais independência ao longo da vida
De acordo com a ONU (Organização Mundial da Saúde), mais de 70 milhões de pessoas em todo o mundo possuem autismo, condição que afeta a maneira como esses indivíduos se comunicam e interagem. A organização afirma também que uma a cada 160 crianças apresentam autismo ou TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Segundo a Dra. Fabiele Russo, neurocientista e fundadora do NeuroConecta, considerada como a maior plataforma sobre TEA do Brasil, que defende o diagnóstico precoce do autismo para ajudar a melhorar as habilidades sociais e de comunicação da criança. “A pessoa começa a realizar as intervenções de forma precoce e é estimulada a se desenvolver”, comenta.
O diagnóstico precoce será um dos principais temas discutidos durante o 6o CONOTEA – Congresso Online do Transtorno do Espectro Austista, realizado durante os dias 12 a 16 de setembro e contará com mais de 30 palestrantes, entre médicos.
O TEA costuma ser identificado por especialista quando a criança tem entre 1 ano e meio e 3 anos, mas os pais podem detectar os primeiros sinais do autismo a partir dos 8 meses de vida, dependendo do grau do transtorno. “Intervir precocemente em autistas ajuda no desenvolvimento da pessoa e ela poderá adquirir novas habilidades que darão mais independência ao longo da vida”, continua a neurocientista
Intervenção precoce e melhora de habilidades
O cérebro humano possui uma habilidade chamada neuroplasticidade, que significa organizar e modificar sua estrutura em resposta aos estímulos do meio ambiente externo. Com isso, temos a evolução do potencial dos neurônios responsáveis por atuar em atividades de linguagem, motoras e sociais.
“A neuroplasticidade ocorre durante toda nossa vida, mas é mais intensa no início da infância e é por isso que a intervenção precoce é tão importante”, explica a neurocientista. Isso significa que as pessoas que têm autismo têm a possibilidade de desenvolver e melhorar habilidades através de experiências vividas. “É por isso que a estimulação dos neurônios precocemente contribui para esse processo de reabilitação e otimização de resultados funcionais do cérebro de quem convive com o autismo”.
Quanto mais cedo a pessoa com TEA realiza práticas que estimulam o funcionamento do cérebro mais os neurônios podem ser treinados para superar limitações decorrentes do autismo.
Diagnóstico e sinais do autismo
Não existe nenhum exame que confirme o diagnóstico do TEA, o que significa que ele é feito de forma clínica, baseado em evidências científicas e conforme critérios estabelecidos por DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatística da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria) e pelo CID-11 (Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde).
“A análise normalmente é feita em uma entrevista com os pais da criança, além da avaliação observacional de comportamentos”, explica a especialista. Dependendo, a criança pode ser conduzida por uma equipe multidisciplinar de médicos, incluindo um pediatra, psicólogo, fonoaudiólogo, educador físico, terapeuta ocupacional e assistente social.
Vale ressaltar que, em alguns casos, é necessário realizar testes genéticos e rastreio para problemas médicos relacionados com o autismo, entre eles, síndromes genéticas.
Abaixo, a Dra. Fabiele Rocha elencou alguns sinais que podem ajudar no diagnóstico precoce, levando a criança para uma entrevista com um especialista em transtorno de espectro autista:
Comportamentos repetitivos
Um comportamento muito comum em pessoas que têm autismo é a estereotipia, que são movimentos repetitivos que a pessoa realiza, como por exemplo, se balançar para frente e para trás. “Isso acaba acontecendo sem nenhum motivo aparente e pode dificultar o convívio social”, explica a especialista.
As estereotipias causam estranheza e podem ser motivos de bullying por parte de outras pessoas, no entanto, são benéficas para os portadores do transtorno. “Esses movimentos repetitivos acontecem quando a pessoa está tentando se organizar por dentro e processar o que está sentindo, aliviando estresse e ansiedade e até mesmo fazendo parte de algo prazeroso”.
Resistências a mudanças
É comum que as pessoas com transtorno do espectro autista sejam resistentes a mudanças. “Isso inclui novos alimentos, mudanças de disposição de móveis, roupas e até mesmo brinquedos”, comenta a especialista. De acordo com a Dra. Fabiele, essas pessoas podem ficar apegadas por coisas específicas e até mesmo costumam fazer coisas repetidamente, como dito anteriormente sobre a estereotipia.
Fixação por objetos incomuns
Todos nós temos coisas sobre as quais gostamos muito, mas no caso dos autistas, isso acontece com uma intensidade muito grande. “Eles possuem uma fixação por objetos, personagens, entre outras coisas, e esse interesse vai mudando ao longo do tempo, mas as características permanecem”, comenta a especialista.
Essa fixação se chama hiperfoco e acaba virando uma obsessão, ao contrário de pessoas que não possuem TEA mas também gostam muito de determinadas coisas.
Sobre a NeuroConecta
A NeuroConecta é uma instituição que desde 2017 reúne e compartilha de forma acessível para todos, informações de alta qualidade e de fontes confiáveis sobre o Transtorno do Espectro do Autismo. O trabalho da NeuroConecta é baseado em três importantes pilares: Informar, Compartilhar e Conectar, a fim de contribuir para o melhor entendimento sobre autismo.