Depois de um período festivo e sombrio em seu último álbum “Carnavalha”, o cantor e compositor Pedro Ivo Frota usa o humor, a ironia e a dança como arma em seu quinto disco solo, “Semovente”. O lançamento do selo Cantores del Mundo explicita no título o seu segredo. É algo que não se deixa parar, com a resiliência que é viver à revelia.
“‘Semovente’ é aquilo que move por si só. E esse é um álbum que toca em questões fundamentais. Não foi fácil atravessar essa fase no Brasil pandêmico, partindo dessa perspectiva o disco busca uma dança possível. Para dançar é necessário esperança, caso contrário só nos resta sucumbir à realidade, mas esperançar não é para os fracos, é preciso entender o tamanho do nosso abismo”, resume Pedro Ivo Frota.
E o caminho que o artista encontrou foi a leveza, indo do bom humor contra a cena cultural em “Ex-citado” até sobre o milicianismo no poder e uma classe média rancorosa em “Caracu”. Inspirado pela lírica ácida e rica de Tom Zé e Itamar Assumpção, o álbum se apropria delas com participações especiais do americano Kai Killion na faixa “Moonlight” e de Taynã, vocalista da banda Fleeting Circus, na canção que dá nome ao disco.
O novo disco de Pedro Ivo Frota vem para somar a uma trajetória já prolífica. O compositor, pianista, arranjador e cantor, formado em música brasileira pela Unirio, tem quatro álbuns lançados: “Via Canção” (Tumdum 2007), “Leve o Porto” (Tumdum 2011) e “Monolito” (Biscoito Fino 2017), além do mais recente, “Carnavalha” (2021), este último sua estreia pelo selo Cantores del Mundo. Já foi gravado por diversos artistas da nova geração, como Aline Paes, Liz Rosa, Daíra, André Muato, Karla da Silva, Luiza Sales, Luiza Borges e Martina Marana. Se destacou na direção musical para teatro e ganhou o prêmio de melhor trilha sonora com o musical nordestino “Árvore dos Mamulengos” (Vital Santos).
No final de 2012, abriu shows de Zezé Motta. Compôs a trilha sonora do espetáculo circense da Unicirco Marcos Frota nos anos de 2014 e 2015. Foi integrante do grupo Entreveros com Thiago Thiago de Mello, Marcelo Fedrá, Renato Frazão, Diogo Sili) e com seu trabalho solo, excursionou por Nova York e se apresentou na Berklee College of Music.
Ao lado de nomes importantes da cena carioca como Rodrigo Ferreira, Yuri Villar, Antônio Neves, Bernardo Aguiar e André Siqueira, Pedro Ivo se valeu de inspirações da obra da americana Esperanza Spalding e do icônico álbum “Native Dancer”, que uniu Wayne Shorter e Milton Nascimento em 1975. Todo esse caldeirão sonoro formando uma base sólida para que a lírica do artista se movesse livre.
“O álbum aborda coisas sérias apesar do humor, sem abrir mão da sofisticação inerente à música pop que se preze, e muito menos da crítica à indiferença esnobe da ‘Nova MPB’ em tempos de boicote à democracia e ameaça nuclear”, conta ele, que vai do jazz ao pop passando pela MPB dançante oitentista.
“Semovente” está disponível em todas as plataformas de música.